terça-feira, 18 de setembro de 2007

Comentários do dia

Amigos (as) leitores (as),

Na edição de hoje destaque para Festival USIMINAS que começou ontem em Belo Horizonte e deve chegar a Ipatinga no próximo mês, e para a abertura do Programa Oi de Patrocínios Culturais para 2008.

A Fundação Clóvis Salgado (Palácio das Artes) realiza em Belo Horizonte o I Fórum de Dança entre os dias 21 e 23 naquela cidade, vale a pena dar uma olhada na programação.

Vale ler a matéria “O Saci e o Eucalipto” .

A todos uma boa leitura.

Festival leva atrações gratuitas a praças e teatros da capital

De hoje até o próximo dia 22, Belo Horizonte sedia o Usiminas Festival, que vai oferecer atrações gratuitas na Praça da Liberdade e em outros espaços da capital mineira. A abertura, hoje, inclui também o cinema, com sessões com entrada franca no Usiminas Belas Artes (Rua Gonçalves Dias, 1.581). Às 20 horas, no Espaço Cultural Ambiente (Rua Grão Pará, 185, Santa Efigênia), haverá apresentação de «Amor Fati», que também terá sessões amanhã e dia 19, sempre às 20 horas. O espetáculo de dança procura recriar o conflitante universo apresentado por Nietzche por meio da fórmula do amor fati: para atravessar a grande prova do eterno retorno, deve-se não apenas aceitar integralmente o destino, mas amá-lo e desejá-lo infinitamente. Em cena, a ex-bailarina do Grupo Corpo, Jacqueline Gimenes, e o ator Fabio Mazzoni, que também assina a direção.

Também hoje, no mesmo horário, mas no coreto da Praça da Liberdade, o Coral Usiminas apresenta «A Beleza da Música Coral». No Teatro da Cidade (Rua da Bahia, 1.341, Centro), hoje, às 20h30, haverá apresentação gratuita da comédia «Banheiro Feminino». Já no palco Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3.613, Horto), o Usiminas Festival apresenta, às 21 horas, «Os Três Patéticos», com o Grupo Trama (Teatro).

Amanhã, além de «Amor Fati», a programação inclui apresentação da Hibridus Cia. de Dança (às 17 horas, na Praça 7), do Grupo de Dança Camaleão (às 20 horas, no Museu de Artes e Ofícios, à Praça Rui Barbosa, s/nº, Centro) e da Cia. de Dança Balé de Rua (às 20 horas, na Praça da Liberdade).

Este é o quarto ano do evento, que até o ano passada se chamava Passarela da Cultura. Nesta edição, a expectativa é reunir um público superior a 20 mil pessoas até o encerramento. Uma das atrações é a estréia, no dia 20, às 20h30, na Praça da Liberdade, de «Ês Quiz», espetáculo da Cia. SeráQuê?, uma observação sobre as manifestações de fé nos festejos religiosos afro-mineiros, com música ao vivo (participação da cantora Júlia Ribas e de Sérgio Pererê).

Usiminas Festival - De 17 a 22. Confira a programação no site: www.usicultura.com.br


FONTE: Hoje em Dia
Publicado originalmente em 17/09/2007.

Programa Oi de Patrocínios Culturais 2008

A partir do dia 25 de setembro, estarão abertas as inscrições para o Programa Oi de Patrocínios Culturais Incentivados 2008, que destinará recursos para o financiamento, total ou parcial, de projetos aprovados em leis de incentivo à cultura nos Estados da área de atuação da empresa.

Para a edição deste ano, serão considerados aspectos como a capacidade de transformação social do projeto, de geração de renda, de criação de novas oportunidades de trabalho, de formação de artistas e de novas platéias. Também serão priorizados iniciativas que valorizam talentos regionais. A seleção será feita até o dia 29 de outubro.

Seguindo o mesmo modelo das últimas edições, o Oi Futuro, organização sem fins lucrativos que atua na área de responsabilidade social, será responsável pela gestão do Programa. As propostas serão avaliadas por comissões especializadas em cada uma das áreas culturais e o resultado será divulgado em janeiro de 2008.

