quarta-feira, 5 de março de 2008

Comentários do dia

Amigos(as) leitores,


Na edição de hoje do BLOG, com muito atraso por sinal, recheamos no conteúdo com matérias direcionadas a todos nós militantes das artes.

A chegada de Bob Dylan ao Brasil com a turnê de seu novo disco e ingressos oscilando entre R$400 a R$900.

No BOA LEITURA de hoje a receita para uma nova estrela. em tempos de Big Brother's é impossível não falar sobre ele.

A todos uma boa leitura.

Bob Dylan chega ao Brasil para turnê do CD 'Modern Times'

Nesta terça, ainda havia ingressos para os show no Via Funchal, em SP, com preços entre R$ 400 e R$ 900


SÃO PAULO - Ele fala tão pouco, e no entanto suas palavras são exaustivamente repetidas década após década. Algumas de suas canções, como Like a Rolling Stone, Knockin’ on Heaven’s Door, Mr. Tambourine Man, I Want You e Just Like a Woman foram gravadas por artistas tão distintos quanto Sonic Youth, Bob Marley, U2, Billy Joel, Pearl Jam, Guns ‘N Roses, Rolling Stones, Zé Ramalho, entre dezenas de outros. É de cortar o coração a voz de Nina Simone sangrando na gravação de I Shall be Released, que ele compôs em 1967.

Bob Dylan, o ídolo calado, chegou a São Paulo nesta terça-feira, 4, de madrugada. Toca na quarta, 5, e quinta, 6, para 5 mil felizardos no Via Funchal. Nesta terça, ainda havia ingressos para os dois dias, com preços entre R$ 400 e R$ 900. No sábado, Dylan toca no Rio de Janeiro, no Arena Rio.

Na Cidade do México, último lugar onde Dylan tocou antes do Brasil, na noite de domingo, ele até que falou alguma coisa. Ou melhor: escreveu. "Lindo país, lindo céu, lindas pessoas", foi o que deixou rabiscado no livro de visitantes do Auditório Nacional, onde tocou. A frase já virou preciosidade para os seguidores mexicanos mais exaltados, e está guardada a sete chaves.

Bob Dylan inscreveu sua lenda pessoal nos anos 60 como o poeta da consciência política, um bardo (que muitos consideraram) de recursos musicais limitados, "pero" intelectual refinado, ungido por referências literárias. Nem muito isso nem muito aquilo. Dylan é um artista que dá forma às suas visões pessoais e as transporta para um universo de associações musicais.

Sua música tem atravessado décadas de novos modismos, mas nunca se rende às tendências dominantes. Está sempre fundada nas formas mais básicas (e às vezes mais rudimentares) da música original da América do Norte: blues, swing, folk ballads, gospels, bluegrass, country. Ao mesmo tempo, é furiosamente anticonservadora, vigorosamente atenta aos desafios formais.

Um pé no passado, outro no futuro. É por isso que em Modern Times (Sony-BMG), de 2006, seu 44º disco e o mais recente, você poderá claramente ouvir Johnny B. Goode, clássico de Chuck Berry e das formas mais primitivas do rock’n’roll, escorrendo dos solos de Thunder of the Mountain, uma canção novíssima.

Não há uma canção chamada Modern Times no disco. É o primeiro mistério: o que permitiu a Dylan escolher esse título? Ele poderia estar aludindo ao filme de Chaplin de 1936, ao nome de discos pregressos do Jefferson Starship e de Al Stewart, ou ainda a uma comunidade anarquista de Nova York no século 19. O jornal The New York Times matou a charada em uma reportagem: o disco faz alusão a um obscuro poeta sulista americano do século 19, Henry Timrod, que escreveu poemas sobre a Guerra Civil americana e morreu em 1867, aos 39 anos. Versos de Timrod temperam canções.

Dylan, sempre irônico, zomba de si mesmo, da compulsão que os caras mais velhuscos como nós temos de ficar praguejando contra as contradições do progresso e da tecnologia. "Fiz o que pude, e fiz tudo certinho", ele lamenta. Na canção de abertura, ele menciona de forma sarcástica uma das estrelas da canção dos tempos modernos, a musa do R&B Alicia Keys.

Mesmo ilhado do mundo, vivendo numa redoma de mudez e estranhamento, ele conhece como ninguém os personagens de uma América subterrânea. "Não posso mais ir para o Paraíso/eu matei um homem lá", ele canta, em Spirit on the Water, com uma gaita limpa e a voz clara.

