segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Comentários do dia

Amigos (as) leitores (as),

Na edição desta segunda-feira destaque especial para o espetáculo “O Continente Negro” de Marco Antônio De La Parra, considerado um dos expoentes da nova dramaturgia latino-americana, e dirigido por Aderbal Freire Filho.

Ainda na mesma edição a abertura das oficinas do 7º Goiás Curtas, e a abertura das inscrições do IV Curta Vídeo Votorantim.

Um painel com o debate iniciado na mesma cidade (Votorantim) com especialistas sobre ‘qual o conceito de democratização culutural?’

A quem não teve o privilégio de assistir a Antônio Nóbrega dançando capoeira, frevo e maracatu ao som de Sebastian Bach, meus mais singelos pêsames! Este BLOG já vinha avisando que o show valia a pena.

Hoje tem Leila Ferreira no Sempre um Papo no Teatro do Centro Cultural Usiminas.

A todos uma boa leitura.

CRÍTICA – O Continente Negro

O espetáculo traz um olhar renovado e inventivo sobre as relações de amor
Com elenco global, a peça traz um olhar renovado e inventivo sobre as relações de amor



Num primeiro momento pode soar desconhecido para os paulistanos o nome do mineiro Grupo 3 de Teatro. Impressão que já se desfaz quando se sabe que é formado por Débora Falabella e Yara de Novaes, a primeira atriz, a segunda diretora de uma ótima montagem de A Serpente, de Nelson Rodrigues, que fez temporada no Teatro Faap, ano passado.

Pois o grupo escolheu São Paulo, e o mesmo teatro, para a estréia de seu novo espetáculo, O Continente Negro, que tem ainda no elenco o ator Ângelo Antônio, o "pai" no filme Os Dois Filhos de Francisco.

Na direção, especialmente convidado, o carioca Aderbal Freire-Filho, cujo mais recente espetáculo, O Púcaro Búlgaro, ganhou no Rio o Prêmio Eletrobrás de melhor espetáculo e melhor direção e, coincidentemente, estréia na próxima semana no Sesc Anchieta.

Na equipe técnica, o cenógrafo e figurinista André Cortez e o diretor musical Morris Picciotto, com contribuição fundamental para a qualidade dos espetáculos do grupo.


Nova dramaturgia
O autor do texto, o chileno Marco Antonio de La Parra, romancista, contista e dramaturgo premiado, é também psiquiatra e talvez isso explique a agudez de seu olhar para as relações humanas, especialmente as amorosas, envolvendo desejo, traição, culpa, raiva, dor, que são o tema central dessa peça.

"No Brasil ele não é tão conhecido, mas é muito prestigiado no Chile, na Argentina, em vários países, e sobretudo na Espanha, onde é considerado um dos melhores representantes da nova dramaturgia latino-americana", afirma Aderbal Freire-Filho.

La Parra, presente na estréia, volta ao Brasil onde esteve em janeiro num projeto da Cia. Kaus que encenou sua peça Infiéis. A julgar pelo ensaio acompanhado pelo Estado, na quarta-feira, ele pode ficar muito feliz com o que vai ver em cena.

No palco, o trio de atores dá corpo e voz a 12 personagens, cujas vidas inteiras podemos quase adivinhar - certamente imaginar - a partir de cenas curtas, como o reencontro de uma mulher (Yara) com o ex-marido a quem abandonou, e com ele os dois filhos do casal; uma adolescente (Débora) apaixonada pelo seu professor; um patético marido machista (Ângelo)flagrado com outra mulher que tenta uma reconciliação. Soa já visto?

"Ele sabe disso e no prefácio da peça declara que os personagens podem ficar próximos demais do melodramático, dependendo da forma como forem tratados", diz Aderbal. Observa ainda que, no Brasil, associamos imediatamente melodrama e telenovela. "É a linguagem por excelência da ficção televisiva. Tanto que a televisão teve de viajar até o século 19 para buscar essa dramaturgia que é o seu material dramático por natureza."

Segundo ele, uma das características dessa linguagem na televisão é a superficialidade com que o tema da relação amorosa é tratado, sempre na chave dos clichês. "Os jornais dizem: fulana agora vai fazer a má. E entrevistam - como você se sente fazendo a vilã?" Nas novelas as pessoas são assim mesmo, boas, más, ingênuas, sedutoras, sempre inteiramente um desses aspectos.