Mais informações podem ser obtidas através do site www.oi.com.br ou www.oifuturo.org.br

Fundação Clóvis Salgado realiza Fórum de Dança

A partir do dia 10 de setembro, segunda-feira, estarão abertas as inscrições para o I Fórum de Dança Fundação Clóvis Salgado e 2º Encontro de Companhias Públicas, que acontece entre 21 e 23 de setembro. Grandes nomes nacionais da dança vão participar de debates e mesas redondas que visam discutir os desafios e perspectivas da profissão do artista da dança. Durante o fórum, a Cia. de Dança Palácio das Artes apresenta os espetáculos Coreografia de Cordel e Transtorna. Os encontros vão acontecer em diversos espaços no Palácio das Artes e os espetáculos serão apresentados no Grande Teatro do Palácio das Artes. Toda a programação é aberta ao público e tem entrada franca. Para participar dos debates e mesas redondas, é necessário fazer inscrição pelo telefone da Cia de Dança 3236-7321.


Confira a programação:

21 de setembro
A abertura do Fórum de Dança Fundação Clóvis Salgado e 2º. Encontro de Companhias Públicas será no dia 21, sexta-feira, às 9h30, na Sala Juvenal Dias. Logo em seguida, a partir das 10h, haverá o debate Profissão do artista da dança: desafios, que discutirá aspectos da profissão do artista da dança, em especial os relacionados à inserção no mercado de trabalho, seguridade social e aposentadoria especial. O debate contará com Liliana Segnini, do Instituto de Educação Unicamp, Maria Pia Finocchio, Presidente do SINDIDANÇA, São Paulo, Paulo Pederneiras, Diretor do Grupo Corpo, e Neivaldo Ramos, procurador jurídico da Fundação Clóvis Salgado, Belo Horizonte.

Ainda no dia 21, às 15h, no Foyer do Grande Teatro, haverá uma reunião com participantes para aprofundar as discussões sobre a profissão da dança e suas perspectivas. Às 21h, a Cia de Dança Palácio das Artes apresenta, no Grande Teatro o espetáculo Transtorna para os inscritos e o público em geral, que deverá retirar os ingressos um dia antes da apresentação.

22 de setembro
Já no dia 22, às 9h30, na Sala do Coral, será a vez da discussão Crise na arte contemporânea, crise de criadores? Serão apontados os aspectos da criação contemporânea, apresentando-se novas possibilidades de trabalho com o novo e original, sobretudo no século XX, quando os artistas partem para dançar/falar de temas de seu tempo moderno. O debate conta com as participações de Eduardo de Jesus, professor da PUC Minas, Paulo Pederneiras, Diretor do Grupo Corpo, Christina Machado, Diretora da Cia. de Dança Palácio das Artes, Mônica Mion, Diretora do Balé da Cidade de São Paulo, Leonardo Ramos, do Ballet de Londrina, e Rui Moreira, diretor da Companhia Será Quê?.

Às 15h30 do mesmo dia, também na Sala do Coral, haverá a mesa redonda Circulação de companhias de dança, difusão nacional, com Celso Frateschi (Presidente, FUNARTE, Rio de Janeiro), Maria Rita Strumpf (Antares, Rio de Janeiro), Myrian Dausberg (Dell´Arte), Eliana Costa - Petrobrás ou BR Distribuidora, representante, Ana Francisca Ponzio (Curadora CCBB e Mostra SESI de Dança, SP), Eliana Pedroso (Diretora e Produtora do Ateliê de Coreógrafos Brasileiros / Bahia). O objetivo deste grupo de discussão é apresentar novas propostas de circulação para companhias e grupos do Brasil, apontando-se possibilidades de atuação concreta a nível institucional, econômico e estratégico.

Mais tarde, às 20h, também na Sala do Coral, haverá outra mesa redonda, Apreciação crítica da dança no Brasil: formação, criação, memória e políticas públicas, com a presença Marcelo Castilho Avellar, crítico do jornal Estado de Minas, Michele Borges, editora de O Tempo, Roberto Pereira (crítico, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro), Ana Francisca Ponzio (Crítica da Folha de São Paulo e revista Bravo), Airton Tomazzoni (Coreógrafo, mestre em Ciências da Comunicação pela Unisinos, RS). Haverá apresentação e debate em torno da atividade crítica em dança, nos meios de comunicação tradicionais e novas mídias.

23 de setembro
O dia 23 encerra o fórum com dois debates: um às 9h30 e o outro às 15h. Com o tema Apontamentos para o futuro: propostas e encaminhamentos, o encontro vai culminar com o documento final: “Carta de Belo Horizonte”, em que serão registrados todos os principais pontos discutidos durante todo o encontro.

E, para encerrar, às 19h, haverá a apresentação gratuita e aberta ao público do premiado espetáculo Coreografia de Cordel, da Cia de Dança Palácio das Artes. Os interessados deverão retirar os ingressos um dia antes da apresentação.
Confira a sinopse dos espetáculos Transtorna e Coreografia de Cordel.

