segunda-feira, 23 de julho de 2007

Inscrições Prorrogadas [Mostra Arte Viva - Teia 2007]

As inscrições para a Mostra Arte Viva foram prorrogadas até o dia 31 de julho. A manifestação artística será realizada durante a TEIA 2007 – Tudo de Todos, o maior encontro da diversidade cultural no Brasil, que reunirá os Pontos de Cultura do Programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura, em Belo Horizonte (MG), entre os dias 7 e 11 de novembro. Aproximadamente 200 Pontos de Cultura já se inscreveram para a mostra.

As obras que participarão da Mostra Arte Viva serão escolhidas por uma comissão autônoma de curadoria, por meio de seleção pública. Além das artes visuais, da música, das artes cênicas, da literatura e do audiovisual, a mostra abrirá espaço para toda manifestação estética formal e cultural produzida pelos Pontos de Cultura.

Cada Ponto poderá inscrever até três trabalhos, em quaisquer modalidades (artes cênicas, artes visuais, cinema e vídeo, literatura e oralidade, manifestações das culturas populares, música e artes integradas), ou até mesmo em uma mesma área. Entretanto, apenas uma proposta artística poderá vir a ser selecionada.


FONTE: Ministério da Cultura

Jequitinhonha é palco de festival

Com diversas ações voltadas para a valorização dos grupos locais, têm início, hoje, na cidade de Joaíma, a 25ª edição do Festivale - Festival da Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha. Até o próximo dia 28, shows musicais, montagens teatrais, oficinas e debates vão movimentar a região. Entre as atrações confirmadas, figuram nomes como Marku Ribas, Pereira da Viola, Titane, Paulinho Pedra Azul e Tambolelê, que se apresentam no palco montado ao lado da rodoviária. Além dos shows, performances e esquetes teatrais acontecem durante toda a semana nas ruas e praças de Joaíma.

Neilton Lima, diretor de comunicação da Federação das Entidades Culturais e Artísticas do Jequitinhonha (Fecaj), entidade responsável pela organização do Festivale, a proposta é levar entretenimento e informação à população da região e, principalmente, criar mecanismos para uma melhor atuação dos grupos culturais em atividade no Vale do Jequitinhonha.

"Este ano resolvemos trabalhar em cima dos grupos ligados à cultura popular da região. Queremos dar visibilidade ao que é produzido por aqui, então vamos fazer uma minuciosa catalogação e apurar as demandas desses grupos. A proposta da Fecaj é pensar políticas para otimizar o trabalho deles. São artistas que normalmente não contam com nenhum tipo de apoio, e o que a gente quer é que eles tenham condições de levar adiante suas produções", diz.

Questão indígena
Ele ressalta que uma outra questão em foco nesta 25ª edição do Festivale diz respeito às comunidades indígenas da região. Entre os vários debates previstos para acontecer ao longo da semana, um deles prevê a participação de representantes das etnias Krenak, Patachó e Pankararu. "Também teremos rituais indígenas em praça pública, com direito a danças indígenas e comidas típicas", diz Lima. Com relação às atrações que compõem a programação, ele aponta que foram convidados artistas que fizeram parte da história do Festivale nesses 25 anos.

"Chamamos nomes que já haviam participado em edições anteriores. Alguns deles, mesmo sendo aqui da região, estavam há muito tempo sem se apresentar nas cidades do Vale. Trata-se de reviver os 25 anos de história do festival", diz, acrescentando que a expectativa para o evento é muito grande e que Joaíma deve receber visitantes de todo Brasil e do exterior. Ele avalia que contribuição do Festivale à região no decorrer de sua história se reflete no peso que a cultura do Vale do Jequitinhonha tem hoje no Estado.

"Por todas as cidades onde esse evento passa, ele deixa uma marca, até no que diz respeito ao resgate das tradições. O Festivale reaviva a cultura nas comunidades. As folias de reis, por exemplo, passaram a ser muito mais valorizadas, e o que ocorre é mesmo um renascimento da cultura. As oficinas que são ministradas também deixam marcas muito importantes nos municípios, acendem uma centelha que, mesmo depois do Festivale acaba, faz a produção cultural florescer e seguir mais forte", ressalta.

