quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Comentários do dia

Amigos (as) leitores (as),

Na edição de hoje a abertura do primeiro Núcleo de Interiorização da Cultura em Minas Gerais, aberto na cidade de São João Del Rey e coordenado por Adenor Simões.

Na véspera do Ipatinga Live Jazz matérias publicadas pelo jornal O Tempo sobre o Tudo É Jazz que inicia as sua atividades amanhã em Ouro Preto e sobre a nova lenda do piano cubano, Roberto Fonseca, que lança seu novo disco “Zamazu” e pretende estender temporada no Brasil.

Destaque para Djavan que lança álbum livre de impostos, e que recebe O Estadão em sua casa no Rio para falar do projeto.

Não deixe de ler o sobre o histórico encontro nacional de Rappers e Repentistas em Campina Grande.

A todos uma boa leitura.

São João del-Rei recebe primeiro Núcleo de Interiorização da Cultura de Minas Gerais

O objetivo é valorizar a diversidade cultural e proporcionar o diálogo entre os municípios da região.


Inaugurado em abril deste ano, o Núcleo de Interiorização de São João del-Rei atende 35 cidades do interior de Minas Gerais. Criado para promover a interiorização e a descentralização da produção cultural do Estado e ampliar o acesso aos bens culturais, o Núcleo é a representação física da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais no interior.

Com o apoio da Secretaria de Cultura e Turismo de São João del-Rei, a Secretaria de Estado de Cultura, por meio da Superintendência de Interiorização, está acompanhando as ações desenvolvidas pelo Núcleo pioneiro, que servirá como modelo para os demais que serão instalados. Outros quatro serão implantados no Estado. Além de São João del-Rei, Araçuaí, Governador Valadares, Uberlândia e o Sul de Minas, serão contemplados com unidades da Secretaria de Estado de Cultura.

A intenção da Superintendência de Interiorização é fazer com que os Núcleos realizem o levantamento e o registro de manifestações culturais do Interior do Estado; recebam e encaminhem as demandas dos municípios pertencentes ao Núcleo; sejam um veículo facilitador no diálogo entre os municípios e a Secretaria de Estado de Cultura; estimulem a produção cultural do interior e investam na profissionalização e capacitação de novos agentes culturais, através de cursos e treinamentos.

O coordenador do Núcleo, Adenor Simões, afirma que a iniciativa é fundamental para manter o contato entre as cidades da região. “Assim, poderemos fazer um levantamento da diversidade cultural de cada localidade e promover um intercâmbio”, ensina, completando que é uma grande possibilidade para o nascimento de projetos culturais no interior. Ainda segundo Adenor, o Núcleo vai atuar como facilitador do diálogo entre as cidades e a Secretaria de Estado de Cultura e aproximar o interior das ações que são desenvolvidas na capital do estado.

Desde que foi inaugurado, o Núcleo de São João del-Rei já abrigou iniciativas importantes. Moradores de várias cidades da região tiveram acesso, em maio deste ano, a uma vídeo-conferência para apresentação do Fundo Estadual de Cultura. Em julho, a Secretaria de Estado de Cultura levou para o Núcleo o curso de capacitação para elaboração e captação de recursos na Lei Estadual de Incentivo à Cultura.

Este mês, o Núcleo receberá a Oficina de Elaboração, Captação e Gestão de Projetos Culturais. A Oficina acontece nos dias 21, 22, 28 e 29 de setembro. Além disso, permanentemente, são atendidas demandas culturais dos 35 municípios pertencentes ao Núcleo, sobretudo para acompanhamento da elaboração de projetos culturais nas Leis Estadual e Federal e também no Fundo Estadual de Cultura.
O Núcleo também vai inventariar todas as manifestações culturais dos municípios que engloba e traçar um plano de ação para atender suas demandas.