Serviço:
Evento: I Fórum de Dança Fundação Clóvis Salgado e II Encontro de Cias Públicas
Data: 21 a 23 de setembro. Inscrições de 10 a 20 de setembro.
Horário: Transtorna - 21 de setembro, sexta, às 21h. Coreografia de Cordel - 23 de setembro, domingo, às 19h.
Local: Grande Teatro do Palácio das Artes
Entrada Franca.
Balcão de Informações: (31) 3236-7400



FONTE: Fundação Clóvis Salgado

TJ revoga liminar que impedia a execução de obras do projeto Circuito Cultural Praça da Liberdade

A primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais negou, hoje (11/09), provimento ao Agravo de Instrumento, interposto pelo Ministério Público Estadual (MPE) contra o projeto Circuito Cultural Praça da Liberdade. Desse modo, revogou a liminar que impedia as obras destinadas a executar o projeto, no prédio da Secretaria de Estado da Fazenda. Esse imóvel irá sediar a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais.

A decisão acolheu a tese da Advocacia-Geral do Estado (AGE), defendida pelos procuradores do Estado Cleber Reis Grego e Alexandre Diniz Guimarães. Os procuradores argumentaram que, ao contrário do alegado pelo MPE, o Conselho Curador do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA) não tem competência técnica para opinar sobre projetos de intervenção em prédios tombados. De acordo com Grego e Guimarães, a Diretoria de Conservação e Restauração do IEPHA, que aprovou os projetos é o órgão responsável para deliberar sobre o assunto. Ressaltaram, ainda, a anuência dada pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte.

O projeto Circuito Cultural busca em parceria com o setor privado dar uma nova destinação ao conjunto arquitetônico da Praça da Liberdade. Para isso, foi realizado um concurso público para definição do melhor projeto.


FONTE: Secretaria de Estado da Cultura

Incentivo às Expressões Culturais da Pessoa Idosa

O ministro da Cultura, Gilberto Gil, assinou portaria criando o Programa de Fomento e Valorização às Expressões Culturais da Pessoa Idosa. Valorizar e ampliar o reconhecimento e a visibilidade das expressões culturais e também combater a violência e a discriminação contra o grupo etário são os objetivos do programa. A Portaria nº 41 foi assinada no dia 12 de setembro e publicada na edição do dia 13 do Diário Oficial da União (Seção 1, página 4).

A Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural do MinC (SID/MinC) será responsável pela coordenação das ações desse programa. Ela concederá apoio e estímulo às iniciativas, aos projetos culturais e às ações que visem o desenvolvimento, o fortalecimento, a promoção e a divulgação das expressões artísticas dessa parcela da população brasileira.

De acordo com a portaria, a execução das ações vai acontecer por meio de processos seletivos públicos. Os recursos para a implantação das ações relacionadas ao programa serão oriundos da Lei Orçamentária, de parcerias e/ou de outras fontes eventuais de recursos.

Concurso Inclusão Cultural da Pessoa Idosa
Um grande passo já foi dado rumo às primeiras concretizações dos objetivos do programa. No dia 25 de julho deste ano, foi publicado no Diário Oficial da União o Edital do I Concurso Público Prêmio Inclusão Cultural da Pessoa Idosa, criado pela SID/MinC. As inscrições encerraram-se no dia 8 de setembro.

O concurso foi aberto às Pessoas Físicas e às Pessoas Jurídicas de natureza cultural, públicas ou privadas, sem fins lucrativos, que já desenvolveram ou ainda desenvolvem ações de inclusão das pessoas pertencentes a esse grupo etário. As propostas inscritas serão analisadas por uma comissão de avaliação, que se reunirá para o trabalho em meados do mês de outubro. Da comissão farão parte especialistas convidados, técnicos e dirigentes do Ministério da Cultura. Serão selecionadas 20 iniciativas, e cada uma delas receberá um certificado e o valor de R$ 20 mil. Os recursos são da Petrobras, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet).


FONTE: Ministério da Cultura
Por: Gláucia Ribeiro

O Saci e o eucalipto

Em 32 estrofes, o agricultor e cantador Ditão Virgílio colocou em seu cordel, o “Estórias de uma perna só”, uma apaixonada defesa da cultura caipira e dos modelos de silvicultura tradicionais da região de São Luis do Paraitinga, seu município, que hoje enfrenta um momento de tensão política por causa do choque de interesses entre movimentos e empresas plantadoras de eucalipto (veja matéria sobre o tema aqui).