O blues country Rollin’ and Tumblin’ equilibra-se sobre doces duelos de guitarra, evocando os perdidos anos 50, dos quais Dylan nunca demonstrou ter saudade - ele já não os estimava durante seu auge. "Alguma jovem vadia esvaziou meus miolos", esbraveja o bardo, mas de um jeito lânguido, displicente, de falso conformado.

Furiosamente harmônico e melódico, Modern Times é o disco de um artista que esgrime contra o seu tempo, mas não por odiá-lo, senão pela ternura infinita que sente pelo humano e pelos sentimentos. Há pelo menos umas quatro obras-primas no disco, além de grandes achados, como The Levee’s Gonna Break (O Dique se Rompeu, cover de clássico blues de Memphis Minnie). A tragédia do Katrina em New Orleans revista pela lente esmaecida do passado.

A turnê atual, baseada neste disco e apropriadamente batizada de A Turnê Sem Fim, está sujeita às próprias mudanças de espírito de Dylan, que altera o repertório a seu bel prazer. Na Cidade do México, ele abriu a noite tocando a guitarra elétrica, instrumento com o qual escandalizou os puristas em 1966, e tocando na seqüência Rainy Day Woman #12 & 35, It Ain’t Me, Babe e Watching The River Flow.

Rainy Day Woman foi gravada em Nashville, em 1966. O jornalista Bill Flanagan conta que há uma lenda sobre a canção. Dylan levou os músicos para um estacionamento, onde receberam instrumentos novos para a gravação. Gestava uma nova revolução e entregava as "armas" aos combatentes.

Outra música que ele tem incluído no seu set list é Maggie’s Farm (alusão ao clássico folk Penny’s Farm), "sobre o homem comum que tenta simplesmente levar a vida enquanto o mundo amontoa pilhas de indignidades sobre ele", diz Bill Flanagan. Talvez ele não toque All Along the Watchtower, mas se há um rock de Dylan que não deveria faltar em nenhum show é esse. Ele o fez após um acidente de moto, em 1966. Hendrix a gravou e a transformou num monumento do rock psicodélico. Dylan gostou tanto que, após a morte de Hendrix, passou a tocá-la ao estilo do guitarrista.

E atenção quando ele tocar Things Have Changed (pela qual ele ganhou um Oscar em 2003, pela trilha do filme Garotos Incríveis). Por conta disso, ele dispõe sua estatueta do Oscar em cima de um amplificador durante o show. Ele termina o show com Summer Days e Like a Rolling Stone e uma versão impraticável para os Suplicy de Blowin’ in the Wind, o hino dylanesco para todas as lutas pelos direitos civis.


FONTE: O Estado de S. Paulo
Por: Jotabê Medeiros

Roteiro indica o que ler de Carlos Drummond de Andrade

Consagrado como um dos maiores poetas do Brasil e um dos grandes do mundo em sua época, Carlos Drummond de Andrade e sua obra são explicadas em "Drummond", livro da coleção "Folha Explica". O primeiro capítulo do livro pode ser lido a seguir.

O livro sobre o escritor, que tem o núcleo de sua obra em dez livros, apresenta um roteiro de leitura tanto para quem nunca leu nenhuma obra de Drummond quanto para quem já as conhece e pretende repassar sinteticamente a obra do poeta, iluminada por comentários pontuais e interpretações de contexto.

O volume da série "Folha Explica" é assinada por Francisco Achcar, professor de língua e literatura latina da Unicamp.

Como o nome indica, a série "Folha Explica" ambiciona explicar os assuntos tratados e fazê-lo em um contexto brasileiro: cada livro oferece ao leitor condições não só para que fique bem informado, mas para que possa refletir sobre o tema, de uma perspectiva atual e consciente das circunstâncias do país.

"Carlos Drummond de Andrade"
Autor: Francisco Achcar
Editora: Publifolha
Páginas: 128
Quanto: R$ 17,90
Onde comprar: nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Publifolha

De 1930, ano de sua estréia em volume, até 1962, quando completou 60 anos, Carlos Drummond de Andrade (1902-87) publicou dez livros de poesia que contêm um dos conjuntos de textos mais prestigiados e importantes de toda a nossa tradição literária. Esses poemas fizeram que a opinião predominante no Brasil consagrasse seu autor como o maior poeta do país e um dos grandes do mundo em sua época. Mesmo os que preferem atribuir a primazia brasileira a João Cabral de Melo Neto consideram que caberia a Drummond, não fosse o isolamento imposto pela língua portuguesa, uma posição de destaque no panorama internacional.