Serviço:
Núcleo de Interiorização da Cultura – São João del-Rei (Sede temporária)
Secretaria de Cultura e Turismo de São João del-Rei
End: Av. Tiradentes 136 – Centro
Tel: (32) 3372-8711 ou 3372-7338
Horário de atendimento: 09:00h às 17:00h

Programa de Formação de Gestores Culturais – Oficina de Elaboração, Captação e Gestão de Projetos Culturais em São João del Rei
Data: 21, 22, 28 e 29 de setembro
Informações: (32) 3372.7338/8711 – cultura@saojoaodelrei.mg.org.br


FONTE: Secretaria de Estado da Cultura

Djavan tira poesia de pedra e imposto em novo álbum

Cantor e compositor lança disco de inéditas, 'Matizes', por sua própria gravadora



RIO - É o prazer da joaninha andando na folha ao sol, a inveja da pedra onde a amada se deita, a boca-luva, o rosa-vulva - e o Rio de Janeiro. Mas também a CPMF, a devastação da mata, a mulher que, se fosse planta, seria comigo-ninguém-pode. É o degradê sonoro e poético que Djavan faz no seu novo disco, Matizes (R$ 25), já nas lojas pela gravadora do cantor e compositor, a Luanda Records.


Matizes tem 12 músicas inéditas, pelo menos metade delas djavânicas. São aquelas canções que se tornaram a marca de Djavan, arranjos vigorosos, calcados em blues, para letras aparentemente simples, mas de soluções nem tanto, e imagens que instigam, ficam na cabeça. Caso de Pedra, tipo de música que pode ganhar nossa intimidade na marra e, quando a gente vê, está na lista das dez mais de cada um de nós.

Senhor de sua carreira, e certeiro nos passos dela, Djavan dá respostas aceleradas. Quando fala como arranjador, é matemático. Confessa que compõe para si mesmo, e que quando sai do estúdio achando que tem uma música boa, nem quer saber de opiniões alheias. E se mantém admiravelmente seguro, sem entretanto um pingo de empáfia, num mercado que classifica como convulso.

Disco nas lojas, começam os ensaios para o novo show, que estréia em outubro no interior de São Paulo, e segue para temporada na capital, no Citibank Hall. Na tarde de segunda-feira, 10, na tranqüilidade do MAM do Rio de Janeiro, Djavan recebeu o Estadão.


Quando a gente fala em matizes, pensa num conjunto harmonioso. Como foi, então, o processo de composição deste novo disco, e o quanto da idéia do todo você tinha na cabeça quando começou a compor?
Desta vez foi um pouco diferente, porque quando eu acabei a turnê do Vaidade (lançado em 2004), a Rafa (Rafaela, sua mulher) estava grávida do nosso segundo filho, Inácio. Ela teve uma gravidez difícil e eu quis ficar com ela. Então, não compus o disco de uma vez, gravei às vezes durante duas ou três semanas num mês, para depois ficar um mês sem gravar nada. Eu meio que fiz essa conjunção entre ficar com o bebê e a Rafa, e a produção do disco.

Em Matizes, chama a atenção a faixa 'Imposto', uma música de protesto, com uma base de bossa nova. Por que resolveu usar uma música tão suave para falar de um tema tão árido quanto o da carga tributária?
Acho que a credibilidade é maior, passa melhor a imagem. Você é obrigado a parar para ouvir. Em geral, uma música que conduz uma letra de protesto é exteriorizada, para fora, é mais agressiva e tal. Eu queria justamente o oposto.

Você mora no Rio há 30 anos. Por que só agora fez uma música para a cidade ('Delírio dos Mortais')?
O Rio de Janeiro é uma cidade muito cantada, muito decantada. Portanto, é um desafio grande você fazer música para a cidade, falar desses símbolos tão internacionalmente conhecidos com um certo frescor. Eu resolvi fazer por ser um desafio, e também pelo fato de eu achar que estava devendo uma música exaltando a cidade, por tudo o que ela me deu.