Morador do sítio Tarumã do Bom Retiro, no bairro de mesmo nome, Ditão é apicultor, e nos cedeu uma breve entrevista, pedindo somente que se publicássemos seu cordel (que segue abaixo) não deixássemos de dizer que é um dos 19 volumes do “Estórias”.

Na entrevista, Ditão, nos contou que o cordel nasceu de um pedido de membros de movimentos sociais locais, para uma audiência do Plano Diretor da cidade, ocorrida em agosto último. A idéia inicial era de que fosse uma poesia sobre o impacto do eucalipto nas nascentes, mas “não deu para ficar só nisso. Eles (as empresas) jogam muito mata-mato, muito veneno contra as formigas. Acho que passa um pouco da conta. Além disso, estão derrubando as casas grandes das fazendas, aterrando e comprando. E estão exigindo que mandem o pessoal das fazendas embora, e o pessoal vem para a cidade. Hoje o pessoal está vivendo disso, mas a chegada das máquinas, que trabalham por 100 homens, vai deixar o pessoal desempregado. No momento está bom para a prefeitura, que não está tendo problemas de desemprego, mas eu estou vendo o impacto disso para o futuro”.

O poeta, por sua vez, coloca que não é contra o eucalipto em si, mas contra a forma como ele é explorado, e completa: “Eu quero é que cuidem da nossa terra. É só um aviso meu, este cordel”. Então, vamos ao aviso:

O Saci e o eucalipto
(Por Ditão Virgilio 14/08/2007)


1
Um dia fui passear
Lá no reino encantado
E em cima de um cupim
Eu vi o saci sentado
Com os olhos cheios d?água
Que há pouco tinha chorado
Então lhe perguntei
Por que estava desolado

2
Deu um rodamoinho
E ele me respondeu
Olha para as montanhas
Veja o que aconteceu
Plantaram uns paus compridos
Que depressa cresceram
Todos os bichos foram embora
E alguns até morreram

3
É o tal de eucalipto
Planta que não é daqui
Uma mata silenciosa
Que acabou com tudo ali
Os macacos foram embora
Até o mico e o sagüi
Que saudade do sabiá
Do sanhaço e o bem-te-vi

4
Esta planta suga a terra
As nascentes estão secando
Nossos rios caudalosos
Devagar vão se acabando
As fazendas destruídas
Pelas máquinas vão tombando
O caipira sem destino
Pra cidade está mudando

5
As casinhas da fazenda
Também foram derrubadas
Só tem árvores no lugar
Quase não serve pra nada
Ressecando nossa terra
Expulsando a passarada
Não tendo onde criar
Não alegra a madrugada

6
Os peixes estão morrendo
Com o veneno espalhado
Um tal de mata-mato
Que seca até a invernada
Dão veneno pras formigas
Que nunca é controlado
Tamanduás e os tatus
Quase foram exterminados

7
Já não tem fogão de lenha
Onde fumo ia buscar
Não tem mais o galinheiro
Onde eu ia brincar
Acabou-se o chiqueiro
Não tem porco pra engordar
Os caipiras vão embora
Por não ter onde morar

8
Não tem vacas leiteiras
Nem bezerros a berrar
Mesmo o cavalo alazão
Já não tem o que pastar
O galo já não canta
Quando o dia vai clarear
Se continuar assim
O Saci não vai agüentar

9
Com a sombra desta árvore
As flores desapareceram
A juriti está calada
Não canta na capoeira
João-de-barro não faz casa
Pois não tem mais a paineira
O canarinho foi embora
Com o sabiá-laranjeira

10
Acabaram-se as algazarras
Das bonitas maritacas
Até mesmo garças brancas
Já ficaram muito fracas
Com esta falta de água
Também acabou a paca
O sertão está em silêncio
Com a praga que o ataca

11
O gavião-carcará
Já não tem o que comer
O curiango não canta
Quando chega o escurecer
A coruja em desespero
Voou no amanhecer
Até mesmo a cascavel
Não está tendo o que fazer

12
Não tem mais o milharal
Crescendo lá na baixada
Por isso o inhambu
Não pia mais na palhada
As rolinhas muito tristes
Já não fazem revoada
Tico-tico já não pula
Lá no meio da estrada

13
A saracura-três-potes
No brejo não pode morar
Naçanica-bico-verde
Não tem inseto pra pegar
Pois sem água o brejo seca
E não tem nada para dar
Os bichos morrem de sede
No seu próprio habitat