Sua obra, elaborada ao longo de mais de seis décadas, compreende poesia e prosa. Apesar das qualidades e da quantidade da prosa (17 livros de crônicas e contos, fora o que ficou nos jornais), o núcleo de sua produção é a poesia - mais de 20 livros cuja porção capital é o conjunto de poemas acima referido, ou seja, os melhores poemas das dez primeiras coletâneas.

É matéria de discussão quais sejam, exatamente, os melhores poemas (ou mesmo apenas os bons poemas) daquela extraordinária série de livros. Drummond é irregular e há divergências quanto ao que seriam seus altos e baixos.1 Por exemplo: boa parte dos críticos incluiria em sua antologia drummondiana dois poemas narrativos, "O Padre, a Moça" e "Os Dois Vigários", que Haroldo de Campos descarta como "poemas padrescos".2 A "mineiridade" (o que quer que seja), valorizada por muitos, para alguns é parte da quota de "prendas" provincianas de que o poeta não se teria livrado. Os sonetos dos anos 50 são vistos por uns (José Guilherme Merquior, por exemplo) como uma das culminâncias da obra do poeta; outros (Haroldo de Campos, notadamente) os tomam como retrocesso "neoclássico" e melancólico tributo ao gosto "restaurador" em voga na época. Há quem inclua entre os melhores poemas de Drummond numerosas composições das mais de dez coletâneas de versos que ele publicou depois de 1962; outros, embora admitindo aqui e ali alguns momentos notáveis, consideram esses livros secundários, bem abaixo do nível da produção anterior. Apesar das divergências, porém, há um número significativo de poemas (todos dos dez livros iniciais) que constaria de todas as antologias, qualquer que fosse a tendência do compilador.

Aqui, propomos um passeio pela poesia de Drummond, privilegiando alguns livros capitais entre aqueles dez. O percurso deverá ser necessariamente rápido, mas não deixaremos de nos deter em alguns poemas. Tratando-se de textos geralmente sobrecarregados de significação, explicá-los será, conforme o significado original do verbo, "desdobrá-los" - desfazer algumas das "dobras" onde se alojam seus sentidos.

MODERNISMO

Quando Drummond começou a publicar poemas, na década de 20, o Brasil estava passando ainda pela fase inicial do abalo modernista, apesar de datarem dos anos de 1890 as tentativas dos simbolistas de atualizar a sensibilidade nacional. Gestos de renovação artística e literária já eram perceptíveis no fim dos anos 10 (despontavam Anita Malfatti, Villa-Lobos, Manuel Bandeira, Mário de Andrade), mas eram gestos isolados, que só ganhariam momentum na Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922. A partir daí, o movimento se alastrou por grande parte do país, como testemunham as revistas que se publicaram e os grupos que se formaram um pouco por toda a parte. A esses "anos heróicos", de implantação polêmica de novas atitudes culturais, sucedeu um período de consolidação e diversificação, em meio a agitado contexto social.

A crise econômica, que se estendeu por toda a década, a partir de 1929 afetou duramente o café, e com ele a oligarquia dominante, logo golpeada pela Revolução de 1930. A imposição ditatorial que inaugura o Estado Novo em 1937, os anos de repressão, a guerra iniciada em 1939, as esperanças conseqüentes ao fim da guerra e da ditadura Vargas em 1945 --esperanças que logo cederiam lugar à ansiedade dos anos da Guerra Fria e da ameaça nuclear--, estes são alguns dos acontecimentos que balizaram uma época em que a literatura brasileira conheceu desenvolvimento e aprofundamento extraordinários.

O ano de 1930 foi memorável também para a poesia (embora a "revolução", no âmbito da literatura, tivesse eclodido oito anos antes). Nesse ano, além da estréia de Drummond, houve outras novidades: Mário de Andrade publicou Remate de Males, início de um período em que sua escrita se afasta de exterioridades e trejeitos do período anterior, e ganha em concentração e intensidade; Manuel Bandeira lançou Libertinagem, seu quarto livro, mas o primeiro de fato moderno, com alguns dos melhores poemas de toda a sua obra; Murilo Mendes e Vinícius de Moraes também estrearam em livro. Com Murilo e Jorge de Lima, iniciar-se-ia depois o influxo surrealista na poesia brasileira. Mas o modernismo, ao mesmo tempo que se afirmava diante da literatura acadêmica combalida, conhecia também tendências mais convencionais, de tons neo-românticos ou pós-simbolistas (primeira fase de Vinícius de Moraes, Augusto Frederico Schmidt, Cecília Meireles).