Como foi que uma mulher que se fosse planta seria comigo-ninguém-pode virou sua musa? Uma pessoa difícil de ser retratada numa música, não?
Sim, difícil. Mas é uma música de inspiração genérica. Não saberia dizer, pode até ser que eu tenha convivido com uma mulher difícil assim. Não agora, que estou casado, a Rafa é ótima, a gente se ama. E todo mundo, toda hora, se depara com um homem ou com uma mulher difícil de seduzir.

Mesmo assim, essa mulher merece uma música?
Quando você gosta, a pessoa merece qualquer coisa que você possa dar.

Parece que não termina nunca essa busca não sei se da crítica ou se do mundo da música em geral, pela vanguarda. Mesmo com 30 anos de carreira, seu nome ainda é associado à vanguarda. Isso é uma preocupação na hora de compor?
Não na vanguarda dos outros, mas na minha. Eu tenho uma busca incessante pela novidade que eu julgo novidade no trabalho que estou fazendo naquele momento. Tenho uma carreira longa, fiz muita coisa. E tenho uma autocrítica muito grande, é muito difícil eu me agradar. Fique certa disso: eu não penso em nenhuma outra coisa quando estou compondo a não ser agradar a mim mesmo. Nunca fiz para ninguém, fiz para mim mesmo.

Mas não acontece de mostrar uma canção que não achava tão boa e, diante da reação da pessoa, mudar de idéia?
Essa sua ressalva é ótima, porque embora eu pense dessa forma, eu tenho família, amigos, pessoas de quem eu respeito a opinião. Essas pessoas são capazes de me demover de uma idéia, mas é difícil. E acho que não pode ser diferente, porque para você sedimentar uma estilo, uma carreira, você tem de ter uma segurança, uma certeza.

É o terceiro disco da sua gravadora. Na elaboração de um trabalho autoral, faz diferença ser o dono da gravadora? Já se sente à vontade nesse papel de empresário?
Na verdade, eu nunca estive nesse papel, porque quem comanda tudo é minha empresária, Mara Rabello. Claro que eu estou ali para dizer as coisas mais importantes, mas abri a gravadora para exatamente ter mais campo livre para fazer o meu papel de compor e cantar. Quero conduzir minha carreira de maneira totalmente independente e individual. Eu não saí de gravadora para ter liberdade de trabalho, de criação, as gravadoras nunca interferiram nisso.

Li uma frase atribuída a você, de que é preciso ter sorte na vida até para atravessar a rua. Na fabricação de um hit, e você já fabricou muitos, quanto é sorte, quanto é tiro certeiro?
Eu me lembro de ter dito essa frase, mas não é minha. Sobretudo hoje em dia, na convulsão que está o mercado, ninguém tem certeza de nada, por mais que a música seja boa. É que quando ela é boa, a esperança é maior. É o tipo de coisa que a rigor, em época nenhuma esteve nas mãos de ninguém. Às vezes, uma música boa se perde, se dilui, numa veiculação malfeita. Ninguém tem certeza de nada, e a única pessoa que pode determinar o que vai fazer sucesso é o dono de uma rádio poderosa. Ele pode dizer essa música vai fazer sucesso porque eu quero. Agora, o artista, jamais.

FONTE: Estadão
Por: Patrícia Villalba
Crédito foto: Marcos Dpaula


Jazz com vigor

Nomes da cena contemporânea do gênero em Nova York se destacam na programação do Tudo É Jazz, festival que vai de amanhã a domingo em Ouro Preto



Com uma programação de 24 shows de amanhã a domingo em Ouro Preto, a sexta edição do festival Tudo É Jazz traz um leque amplo de atrações, entre brasileiros e estrangeiros, levando aos palcos do evento nada menos do que cerca de 130 músicos. Entre os artistas internacionais, se há um traço predominante é o de oferecer quatro nomes que estão na linha de frente do jazz contemporâneo em Nova York: o saxofonista Joshua Redman, o pianista Aaron Goldberg, a trompetista Ingrid Jensen e o contrabaixista Omer Avital. Isso, além das destacadas presenças da cantora Madeleine Peroux e da maestrina Maria Schneider.