Realismo
"A primeira diferença entre esse melodrama e o texto de La Parra está na profundidade. Na peça, uma atitude que seria condenável pelos padrões sociais vigentes, como da mulher que deixa os filhos, em nenhum momento é tratada nesses termos, mulher má, marido bonzinho, o que vemos é uma mulher em crise e não sendo julgada."

Realmente impressiona a construção dessa personagem feita por Yara, uma mulher perturbada, patética, cheia de contradições, mas também potente. Impossível defini-la com apenas uma palavra.


A segunda, e importante diferença, para o diretor, está na qualidade literária e na habilidade que ele tem para manejar as palavras. "Na cena do marido que traiu a mulher, o público de convidados se dobrou de rir com aquele sujeito hipócrita que diz - drogas, não - com dois copos de uísque na mão", diz Aderbal.

No prefácio da peça ainda, o autor pede uma "teatralidade menor" apostando talvez na sutileza como forma de fugir do clichê. "É desafiante compreender essa proposta, que eu presumo ter alcançado", diz. "O primeiro erro, acho eu, é compreender isso como um teatro pobre. Quero uma cena rica, inventiva, sem limites na utilização dos recursos e das possibilidades do palco.

Poética cênica
O que ele chama de teatralidade menor, e não é fácil fazer isso, é não "interpretar sentimentos". O ator não tem de interpretar a tristeza, diretamente, mas partir para um 'ataque à ação' que leva até esse sentimento."


Então o basta o ator expressar bem a situação, o comportamento do personagem e deixar para o público o sentimento? "Não é simples assim. No cinema, o ator vive, a câmera mostra. No teatro, ele tem também de mostrar, o que chamo de noção de exposição. Se o ator finge que o público não está ali, aí voltamos à quarta parede e ao naturalismo do século passado."

Na análise de Aderbal, o realismo está de volta com força aos palcos do mundo. "Mas como Picasso quando volta ao figurativo, não há retrocesso nisso, mas avanço. Porque essa retomada traz junto toda a poética cênica descoberta com a explosão do palco, ou da tela. Um realismo inventivo, potencializado, sem limites na criação de signos para se expressar."


Quer saber mais? Pode-se ler textos e pequenas entrevistas com toda a equipe de criação no site da peça e até mesmo 'conversar' com os atores, uma vez que há um espaço ali para fazer perguntas. Gostou da peça? Escreva para eles. www.ocontinentenegro.com.br


O Continente Negro. 60 min. 12 anos. Teatro do Centro Cultural Usiminas (724 lug.). Shopping do Vale do Aço. Única apresentação. 05/09 (qua), 20h30. R$ 20,00 (inteira)*


FONTE: Estado de S. Paulo
Por: Beth Néspoli
*Colaborou: Fabiano - Centro Cultural Usiminas (por telefone)

Belo Horizonte torna-se a capital do circo

Dois rapazes vestindo roupões brancos e chuteiras se aquecem no hall do hotel. Não falam. Apenas emitem grunhidos quando o esforço é demais numa flexão no chão ou em uma barra improvisada. Ganham a rua e a simpatia do mais sisudo dos transeuntes, que não contém o sorriso ao ser surpreendido pelas figuraças. A dupla belga do Okidok2, formada por Xavier Bouvier e Benot Devos, foi responsável por alegrar as ruas da capital mineira no fim de semana passada. Eles fazem parte do excelente time selecionado para se apresentar no 4º Festival Mundial de Circo do Brasil, que ocorre até domingo em Belo Horizonte. Quem abriu, com muito brilho, o primeiro dia de festival, na sexta-feira, foi o Circo Roda Brasil, formada a partir da união dos Parlapatões e Pia Fraus, com o espetáculo Stapafúrdyo. “Com o valor de uma cadeira para ver o Cirque du Soleil, você compra uma fileira inteira aqui”, diz o palhaço de Raul Barretto, sob incessantes aplausos. “E viva o circo brasileiro!”