Este ano serão oferecidas oficinas de teatro, dança afro, cerâmica, confecção de tambores, técnica vocal, percussão, origami, clown, artesanato em tabôa e cipó e até organização jurídica de entidades culturais, o que se insere na proposta de dotar grupos e entidades locais de instrumentação para caminhar com as próprias pernas.


FONTE: Daniel Barbosa para - O Tempo

Dentro do mais puro breu

É de barbárie e violência que o Grupo Corpo fala em sua nova criação, que estréia no dia 1.º, com música de Lenine e fortes doses de hip-hop


A coisa ficou preta. É de violência e barbárie que o Grupo Corpo trata em Breu, a nova criação, que estréia a sua já tradicional temporada paulistana de duas semanas no Teatro Alfa no dia 1º, onde se apresenta até dia 12. Na sua sede, a companhia mineira corre com os preparativos, em meio à celebração do honroso convite que recebeu para ser a abertura de gala da temporada 2008 do BAM, em Nova York, onde dançará de 25 a 28 de março.

Breu tem uma trilha originalmente composta por Lenine, coreografia de Rodrigo Pederneiras, figurinos de Freusa Zechmeister e iluminação e cenografia de Paulo Pederneiras. A inteligente logotipia escolhida para a palavra “breu”, uma obra em si mesma, criação de Paulo Pederneiras e Guilherme Seara, já indica do que se trata: é um breu escrito com pó branco, com os rastros das fileirinhas expostos sobre um fundo escuro. As ambivalências aí expostas (nas trocas entre o claro e o escuro, entre as retas das carreirinhas e os desenhos dos volumes do pó) abrem as portas para as outras, que costuram a peça.

As malhas partem o corpo em frente e costas. Na frente, grafismos que produzem aquele embaralhamento perceptivo da op art, desenhados por Freusa Zechmeister. Nas costas, um preto brilhante “para mimetizá-los ao cenário”, explica ela, que completa: “Folheando um livro, encontrei a produção de David Hockney para The Rake´s Progress, de Stravinsky, e naquele momento descobri como seria o meu figurino. Mesmo que ninguém veja a ligação, ele vem de lá.”

O cenário inverte a função do preto da famosa caixa preta do teatro. “Aquele preto é para ser neutro, para não contar, e aqui, ele é a ênfase”, diz Paulo Pederneiras, também diretor da companhia. Serão cerca de 1.800 placas pretas brilhantes e bisotadas de 40 cm X 40 cm, azulejando toda a caixa preta e um piso com um linóleo de cor e brilho iguais. Nesse ambiente, os bailarinos se tornam uma verdadeira partitura gráfica.

A coreografia de Rodrigo Pederneiras vai causar estranheza a quem está habituado com as suas criações. A começar pela composição de Lenine. “Escolhi o Lenine porque ele tem uma música com assinatura, muito urbana e contemporânea, mas com o interior de Pernambuco ali presente. Adoro aquela batida de violão percussiva dele. Mas fiquei fã mesmo foi quando começamos a trabalhar, quando a pessoa se somou à qualidade da música que ele faz.”

Vem uma melodia, parece que ela vai dar um descanso, daí um trompete (de Cláudio Faria) começa a brigar com um trombone (de Bocato). Vem o frevo, mas ele nunca aparece como frevo. Está e não está, e no lugar da caixa do frevo, ouve-se a bateria de Iggor Cavalera, ex-Sepultura. Sem letra, a trilha foi produzida pelo próprio Lenine, em parceria com o gritarrista Jr. Tostoi, com quem divide também os samples, as edições e a programação.

As misturas que estão na música rebatem nas misturas do figurino e nas novas misturas que apontaram na gramática que Rodrigo Pederneiras vem desenvolvendo. “Aqui, quis tudo muito cru, sem o tipo de acabamento que nos caracteriza. Aqui, o que conta é a intenção, o modo como a coisa é apresentada pelo bailarino. Não estou preocupado se todas as cabeças balançam iguaizinhas, mas como cada qual se põe em movimento”, conta ele.