Cada um dos quatro encabeça um espetáculo, acompanhados de outros grandes músicos, e todos são de uma geração que despontou nos anos 90 na cena nova-iorquina. "Eles estão na faixa etária dos 35 anos, costumam realizar trabalhos juntos lá, o Aaron já tocou com o Joshua e com a Madeleine Peroux, a Ingrid com a Maria Schneider, os músicos que os acompanham também poderiam estar liderando outros grupos, tudo isso dá um tom muito contemporâneo a essa parte do festival", diz Maria Alice Martins, uma das idealizadoras do evento e que divide a curadoria com Túlio Mourão e Ivan Monteiro. "Esses músicos tocam um jazz atual, mas não transgressor, são mais cerebrais", define ela. Dos quatro, Joshua e Aaron são norte-americanos; Ingrid, canadense; Omer, israelense. Com um tempo maior de estrada vem o trompetista Wallace Roney, que já gravou 12 CDs e se apresenta amanhã à frente de sexteto que inclui uso de pick-up.

E o veterano saxofonista Bud Shank, 84, vai dividir o palco no sábado com o amigo João Donato. Os dois se reencontraram recentemente depois de 30 anos e gravaram o CD "Uma Tarde com Bud Shank & João Donato" (Biscoito Fino), que deverá ser a base da apresentação em Ouro Preto. A cantora Madeleine Peroux, última atração da sexta-feira, promete um repertório diferente daquele que mostrou em Belo Horizonte em 2005, pois está em turnê de lançamento de seu novo álbum, "Half the Perfect World". Os nomes citados até aqui se apresentam no Salão Diamantina, no Parque Metalúrgico, onde também vão estar os brasileiros Mauro Senise Quarteto, Duofel, Samba Jazz Trio, Oscar Neves Quinteto e Concerto da Orquestra Experimental Ufop (confira abaixo a programação completa).

Até ontem os ingressos para a sexta e sábado estavam esgotados e restavam alguns para a quinta-feira. Outras 12 atrações poderão ser desfrutadas sem necessidade de ingresso. Serão shows diários ao ar livre a partir das 18h no largo do Rosário, incluindo a maestrina Maria Schneider, convidada para fazer o "grand finale" no domingo à tarde, quando vai reger uma big band formada por 22 músicos brasileiros, a maioria deles mineiros, com a participação ainda de Ivan Lins e da cantora Marina Machado. A Russo Jazz Band faz apresentações nas ruas de Ouro Preto e a bordo do trem da Companhia do Vale do Rio do Doce que faz o trajeto para Mariana. Completam o evento uma agenda de palestras, workshops, oficinas e lançamento de livros.


Renovação
Para a noite de abertura, um dos shows mais aguardados é o do saxofonista californiano Joshua Redman (leia entrevista com o artista na página C8). O mineiro Cléber Alves, que toca o mesmo instrumento, teve a oportunidade de assistir a quatro espetáculos de Joshua quando estudou música na Alemanha, e está com ingresso em mãos para o show de amanhã. "Não vou perder. Ele retoma a tradição do jazz, mas de uma forma renovada, e incorpora as influências fortes que possui do soul. É a abertura de uma nova página no percurso do jazz", avalia Cléber. Da fatia brasileira do evento, a curadora Maria Alice destaca a presença do quarteto liderado pelo saxofonista e flautista Mauro Senise, no trabalho de leitura da obra de Edu Lobo, gravada no CD "Casa Forte" (Biscoito Fino) e que em breve chega às lojas em DVD.