Nessa segunda etapa do movimento modernista --que vai, grosso modo, de 1930 a 1945--, desenvolvem-se na poesia algumas das características mais marcantes de seu primeiro tempo (inovações rítmicas, humor, paródia, temas cotidianos, linguagem coloquial, elipses e associações surpreendentes), ao mesmo tempo que se amplia a temática e se diversificam os recursos e as tendências estilísticas. Esboça-se então o perfil contemporâneo da literatura brasileira, que, como a literatura internacional, testemunha a emergência de três sistemas explicativos do homem e da sociedade: o existencialismo, a psicanálise e o marxismo. Independentemente de adesão por parte dos escritores, esses sistemas fornecem diversas das grandes imagens que integram o horizonte mítico da época. Contra tal fundo imaginário, novo em muitos de seus aspectos, desenha-se a figura de uma consciência fenomenológica, ou autoconsciência artística que, no caso da poesia, fará da linguagem e do trabalho do poeta temas privilegiados da obra poética.

Esquematicamente, o segundo momento modernista se distingue, sobretudo, por:

o generalização e aprofundamento da mistura de estilos (estilo misto ou mesclado), em que se combinam o elevado e o banal, o grave e o grotesco: temas sérios e problemáticos são tratados com linguagem vulgar e o tom sublime é aplicado a assuntos "baixos" ou banais;

o renovação da temática existencial, ou seja, busca de novos registros para temas como o tempo, o amor e a morte (lembre-se que, em seus inícios, o modernismo brasileiro tem preferência por assuntos nacionais, cotidianos e atuais, e não pelos "grandes temas", associados à poesia do passado);

o elaboração de imagens surpreendentes ou oníricas, em associações inesperadas, revelando influência do surrealismo e da então recente voga da teoria freudiana (importante na obra de Murilo Mendes e Jorge de Lima, a influência surrealista, embora restrita, é notável em momentos isolados da poesia de Drummond);

o envolvimento do escritor nas questões sociais, em textos marcados por revolta e esperança socialista. (durante a guerra e sob a ditadura Vargas, a temática social conheceu, compreensivelmente, seu momento de mais alta incidência);

a reflexão da poesia sobre a própria poesia, ou seja, autoconsciência do poeta em relação a seu trabalho com as palavras. Curioso notar que, se a temática metalingüística interessou intensamente ao experimentalismo poético (que Drummond praticou não só nos anos "heróicos" do modernismo, mas também, ocasionalmente, na época de ebulição do vanguardismo - a poesia concreta - dos anos 50-60), os temas da linguagem e da própria poesia não deixam de estar presentes no neoclassicismo do Drummond dos anos 50, com incidências ocasionais em todo o seu desenvolvimento posterior.

Ao longo de todo o arco de tempo que vai de Alguma Poesia a Lição de Coisas (1930 a 1962), esse quadro de caracteres foi-se constituindo, desenvolvendo, alargando e aprofundando, de livro em livro. Com A Rosa do Povo (1945), a poesia drummondiana atingiu um dos pontos culminantes da estética modernista no Brasil. A partir de então, numa série de obras que inclui Claro Enigma (1951), Drummond realizou uma das mais bem-sucedidas tentativas de associar o modernismo a formas poéticas e lingüísticas da tradição (metros regulares, soneto, fraseado de gosto clássico). Em seu último período, o dado novo que se acrescentou ao repertório drummondiano foi a poesia erótica, surpreendentemente franca em seu espantoso amoralismo.

TEMÁTICA

No annus mirabilis de 1962, em que completou 60 anos de idade e publicou Lição de Coisas, Drummond lançou também a Antologia Poética, na qual distribuiu os poemas em nove seções, designadas segundo o "ponto de partida" ou a "matéria de poesia" predominante em cada uma delas. Os nove núcleos temáticos discernidos pelo poeta são (entre aspas os títulos das seções, que valem por súmulas do sentido de cada tema): 1. o indivíduo: "um eu todo retorcido"; 2. a terra natal: "uma província: esta"; 3. a família: "a família que me dei"; 4. amigos: "cantar de amigos"; 5. o choque social: "na praça de convites"; 6. o conhecimento amoroso: "amar-amaro"; 7. a própria poesia: "poesia contemplada"; 8. exercícios lúdicos: "uma, duas argolinhas"; 9. uma visão, ou tentativa de, da existência: "tentativa de exploração e de interpretação do estar-no-mundo".