Dessa “escalação” criteriosa, que contou com a derradeira apresentação de Le Vertige du Papillon, o novo circo cheio de cores e poesia dos belgas Cie. Feria Musica, também faz parte o palhaço americano Avner Eisenberg. Ele vai mostrar hoje, às 21 h, Avner The Eccentric, no Teatro Dom Silvério. Avner ganhou projeção internacional após integrar o elenco do longa A Jóia do Nilo (1985), de Lewis Teague, estrelado por Michael Douglas. “Muitas portas se abriram para mim após a participação no filme. Mas todo o dinheiro que ganhei naquela época já se foi. E é por isso que estou aqui”, brinca, aos risos. Ilustra o fato, logo em seguida, com uma mágica: mostra uma moeda entre os dedos e a faz desaparecer numa fração de segundos. “Passei também a evitar mágicas como esta”, emenda o divertido artista.

O festival de circo, idealizado e coordenado por Fernanda Vidigal, Karla Guerra e Juliana Sevaybricker, ocorre bienalmente desde 2001. “Mas promovemos ações contínuas nos anos de intervalo. Em 2002, por exemplo, trouxemos o Leo Bassi para algumas apresentações por aqui”, conta Fernanda. Em seis anos, ela pôde constatar o imenso salto dado pela classe circense. “Naquela época, muitos desacreditavam do nosso projeto, achando que o circo estava prestes a morrer. É claro que ainda não estamos numa situação ideal, mas já podemos ver a profissionalização e o fortalecimento dos artistas, desenvolvendo cada vez mais novos projetos e participando de editais.” Esta edição do festival conta com o patrocínio da Petrobrás e o investimento de cerca de R$ 1 milhão.

Além de uma dezena de atrações que invade diariamente os palcos e as ruas de Belo Horizonte (mais informações em www.fmcircodobrasil.com.br), a 4ª edição do festival também oferece oficinas de palhaço, com Avner, mastro chinês, acrobacia e báscula (espécie de gangorra, em que os artistas ficam em pé e são alçados para o alto alternadamente); uma mostra de filmes que abordam o universo circense, como Noites de Circo (1953), de Ingmar Bergman, às 20 h de amanhã, no Palácio das Artes; o lançamento dos livros O Elogio da Bobagem - Palhaços no Brasil e no Mundo, de Alice Viveiro de Castro, e Circo-Teatro: Benjamim de Oliveira e a Teatralidade Circense no Brasil, de Ermínia da Silva; um seminário que propõe a discussão do papel das escolas circenses, uma exposição com 20 expressivas fotos de Adi Leite, no Palácio das Artes, e o Cabaré do Festival de Circo, festa que ocorre amanhã na Funarte.

Fábio Francisco Santos Bonfim, de 26 anos, foi um dos participantes da oficina de báscula, ministrada pelo francês Paolo Galinski. Circense há 13 anos, ele sonha um dia ser tão valorizado no Brasil como foi na Europa em 2000, quando realizou uma turnê de quatro meses com o grupo One Thousand Faces, formado por artistas de outros cinco países. “Me senti como um astro do futebol. Saíamos dos teatros e as pessoas vinham pedir autógrafos. Espero que um dia sejamos mais valorizados aqui e que tenhamos incentivo”, diz Bonfim. O aluno formado pela Escola Picolino de Salvador vai apresentar números dentro do Espetáculo de Variedades amanhã, às 16 h, na Praça da Assembléia, e domingo, às 11 h, no Parque Municipal. Juntam-se a ele integrantes da Intrépida Trupe, Acromala, Cie. Pourquoipas? e alunos da Spasso Escola Popular de Circo, entre outros.

Enquanto o apoio do governo não vem, exemplos como o do professor de báscula e acrobacia, Galinski, proliferam a custo de muito suor - e, claro, amor ao circo: há dez anos ele conseguiu subir uma lona com capacidade para 300 pessoas no Vale do Capão, na Chapada Diamantina, Bahia. “Funciona como um espaço cultural. Atendemos a população da região oferecendo mostra de filmes, cursos de dança, teatro e circo”, conta. Em troca de comida e estadia, amigos circenses que Galinski fez cinco anos antes em Salvador, como o próprio Bonfim, ministram oficinas gratuitas aos moradores do local, que antes não tinham sequer acesso à cultura.


FONTE: Estado de São Paulo

Especialistas discutem conceito de democratização cultural

Foi aberto ontem pela manhã no Theatro São Pedro o 1º Seminário Internacional de Democratização Cultural, promovido pelo Grupo Votorantim, e que termina hoje. Mais de 3 mil pessoas se inscreveram para as conferências, mas apenas 500 foram aceitas, por conta da limitação física - em sua maioria, são gestores culturais de todo o País.