"É uma das coisas mais fortes da música brasileira que ouvi nos últimos anos", diz a curadora. Senise estará acompanhado por Itamar Assiere (piano), Paulo Russo (baixo acústico) e Ivan Conti (bateria). "Será um show mais solto, aberto ao improviso, o que dá o lado jazzístico à música instrumental brasileira que fazemos", promete o saxofonista. Sobre o repertório, ele antecipa que o quarteto pretende tocar de Edu Lobo, "Casa Forte", "Ponteio", "Choro Bandido", "História de Lilly Brown" e "Arpoador", esta última, composição inédita que Edu cedeu para a gravação do CD. "Só devemos fazer uma música fora desse repertório, que é a ‘Waltz for Phil’, composição do Victor Assis Brasil em homenagem ao também saxofonista Phil Woods", revela Senise. O instrumentista brasileiro se diz orgulhoso e ansioso por essa participação no Tudo É Jazz. "É uma programação de alto nível, da qual me sinto honrado em fazer parte, e numa cidade linda. O quarteto todo está na expectativa desse show que, esperamos, aconteça de uma forma muito emocionada, com toda a energia que o palco traz", afirma Senise.


AGENDA - 6º Tudo É Jazz, de amanhã a domingo em Ouro Preto, no Parque Metalúrgico e no Largo do Rosário. Mais informações: www.tudoejazz.com.br ou tel: (31) 3221-4173


FONTE: O Tempo
Por: Júlio Assis

A nova lenda do piano cubano, Roberto Fonseca

Sai pela Biscoito Fino, Zamazu, o festejado disco do jovem pianista de estilo percussivo




SÃO PAULO - Foi um espanto quando, em junho de 2004, após a morte do grande pianista cubano Rubén González, o que restou do Buena Vista Social Club retornou ao Brasil com um substituto de uns 30 anos, um sujeito cheio de ginga, com pinta de astro do hip-hop. A desconfiança só durou até Roberto Fonseca iniciar seu primeiro solo - a platéia no Via Funchal terminaria aplaudindo de pé o "intruso". Uma noite memorável, que marcava a entrada de uma nova estrela na constelação do piano cubano, já lendária - habitada, entre outros, por Bola de Nieve, Bebo Valdés, o próprio Rubén Gonzáles, Chucho Valdés e Gonzalo Rubalcaba.

Desde então, Robertito Fonseca voltou ainda duas vezes ao Brasil, uma delas acompanhando o cantor Ibrahim Ferrer e, em outra, a cantora Omara Portuondo. Também veio sozinho, com sua própria banda, ao Bourbon Street.
Foi aí que ele se associou ao pernambucano Alê Siqueira, uma espécie de ponte móvel entre Brasil e Havana, e que produziu seu disco Zamazu, lançado com admirável sucesso na Europa no ano passado. O CD chega agora ao Brasil via Biscoito Fino. "Nossa amizade começou quando ele produziu o disco de Omara Portuondo. Logo que começamos a trabalhar juntos, gostei demais do jeito dele. Ele sabe o que o músico quer. Não se importa com qual linguagem está lidando, sabe respeitar todas", disse Roberto Fonseca, ao Estado, por telefone, desde Cuba, na semana passada.


Piano como tambor


Roberto Fonseca é rápido e objetivo em suas opiniões. Linguagem, por exemplo, ele explica assim: "Cada músico tem seu modo de se expressar, e é a isso que chamamos linguagem. Sei que tenho um estilo diferente. Toco piano como se fosse tambor, mas à minha própria maneira. Isso se dá porque sempre gostei muito de percussão, desde tablas a timbaus."

Há dois anos, Fonseca, que tem agora 32 anos, tocou no desfile da estilista francesa Agnès B, no Men’s Fashion Show de Paris. Foi nessa ocasião que ele disse algo que pode ser lido como seu manifesto pessoal: "Todo mundo imagina um músico cubano com charuto, chapéu, camisa de flores e mojito. Não bebo nem fumo. Quero que saibam que em Cuba não há só praia, sol, palmeiras e maracas. Também temos dias chuvosos."

Isso significaria que o estilo de Robertito Fonseca em Zamazu é menos solar e celebrativo do que o de seus colegas cubanos? Nananina. Zamazu é simplesmente um dos melhores lançamentos do ano, e a cadência de Cuba se ouve em cada acorde.