Diversos poemas (observa o poeta) podem caber em mais de uma dessas seções; por outro lado (acrescento), serão poucos os poemas, no conjunto da obra, que não se encaixem em nenhuma dessas rubricas.

1 Há, naturalmente, os que só vêem altos na "Obra" (com a maiúscula ao gosto de um desses fervorosos drummondianos, e bom estudioso de Drummond, Antônio Houaiss).
2 Haroldo de Campos, "Drummond, mestre de coisas"; em: Metalinguagem & Outras Metas (São Paulo: Perspectiva, 1992, p. 49-55). Desse ensaio procedem todas as citações de Haroldo de Campos que faremos adiante.

FONTE: Folha de S. Paulo

Perguntas e mais perguntas sobre o Jornalismo Cultural

Neste texto sobre jornalismo cultural, integrado a outros já difundidos e aos que advirão dentro da presente proposta temática, é permitido expressar dúvidas, a começar por esta da primeira frase, ao invés de justapor certezas pessoais e alheias?

Sem esperar pela primeira resposta, existe realmente o que pensamos entender por cultura? Subsiste o jornalismo? Apenas como hipótese, se a cultura desaparece e o jornalismo transmuta-se em qualquer coisa, menos a essência legitimatória da atividade, como podemos pensar em jornalismo cultural? Quanto mais praticá-lo?

Retrocedamos ao milênio, ao século e à década passados. Em algum dia qualquer de um agosto definido, busquei no órgão público municipal responsável pelo controle de trânsito as providências para o fechamento dominical de importante via em Porto Alegre (RS) para mais uma edição anual, no outubro vindouro, da Festa da Criança na Avenida.

Evento comunitário, ao ar livre, sem cobrança de ingressos, com dois palcos onde se alternariam, durante horas, grupos locais de canto e dança. Nas imediações, algumas dezenas de barracas servindo lanches com renda revertendo para clubes de mães, de pais e mestres, entidades assistenciais, de escoteiros, entre outros segmentos organizados da sociedade.

Cerca de oitocentos metros da avenida seriam fechados para o tráfego de qualquer coisa sobre rodas que não fosse bicicleta, triciclo, patins e afins. Quatro a cinco centenas de voluntários na organização e nas apresentações artísticas para público estimado em vinte mil a vinte e cinco mil participantes - e não assistentes.

O funcionário pegou o ofício, leu atentamente e informou que seria analisado para verificar se poderia haver autorização. Foi necessário alerta-lo de que a entidade comunitária que eu representava na oportunidade, coordenadora de toda a iniciativa, não estava ali para perguntar se podia. Estava, isto sim, para informar que faria, e quando o faria.

A tese desenvolvida então é que a Prefeitura não era proprietária daquele espaço público. Até porque aí ele não seria público… Ela gerenciava um bem coletivo que, um domingo por ano, era, por tradição, subtraído de carros, ônibus e caminhões.

Um jornal do bairro, providencialmente levado, permitiu evidenciar a importância da Festa da Criança na Avenida para quem não a conhecia. A licença saiu, o trânsito foi desviado dois meses mais tarde - estávamos em agosto e aconteceria em um domingo de outubro, lembra? - e tudo correu como esperado.

O evento festivo resumido acima pode ser considerado uma manifestação cultural? Não pode? Nem se pensarmos que se trata de uma afirmação orgânica da comunidade envolvida? Dela surgida e por ela coordenada? O bailado de crianças de uma escolinha de dança - apresentando no palco o Bolero, de Ravel, por exemplo,- não é expressão cultural ? É uma forma menor de arte? Devemos confiná-lo ao gueto do lazer, quem sabe da educação socializadora, mas nunca da Cultura com cê maiúsculo?

Quando nos livraremos da arrogância cultural e da sua manifestação mais perversa - pois dissimulada - que é a falsa humildade cultural?

A notícia veiculada no jornal do bairro era jornalismo cultural? Ou simples relato noticioso de atividade comunitária? Poderia ser ambos?