Segundo Yacoff Sarkovas, produtor que organiza o seminário, os conteúdos debatidos serão todos oferecidos na internet. São 23 debatedores se alternando nas discussões, que começaram com o próprio conceito de democratização cultural. A primeira conferência do dia seria do francês Olivier Donnat, responsável pelo programa Práticas e Consumos Culturais do Ministério da Cultura da França, e da brasileira Isaura Botelho, doutora em Ação Cultural pela USP.

O secretário de Estado da Cultura, João Sayad, ao discursar na abertura, utilizou a expressão “elite branca”, cunhada pelo ex-governador Cláudio Lembo, para se referir aos mais ricos. “Nós não devemos incentivar a arte erudita, porque é da elite branca? Ou devemos levar essa arte da elite branca à periferia?”, indagou Sayad, questionando os conceitos correntes de democratização cultural.

Sayad disse que também é papel do Estado propiciar a que populações de periferia possam ter acesso a produtos da indústria cultural. “Homem Aranha, Super-Homem, por que não?” Mas também, indagou, além do acesso à produção da indústria cultural, também não seria fundamental propiciar o encontro com “a cultura que sobrou, face ao massacre da indústria cultural?”.

Segundo Sayad, sua secretaria recebe muitas sugestões sobre o tema, mas boa parte delas não resolve a questão. Ele afirmou que não gosta de utilizar argumentos economicistas para justificar a importância da cultura. “É verdade, a cultura gera empregos. Mas suponha que não gerasse. E aí, seríamos contra a cultura, a arte, a música?”

O ministro da Cultura, Gilberto Gil, foi representado por Roberto Gomes do Nascimento, secretário de Incentivo e Fomento à Cultura. Nascimento falou que a noção de inclusão do MinC é ampla, e trata também de “garantir lugar não apenas em nossas platéias, mas também em nossos palcos” para as populações alijadas do consumo cultural.

Ele citou dados do Ipea e do IBGE que mostram que 10% dos mais ricos são responsáveis por 40% do consumo cultural no País, e que apenas 18,7% dos municípios têm teatros, 17,2 possuem museus e só 7% têm salas de cinemas (418 dos mais de 5 mil municípios do País). Uma das ações-chave do ministério são os Pontos de Cultura, que são 650 no País hoje - segundo Nascimento, a meta é chegar a mil pontos até o fim do ano.

O conteúdo dos debates está no www.votorantim.com.br/democratizacaocultural.


FONTE: Estado de São Paulo
Por: Jotabê Medeiros

7ª Goiânia Mostra Curtas

Um total de 512 filmes irão participar do evento, entre os dias 9 e 14 de outubro


A 7ª Goiânia Mostra Curtas está com inscrições abertas, até o dia 22 de setembro, para as oficinas de Roteiro (com Di Moretti), Documentário Brasileiro (com Carlos Alberto Mattos), e para o Seminário de Roteiro, que vai reunir integrantes da Associação de Roteiristas 'Autores de Cinema', de São Paulo.


Para a Mostra Competitiva as inscrições já foram encerradas. Um total de 512 filmes irão participar das competições, que acontecerão entre os dias 9 e 14 de outubro, no Teatro Municipal de Goiânia. Uma realização do Instituto de Cultura e Meio Ambiente (Icumam), com patrocínio da Petrobras e apoio do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet).


Oficina de Roteiro - Vai abordar o roteiro de ficção e o roteiro para documentários, analisando os diversos processos de criação, do conteúdo à forma. Será ministrada entre os dias 10 e 12 de outubro, com uma carga horária total de 12 horas/aula. O roteirista Di Moretti, responsável pela oficina, é um dos organizadores da Associação de Roteiristas 'Autores de Cinema' e já recebeu vários prêmios em festivais nacionais de cinema, pela autoria de filmes tais como: O Perfumado (ganhador do prêmio melhor curta-metragem MinC-2001); Cabra Cega (longa metragem ganhador de seis 'Cadangos' no 37º Festival do Cinema Brasileiro de Brasília, em 2004); e As Filhas do Vento (vencedor de oito 'Kikitos' no 32º Festival de Cinema Gramado, em 2004), entre outros.