Mudou o jeito de dançar, e também o material dançado. Corpos-compasso se recurvam sobre si mesmos, desenhando no chão a circularidade sem saída de Breu, que começa pelo seu fim. Pernas fálicas cortam essa circularidade, atuando como ignições de deslocamentos. Quase todo o tempo no chão, os corpos se empurram, se apóiam e saqueiam energia uns dos outros. A presença do hip hop está mais intensa, mas algo do balé também irrompe.

Segundo Macau, assistente de Rodrigo Pederneiras, foram quatro professores distintos intercalando com Bettina Belluomo, a maître da companhia, nos últimos meses: o russo Youzef Raoukout, Manoel Francisco, do Municipal do Rio, Fátima Cerqueira, mineira que mora e trabalha na Dinamarca, e Liliane Benevento, de SP. “Há muitos anos não passamos 8 meses em BH durante um processo de criação. Dessa vez, só o interrompemos para a turnê por seis cidades mineiras que acabamos de realizar, e isso fez uma diferença no processo de montagem de Breu.”

A desolação está lá, desde a primeira cena, a dos corpos-paisagem-devastada, sobre os quais sopra o vento e a respiração/cheirada. O ambiente escuro, puro breu, lembra a frieza facilmente associável a uma sala de tortura. Ao longo dos 40 minutos que se seguem, esses corpos terão dificuldade de escapar do chão, das quedas, dos enfrentamentos. Muitas vezes, vão precisar de sustentação e apoio, aqui e ali, como quem não se agüenta mais.

“É muito raro, é raríssimo sentar, assistir e gostar de algo meu. E de Breu, eu gosto”, confidencia Rodrigo. Admite que há algo diferente aparecendo no seu processo de inventar coreografias, que ficou mais bruto e mais econômico, apontando para outro tipo de interesse. E sorri quando me ouve dizer que esse é o primeiro balé político nos 32 anos de história do Grupo Corpo.

TURNÊ 2007
Mantido pelo dinheiro público via Lei Rouanet da Petrobrás, em 2006, o Grupo Corpo dançou 94 espetáculos, dos quais 62 ocorreram fora do Brasil. Com a vasta experiência em se apresentar em teatros, aqui e no exterior, Paulo Pederneiras não vê muita transformação positiva acontecendo nos teatros brasileiros. “Aqui se constrói, mas não se conserva. E se constrói muito mal, imaginando que o que conta é apenas colocar o equipamento de último tipo que, na maior parte das vezes, não atende ao que se precisa, de fato. Por conta disso, para poder apresentar-se com o acabamento necessário, o Corpo viaja com todo o seu equipamento, com exceção do Teatro Alfa, em São Paulo, que é um primor técnico.”

Em São Paulo, Breu será apresentado com uma das obras que a cia. não dança desde 1999, Sete ou Oito Peças para Um Balé, com trilha de Philip Glass e do grupo mineiro Uakti. De São Paulo, o Grupo Corpo segue para o Theatro Municipal do Rio (16 a 19 de agosto), o Teatro Nacional, de Brasília (30 de agosto a 2 de setembro), o Palácio das Artes, em Belo Horizonte (6 a 10 de setembro), depois Palma de Mallorca, na Espanha (29 de setembro), Théâtre Champs-Elysées, em Paris (3 a 7 de outubro), uma turnê por três cidades francesas entre 10 e 16 de outubro e, em seguida, a volta ao País. No Brasil, dançará ainda no Teatro Guaíra, em Curitiba (20 e 21 de novembro), no Teatro do Sesi, em Porto Alegre (24 e 25 de novembro). A turnê 2007 se encerra em Buenos Aires, no Teatro Opera (29 de novembro a 2 de dezembro).

Na Europa, Breu será mostrado com Onqotô (2005): no sul do Brasil e na Argentina, acompanhado por Lecuona (2004).


FONTE: Helena Katz para - O Estado de São Paulo