A cobertura pela imprensa do jogo de futebol é jornalismo esportivo? A da do dia do pleito é jornalismo político? A do café da manhã quando o empresário anuncia novos investimentos é jornalismo econômico? A da troca de tiros na subida do morro é jornalismo policial? Uma com outra, outra com umas ou até mesmo todas juntas, não poderiam integrar texto único, convergente, transversal, tangenciando aqui, atravessando ali, que mostrasse o quanto é tola a busca de compartimentação em um mundo de realidades complexas que só pode ser tentativamente expresso por pensamentos idem?

Quem atribui a nós, jornalistas, o direito divino da definição do que seja mais, menos ou ausente de cultura, decisão caracterizada pelo espaço e tempo proporcionais que dedicamos e/ou pela crítica pretensamente arrasadora ou laudatória?

Seria o diploma? Mas muitos dentre nós não reconhecem a necessidade da graduação para o exercício das práticas umbelicalmente ligadas a ideais traduzidos por condutas éticas que convencionamos chamar de jornalismo.
Seria a autoria cumulativa de conteúdos difundidos anteriormente por plataformas midiáticas e, face à qualidade, coerência e isenção - avaliadas por quem? -, reconhecida como merecedora de credibilidade?

Seria o reconhecimento dos pares sobre aquele que é ímpar? O fruto do carisma pessoal, o amparo de grande circulação ou audiência? O testemunho incensador do mito inconteste, amigo de longa data? Ou uma postura impávida, tipo “cumpro
minha missão e não estou nem aí para a crítica da minha crítica”?

Qual o motivo de ainda insistirmos com o conceito de “formadores de opinião” quando somos, tão somente e felizmente, apenas repassadores da opinião própria ou da de terceiros? E por que necessitamos tecer uma aura de intangibilidade que nos permita flutuar sobre o comezinho e o comecinho do importante?

O quê de produtivo para o debate surge de um jogo de palavras como o proposto pela sentença anterior? Quantas vezes a falta do que dizer é mascarada pelo estilo elegante, pelo hermetismo vocabular, ou por chistes, pilhérias, motes, motejos, facécias, galhofas e quejandos?

Se liquidificados, pouco resta de incontáveis textos do jornalismo cultural e, dos que sobram, expressiva parte ainda revela-se melancolicamente incompleta frente à possibilidade que estava descortinada antes da primeira capitular ser aposta.

Aí, quem capitula é o receptor.

O ponto anterior é o 5.664º caracter (com espaços) dos seis mil solicitados. Cumpre, portanto, encaminhar o fechamento destas considerações, não sem antes agradecer pela paciência dos que até aqui chegaram e, especialmente, a quem leu mais nas entrelinhas do que nas próprias.

Invejo, genuinamente, a quem tem respostas. Não as encontro, até porque muito me custa formular perguntas.

Parafraseando o pensador espanhol, eu sou eu e minhas perplexidades.

Reconheço algum (enorme?) distanciamento entre a propositura original deste texto e o efetivamente apresentado.

Lamento tolher expectativas porventura existentes. Mas, em havendo debate, poderei recuperá-la.

De momento, é o que tenho a dizer sobre o jornalismo cultural. Na falta momentânea de apoio latino especializado, arrisco-me a garantir de memória que quod scripsi, scripsi. In claris non fit interpretatio.

FONTE: Cultura e Mercado
Por: Mário Villas-Boas

Programa Territórios da Cidadania

Investimentos de R$ 11,3 bilhões em 135 ações de promoção do desenvolvimento regional e dos direitos sociais


Na última segunda-feira, dia 25 de fevereiro, às 11h30, no Palácio do Planalto, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, participou do lançamento do Programa Territórios da Cidadania. Na ocasião, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, reuniu quinze de seus ministros para anunciar o novo programa do Governo Federal, que traz 135 ações voltadas para o desenvolvimento regional e a garantia de direitos sociais, beneficiando 24 milhões de brasileiros.

A iniciativa prevê investimentos da ordem de R$ 11,3 bilhões, que devem chegar a cerca de mil municípios brasileiros, apenas neste primeiro ano. Os 60 territórios foram escolhidos por apresentarem os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país e baixo dinamismo econômico.

O Ministério da Cultura destinará 22 milhões do seu orçamento ao programa. Com esses investimentos, serão criados 110 novos Pontos de Cultura e instaladas 151 bibliotecas em municípios que ainda não dispõem desse equipamento. O MinC também promoverá ações de modernização de bibliotecas em todo o país.