Oficina de Documentário - Vai analisar os diversos métodos e linguagens dos documentaristas nacionais, nos últimos dez anos, bem como a ética e a estética do novo documentário brasileiro, com atenção voltada para os principais diretores e as formas de construção mais criativas. Serão oferecidas 30 vagas para esta oficina, com um total de 12 horas/aulas. O crítico de cinema e escritor, Carlos Alberto Mattos, irá ministrar a oficina, que será realizada entre os dias 11 e 13 de outubro. Ele é membro e ex-presidente da Associação de Críticos de Cinema do RJ e já participou do júri da crítica em festivais internacionais de cinema, como o de Veneza, Berlin e Moscou. Atualmente trabalha como crítico de cinema para o jornal O Globo e para o website críticos.com.br.


Seminário de Roteiro - Autores de obras audiovisuais de todo o país estarão reunidos para analisar o atual mercado do roteiro no Brasil e informarem sobre a relevância do roteirista no desenvolvimento da cadeia produtiva do cinema nacional. Serão oferecidas 50 vagas para o seminário, que será realizado nos dias 12 e 13 de outubro. Também haverá debates sobre roteiros, processo criativo, estruturas de narrativa e da linguagem. Já confirmaram presença os roteiristas Aleksei Abib, Dani Patarra, Luciana Freire Rangel e Marcos Lazarini.

Inscrições - O seminário e as oficinas são destinados a profissionais, pesquisadores, estudantes e amantes do cinema. As inscrições devem ser feitas pessoalmente, no escritório do Icumam (Rua 91, nº 612, Quadra F20, Lote 76 - Setor Sul – Goiânia/GO - Fone: 3218-3780), mediante a apresentação do currículo do candidato. Segundo a diretora do festival, Maria Abdalla, as oficinais são preferenciais para o público de Goiás e foram criadas com o objetivo de investir no aperfeiçoamento da qualidade das produções audiovisuais no estado.


FONTE: Ministério da Cultura

Literatura de Cordel: uma ferramenta educativa

Na minha ignorância imaginava que a Literatura de Cordel fosse uma produção exclusiva de uma determinada região nordestina. O mais distante de lá que vi esses livrinhos em impressão tipográfica e geralmente com capas reproduzindo xilogravuras foi, aqui no Rio, na Feira de São Cristóvão, o grande ponto de encontro dos nordestinos na metrópole sudestina.

Todos eles eram impressos lá por cima, Paraíba, Pernambuco, Ceará. Mas nos últimos anos comecei a me interessar pelo assunto e verifiquei, primeiro que o espaço geográfico original do cordel era bem mais amplo, pelo menos desde a Bahia até o Maranhão, e depois que existia uma produção fora do eixo nordeste (cujos exemplos mais recentes são o cantor e compositor Chico Salles, paraibano residindo no Rio e o xilogravurista Ciro, também paraibano e também morador daqui).

Jeová Franklin, um dos maiores pesquisadores e colecionadores brasileiros do assunto, além de cordelista (como se chamam os poetas do cordel), radicado em Brasília e que por coincidência conheci recentemente quando ele veio ao Encontro Nacional de Pesquisadores de Literatura de Cordel, acontecido aqui no Rio, na Casa de Rui Barbosa, diz que a xilogravura popular no cordel, está fazendo 100 anos (está lançando um livro sobre isso). É lógico que o próprio livrinho de cordel deve ser um pouco mais velhinho: Segundo Câmara Cascudo os primeiros foram editados em Pernambuco em 1873. Não seria surpresa, portanto, que eles pudessem ter se expandido pelo país. Aqui mesmo no Rio de Janeiro existe a ABLC – Academia Brasileira de Literatura de Cordel, mantida heroicamente por seu diretor Gonçalo Ferreira da Silva, com sede em Santa Teresa.

Esse intróito todo é para dizer que encontrei em Massambará, distrito rural de Vassouras, RJ, uma série de livrinhos de cordel, produzidos pelos alunos da Escola Municipal Abel Machado, contando a história do local através da poesia. Os livrinhos são a ponta visível de um projeto muito bonito desenvolvido pela professora e atual diretora da Escola de Andrade Pinto (outro distrito de Vassouras) Jussara Pereira de Almeida.

