terça-feira, 4 de setembro de 2007

e NOSSA cultura, como fica?

Resgate da cultura popular brasileira. Palavrinhas bonitas que juntas já se tornaram até uma “expressão”, uma bandeira que muitos levantam com tanta convicção. Certo, mas será que este famoso “resgate” chega mesmo a ser praticado e realmente funciona? Boa vontade até existe por parte de muitos, mas por outro lado, há também a ignorância e o descaso de outros. Parece que não percebem o quão é importante valorizar a cultura popular. Ah! Já sei, você deve estar pensando: “lá vem a velha conversa sobre a “valorização da cultura popular regional”! Acorda, isso já está tão manjado”. E eu respondo assim: é irônico como um tema que já é “tão manjado” e “velho” ainda não foi resolvido. Muito pelo contrário, é até um assunto ignorado. Todos podem até “saber” sobre a necessidade da preservação e valorização de nossa cultura popular regional, mas com certeza não entendem, não enxergam isso de verdade.

Os benefícios que o fortalecimento da cultura popular podem trazer a uma comunidade são muitos. Estou falando de desenvolvimento territorial, construção da cidadania, formação de consciências e valores. Um povo que tem sua cultura própria entranhada e viva em seu cotidiano é um povo forte que conhece realmente a sua capacidade e sabe aonde pode chegar. Imagine o quanto seríamos “vazios” e descaracterizados se não tivéssemos a nossa cultura popular. Imagine a falta que as lendas contadas por nossos avós, os nossos folguedos e tradições fariam para a construção de nossa história.

É por isso que temos a necessidade de nos conhecer, de encontrar nossas raízes, descobrir a nossa tão falada “identidade cultural”. E não vejo instrumento melhor para nos levar a isso do que a prática da cultura popular. Incentivar e fortificar essa prática também é motivar as pessoas e despertar nelas um sentido para viver. Talvez seja esse o motivo da negligência governamental diante das questões culturais em nosso país. Quanto menos cultura existir, mais alienação e vulnerabilidade haverá. É isso, a relação é bem simples.

Mas, ressalto que a nossa postura com relação à cultura popular não é culpa só dos órgãos governamentais ou coisa parecida. Cada um de nós se torna responsável por esta desatenção a partir do momento em que sentimos uma certa “vergonha” de nossas origens, nosso sotaque. Somos causadores do enfraquecimento de nossa cultura quando abrimos com tamanha receptividade a porta de nosso país para o homo gringo, e ainda dizemos sorrindo de ponta a ponta: Welcome to BraZil! E eles agradecem em seu idioma natal, claro! Afinal, para que aprender português se aqui todos fazem questão de falar o universal Inglês? Ora, brasileiro adora “inglesificar” tudo! “É tão bonito nome que tem muito y, w, apóstrofo, não é?!” Abro parênteses para um desabafo: nessas horas, tristemente chego a pensar que Raul Seixas estava certo em sua canção Aluga-se: “Tá tudo pronto, é só vir pegar. A solução é alugar o Brasil”. Mas não quero acreditar nisso, não. Por favor, não me faça enxergar que no nosso país gringo recebe tratamento melhor do que o próprio brasileiro. Fecho parênteses.

Somos “assassinos” de nossa cultura também quando, por ironia do destino, fazemos dos negros e índios, exatamente as principais matrizes de nossa raça e cultura, alguns dos grupos que mais sofrem preconceito no Brasil. Quanta ingratidão, não?

E nossa “culpa” não pára por aqui... atualmente, é comum ouvirmos muitas pessoas dizerem com todo orgulho e firmeza que são “cidadãs do mundo”, leia-se “globalizadas”, e defendem a “mistura cultural”, o intercâmbio e tudo o mais que envolva “troca” (o pior é que geralmente esta troca não é muita justa, sempre tem alguém que dá mais do que recebe). Tudo bem, nada contra isso. Só vejo esta “cidadania mundial” como algo preocupante a partir do instante em que ela causa detrimento à nossa cultura regional, à nossa identidade cultural. Não há nada de errado em conhecer ou gostar de outras culturas, porém, devemos privilegiar a nossa própria, aquela que faz parte de nossa história, nossa origem, aquela que nos concebeu como um povo. É esta que deve ser preservada e valorizada.

A luta continua...


FONTE: Overmundo
Por: Ana Júlia Cysne

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