“O programa Territórios da Cidadania vem se somar a outros programas do MinC para atacar problemas latentes no país. Estamos, por exemplo, zerando o número de municípios sem bibliotecas. Ainda em 2008, pretendemos instalar, ao todo, 631 novas bibliotecas, já temos os recursos garantidos para 300 e dependemos da votação do orçamento deste ano para garantir as demais”, explica o ministro Gilberto Gil.

“Também neste ano, chegaremos a cerca de 2.000 Pontos de Cultura. Em 2008, investiremos um total de R$ 104 milhões nesses Pontos. Esse é um número revelador, quando comparado com o nosso primeiro ano de gestão, pois o que investimos nessa ação equivale praticamente à metade do primeiro orçamento do MinC, em 2003 , completa.

“Este é um esforço concentrado do Governo Federal para superar de vez a pobreza no meio rural com um planejamento que alia visão territorial e eficiência nos investimentos públicos. O país está crescendo e já era hora de fazermos um programa desta magnitude para que ele cresça para todos”, ressalta o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, responsável pelo programa no conjunto do governo.

Territórios da Cidadania
Por sua concepção e gerenciamento, o Programa Territórios da Cidadania se difere de outros projetos sociais por não se limitar a enfrentar problemas específicos com ações dirigidas. Ele combina ações transversais de forma a contemplar as diversas dimensões e origens dos problemas a serem enfrentados. Um exemplo concreto: não basta financiar a construção de um laticínio em uma região desprovida de eletricidade suficiente para fazer funcionar os equipamentos ou sem estradas para escoar sua produção. É necessário, antes, suprir a região com eletrificação e estradas. Por essa razão, o programa integra as três esferas governamentais e a sociedade civil que compõem, em cada território, um Conselho Territorial que define o plano de desenvolvimento local. Os governos estaduais participam de todas as atividades e organização do programa.

Maiores que o município e menores que o estado, os territórios conseguem demonstrar de uma forma mais nítida a realidade dos grupos sociais, das atividades econômicas e instituições de cada localidade, o que facilita o planejamento de ações para o desenvolvimento dessas regiões. Cada território reúne municípios que tenham as mesmas características econômicas e ambientais, além de semelhanças na organização social, geográfica e cultural.

Em 2008, serão beneficiados 60 territórios. Em 2009, serão 120 em todo o país. Mais de dois milhões de famílias de agricultores, de assentados da reforma agrária, de quilombolas, de indígenas, de pescadores e de comunidades tradicionais terão acesso às ações do programa. A integração do conjunto de políticas públicas e dos investimentos previstos contribuirá para melhorar o IDH, evitar o êxodo rural e superar as desigualdades regionais.

Confira o calendário de ações do programa Territórios da Cidadania www.mda.gov.br.
Leia mais: Territórios da Cidadania www.cultura.gov.br e www.territoriosdacidadania.gov.br www.territoriosdacidadania.gov.br

Ministério da Cultura promove cadastramento de propostas culturais

O Diário Oficial da União publicou nesta quarta-feira (27) a Portaria N° 4, de 26/02/2008, do Ministério da Cultura que dispõe sobre a documentação obrigatória para o cadastramento de proponentes e de propostas culturais, com vistas à autorização para captação de recursos mediante o mecanismo de incentivo a projetos culturais (incentivo fiscal).

As propostas culturais deverão ser elaboradas em formulários específicos, divulgados pelo próprio ministério, sem prejuízo de outras exigências legais e documentais relativa a natureza ou especificidade da proposta.


FONTE: Em Tempo Real

BOA LEITURA

Como nasce uma artista hoje no Brasil

Se nada mudar, a Globo fará sua nova milionária

Gyselle Soares já ganhou o Big Brother Brasil 8, da Globo. Ao menos esta é a opinião dos internautas que votam em várias pesquisas sobre o reality show na internet, duas delas promovidas por grandes portais. Afinal, o que é que a ‘sister’ tem?

A garota de Teresina, no Piauí, começou a conquistar a preferência do público na primeira semana de programa. A modelo foi indicada ao paredão de estréia pela então líder Juliana Góes porque não estava entrosada na casa. Pura verdade. O jeitinho blasé, porém, contou a favor. Sobreviveu à berlinda e Jaqueline Khury, a outra emparedada, foi eliminada com 87% de rejeição.

A vitória deu a Gyselle o posto de mocinha. Outro ‘brother’ já eliminado, Rafael Galego, não acreditou na personagem e a mandou para um segundo paredão. Ela saiu ilesa e ainda mais forte.