Jussara nasceu na cidade mineira de Águas Vermelhas, na Zona da Mata, quase na divisa com a Bahia onde a presença dos cantadores era uma tradição. Seu avô tinha o hábito de escrever e recitar alguns versos no formato tradicional das sextilhas. Professora de Língua Portuguesa, sempre gostou do tema e um dia começou a falar sobre o assunto em sala de aula e encantou os seus alunos de 5ª a 8ª séries.

O assunto acabou rendendo um papo sobre as diferenças regionais e gerou um incentivo em saber mais sobre a própria localidade de Massambará, o local onde viviam. Os alunos iniciaram então um projeto de reconhecimento da comunidade, começando a percorrer a vizinhança, rompendo desconfianças e tomando depoimentos e ouvindo histórias dos moradores. Alguns deles vinham até a sala de aula para prestar seus depoimentos. Ao final dessa parte do projeto o registro desse material acabou adotando a forma dos livrinhos de cordel. Logicamente o formato em sextilhas se mostrou muito difícil para os alunos que adotaram as quadrinhas, versinhos simples de produzir. O projeto demorou perto de um ano letivo para a tomada dos depoimentos e organização do material mas no ano seguinte a Secretaria de Educação fez questão de imprimir as publicações.

Eis uma amostra de um dos folhetos, escrita por Michelle, Marcia e Rosilaine, alunas da escola:

Saúde em primeiro lugar
Massambará não tinha posto
Para o povo era um sufoco
Quem quisesse ia para outro lugar
Ainda bem que tinha a D. Aninha
Parteira que muitas vidas pode salvar

D. Aninha para quem conheceu,
Sabe que era uma grande criatura,
Por tantas maravilhas que fez,
Ajudando no nascimento
Dos filhos de Massambará,
Que também são seus


Jussara realizou trabalho semelhante na Jardim Escola Peter Pan de Vassouras em conjunto com alunos e o orientador Leonardo Santos Corrêa e produziram o cordel Einstein, o cabeça do mundo, que foi premiado na feira de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Rio.

A Literatura popular como ferramenta auxiliar na Educação parece ter se desenvolvido muito nos últimos anos. Uma editora do Ceará, a Tupynanquim, lançou recentemente o segundo volume de uma coleção com 12 folhetos, a Coleção Cancão de Fogo – Literatura de Cordel na Sala de Aula, além de um livro Acorda Cordel na Sala de Aula de Arievaldo Viana Lima.

Um outro entusiasta do Cordel no município de Vassouras é o professor universitário na Universidade Severino Sombra, Simão Pedro dos Santos, formado pela UFRJ com tese sobre Cultura popular. Com o nome artístico de Pedro Pernambuco ele escreve também cordéis e realiza oficinas de literatura com seus alunos utilizando o cordel como material de trabalho. Pedro Pernambuco tem um programa de 2 horas de duração na Rádio Comunitária Interativa FM 98,7 Mhz de Vassouras e reserva uma espaço para recitar poemas de cordel no programa.

A literatura de cordel e o seu formato em livrinhos pode ser uma grande ferramenta para divulgação da poesia, mas também para servir para a garotada se aproximar da literatura e do mundo editorial por conta da relativa facilidade de produzir e imprimir com suas próprias mãos o seu próprio material. Quem souber de outras iniciativas educativas semelhantes em outra cidades do Brasil, por favor comente aqui neste post, ou colabore com novas matérias.

E me despeço com o que dois alunos de Massambará, Paola da Silva e Anderson T. da Silva, escreveram, há 7 anos atrás, na última quadrinha de seu folheto:

Mas muitas coisas aprendemos,
Mas muito ainda há para descobrir
Quem sabe um dia saberemos
Toda história do povo daqui…



FONTE: Overmundo
Por: Egeu Laus

IV Curta Vídeo Votorantim tem inscrições abertas

As inscrições para a quarta edição do Curta Vídeo Votorantim ficam abertas até seis de setembro. Serão aceitas produções em qualquer formato, com duração máxima de 15 minutos. O primeiro lugar ganhará prêmio no valor de R$ 1.500, o segundo lugar leva R$ 1.000 e o terceiro R$ 500, mesma premiação do júri popular. O evento acontece de 11 a 14 de outubro, na cidade de Votorantim (SP). Mais informações, assim como regulamento e formulário de inscrição podem ser obtidos no site www.curtavideovotorantim.com ou pelo e-mail curtavideo@yahoo.com.br


FONTE: Tela Viva