14
No rio não tem mais bagre
Nem traíra nem piaba
Pois com a falta de fruta
Vem a fome e tudo acaba
Veneno na enxurrada
Matou o pé de goiaba
Acabou fruta silvestre
E sumiu a jabuticaba

15
Também já secou
O Corguinho o lugar
Morreram os lambaris
Já não tem o que pescar
Camarão de água doce
Não sei onde foi parar
Sapo, perereca e rã
Pararam de coaxar

16
Até a bela siriema
Cantou lá na cachoeira
Tentando avisar o homem
Pra parar com essa besteira
Estão matando a natureza
Com uma flecha certeira
Este mal não vai ter cura
Vai durar a vida inteira

17
Queimaram os paus podres
Onde o pica-pau faz ninho
No oco dessas madeiras
Onde nascia o filhotinho
As mamangavas sumiram
Foram embora de mansinho
Só tem cheiro de eucalipto
Espalhado no caminho

18
Até mesmo as abelhas
Conseguiram enganar
Dizendo que essa árvore
Muitas flores ia dar
Mas quando os botões
Começaram a desabrochar
Eles fazem a derrubada
Não deixam nada sobrar

19
O pobre do vaga-lume
Não tem luz na escuridão
Pois esses paus compridos
Ficam distantes do chão
Atrapalhando o seu vôo
Nesta grande imensidão
Mesmo nos taquaris
Pode não ter salvação

20
Sou Saci estou preocupado
Se acabar o bambu
Como é que eu vou criar
No meio do taquaruçu
É lá onde também mora
Aquele bando de jacu
E eles estão sumindo
Juntinho com o anu

21
Com um veneno forte
Acabaram com o varjão
A baixada só tem pau
Já não planta mais feijão
A nossa mata nativa
Não tem mais brotação
Com a sombra dessa árvore
Nada nasce neste chão

22
Também a onça-pintada
Jaguatirica e suçuarana
Estão morrendo de fome
E ainda levam a fama
Porque o veado-mateiro
Morreu por falta de grama
Se você pensa que foi ela
Aí é que você se engana

23
O bem-te-vi já não canta
Na copada do pinheiro
E o sanhaço azul
Não senta no pessegueiro
A sombra acabou com tudo
Matou o pé de coqueiro
Tapera de pau-a-pique
Plantaram até no terreiro

24
O caipira indo embora
Vai acabar sua cultura
Não sou contra o eucalipto
Mas sim a monocultura
Não comemos celulose
Nem essa madeira dura
É com sede de dinheiro
Que cometem essa loucura

25
Na comida caseira
Não tem frango caipira
O porquinho na panela
Torresmo que se admira
Não tendo mais abobreira
Também não tem cambuquira
Nem toucinho no fumeiro
Nem couve rasgada em tira

26
Homem da roça apertado
Vai morar na cidade
E trabalha com eucalipto
Contra sua vontade
De vez em quando lembra
Que tinha felicidade
Num canto chora escondido
Do sertão sente saudade

27
Até o vento é diferente
Mudou a vegetação
Diz que é reflorestamento
Mas é uma enganação
Porque logo cortam tudo
Pra celulose e carvão
Deixando a nossa terra
Uma grande devastação

28
Por enquanto dão emprego
Dizendo que vão ajudar
Não passa muito tempo
Pra tudo isso acabar
Deixam tudo destruído
E saem pra outro lugar
Fica pra trás a miséria
E a fome vai se espalhar

29
Até mesmo a capelinha
Onde o povo ia rezar
Foi fechada a porteira
Para não poderem entrar
Tentam acabar com a festa
Que é tradição do lugar
Se deixarem trocam por pau
Até os santos do altar

30
Me chamaram de malvado
Pela minha esperteza
Gosto de traquinagem
Não sou mau com certeza
O que quero é defender
A nossa maior riqueza
Eu sou filho dessa terra
Brigo pela natureza

31
Vou indo rapidamente
Girando cisco no vento
Se você não pensar em mim
Agora neste momento
De pensar que eu já existo
Para isto fique atento
Não sou filho da mentira
Criação do pensamento

32
Dê um grito de alerta
Peça para o povo ajudar
Não deixe o eucalipto
Com o sertão acabar
Este deserto verde
Pouco tem e nada dá
Sou da terra das palmeiras
Onde canta o sabiá

FIM
(Publicada no "Estórias de Uma Perna Só" No. 19 - 13.08.2007 - São Luiz do Paraitinga - SP)


FONTE: Cultura e Mercado