A morena fica na dela até quando o circo pega fogo. O BBB 8 era a edição mais sem graça até que o médico Marcelo Arantes chutou o balde com Thalita Lippi e Fernando Mesquita. O que fez Gyselle? Ficou na platéia e disse que não tinha nada a ver com o problema dos outros.

Há três dias, o médico virou monstro de novo e armou o barraco com Thatiana Bione - a ‘menina pastora do BBB’. E Gyselle? Nada. Mas a moça, confidente de Marcelo, começa enfim a dar pinta de rebelde. Na sexta-feira, escreveu no blog da atração: “Estive sozinha no começo e agora me sinto mais ainda. Eu e Marcelo temos desavenças.”

O ar ‘tô nem aí’ é apontado pelos fãs como qualidade. “Gyselle é a mais autêntica, as outras meninas são muito estrelas. Ela é igual desde o primeiro dia. Continua fiel às poucas amizades que fez e não finge gostar de quem não gosta”, diz a dona de casa Cirlene do Nascimento.

O clima de ‘já ganhou’ chegou à casa da família em Timon, no Maranhão. “Pela quantidade de gente que eu nunca tinha visto batendo aqui na porta para dizer que gosta da minha filha, ela é a vencedora”, aposta a mãe, Josélia. “Outro dia uma família de nove pessoas, de Salvador, veio até Timon só para dizer que torce por ela. As pessoas dizem que se apaixonaram pelo jeitinho e pela conduta da minha filha.”

Gyselle virou até tema de marchinha. O bancário aposentado José Hélio Silva compôs Gyselle no BBB: “Todo mundo comenta na TV/ Gyselle, você é a melhor do BBB/ No Big Brother só tem gente bacana/ Mas a sua beleza é a sensação”, diz parte da letra.

“Ela é simpática, meiga, não tem preparo intelectual, mas não tem vergonha disso. Representa o povo brasileiro”, fala Silva. “E não faz fofoca, não fala mal dos outros. Quem manda no programa pode não gostar disso, pode preferir confusão, mas quem está em casa gosta.”

A jovem é uma das preferidas até para campeões de temporadas anteriores. Dhomini, que ganhou o BBB 3, aposta em uma final com Gyselle, Rafinha e Marcos Parmagnani. “Ela é gente boa, tem um coração puro, mas não é uma bobinha como muita gente pensa. No dia em que precisou falar mais, colocou a Thalita para correr.”

A modelo é a filha mais velha de Josélia Soares e Joaquim Estevão. Os pais se separaram quando ainda era criança. A mãe sustentou os filhos sem ajuda financeira do ex-marido. “Passamos por dificuldades quando o meu casamento acabou. Fomos morar em uma casa que não tinha cama, eu dormia no chão e ela, na rede”, lembra Josélia, hoje dona de um restaurante.

Mãe e filhos foram obrigados a se separar por um breve período. Josélia tentou ganhar a vida como caminhoneira e pediu para a avó materna cuidar dos herdeiros já que ficava muito tempo fora de casa. Apesar das dificuldades, a primogênita teve uma infância feliz, garante.

A paixão pelo mundo artístico nasceu cedo. Desde pequena, é louca por dança e teatro. Corria para participar de concursos e peças amadoras que o colégio promovia. O desempenho diante dos livros, entretanto, era sofrível. Ficava na média em matérias como Português e História e derrapava em Matemática e Química. A mãe não acredita que os erros de português que comete na TV e que viraram piada entre ‘brothers’ e ‘sisters’ sejam resultado do histórico escolar. “Ela morou cinco anos fora, é natural esquecer as palavras.”

Gyselle terminou o 2º grau e quis cursar Direito. Um convite para trabalhar na Suíça como babá mudou os planos. Na Europa, tentou sobreviver como doméstica e garçonete. Servia mesas em um restaurante quando um produtor de moda apostou que seria modelo.

A carreira no mundo fashion caminhava a passos lentos quando outro produtor, desta vez de TV, a viu circulando por Paris e a chamou para participar do L’Île de la Tentation (Ilha da Tentação). A exposição na mídia francesa rendeu uma proposta para ser cantora. Com saudade do Brasil, decidiu gravar um clipe na terra natal e se inscreveu no BBB, lembra a mãe. “Gyselle não quer R$ 1 milhão. Quer é ser famosa e voltar para casa.”

FONTE: O Estado de S. Paulo

Por: ANDREZZA CAPANEMA, andrezza.capanema@grupoestado.com.br