Em Cuba e no Brasil


O álbum foi gravado em Cuba e no Brasil, em janeiro de 2006, quando Fonseca esteve no País com Omara (e quando gravou um disco inédito acompanhando Omara e Maria Bethânia, já no forno para sair), e tem participações de Carlinhos Brown e Toninho Ferragutti, dos cubanos Guajiro Mirabal, Cachaíto López ("O maior de todos", segundo Fonseca), Ramses M. Rodriguez e do espanhol Vicente Amigo. Traz ainda um duo como Omara e uma das últimas gravações do grande Ibrahim Ferrer.

É uma bela homenagem. "O sonho que sonhou Ibrahim Ferrer se converteu em realidade", diz o próprio cantor na letra, que é sua. "Perdi um grande amigo. Quando tocávamos, ele era sempre uma dádiva, porque se doava integralmente. Ele me ensinava o tempo todo. Foi um músico incrível", diz Roberto.


Candomblé cubano


Adepto da santería, o candomblé cubano, o orixá de Roberto Fonseca é Xangô, um soberano por excelência, o rei do trovão. "Sempre serei da santería. Para mim, a espiritualidade é o fator mais importante que tem na música", diz Fonseca.

Pode-se deduzir então que ele demonstraria predileção pelo tradicional em sua música, mas é uma dedução errada: Roberto é a própria modernidade. Adora a variante original do drum’n’bass, o jungle, além de funk, techno e hip-hop. "Um dia ainda farei um disco de jungle", diz o músico. "Interesso-me pela fusão e pela improvisação. Gosto da música folclórica, mas meu interesse é colocá-la em contato com outras tradições modernas, como o hip-hop, o funk, o jazz, o drum’n’bass", disse.

Parte de sua experiência gravando no Brasil e com brasileiros foi tentar aproximar a música afro-cubana da afro-brasileira. Talvez venha daí o estranho nome que escolheu para batizar o disco, Zamazu. "É como a palavra dada, que originou o dadaísmo. Não quer dizer nada. É uma palavra que minha sobrinha Paola, de 6 anos, usa com a família quando quer nos fazer crer que está falando uma língua estrangeira", ele conta. "É como se procede na música: inventa-se a linguagem com a qual a gente quer se expressar, e ela é compreendida, mesmo que nunca tenha existido."


Influência da bossa nova


O jazz, que também está incrustrado em seu estilo, não acontece por acaso. "Ouvi muito Thelonious Monk, Bill Evans, Oscar Peterson, Keith Jareth, que são os grandes do seu instrumento no jazz. Não tenho influência, entretanto, de Chucho Valdés, que é cubano, e que aprecio muito, assim como me encanta o estilo de Tom Jobim. Acho que tenho mais influência da bossa nova", ele considera.

"O primeiro disco, de 1998, é muito jazz fusion, marcado por minha admiração por Herbie Hancock e minha descoberta do Weather Report. Meu novo disco resume todas essas experiências e vai mais longe", considera.
Zamazu, que é seu quarto disco (os primeiros, pela ordem, são Tiene Que Hacer, No Limits e Elengó) abre com uma cantora, Mercedes Cortes Alfaro, fazendo um número a capela, com uma voz ancestral. "É minha mãe cantando um fragmento de uma missa popular. O significado é simples: é uma reza para trazer a paz e levar embora a energia ruim", explica. Robertito estudou piano desde os 8 anos, em sua Havana natal. Cursou três conservatórios. Toda a família é de músicos. "Minha mãe foi cantora de coral. Meu irmão mais velho é pianista. Outro dos meus irmãos toca bateria. Meu avô era percussionista."


Cantos orientais


Outra presença forte no seu disco são as faixas de textura orientalizada, como Congo Árabe, que usa o darbouka, tambor árabe, e um violão flamenco. "Não é música muçulmana, mas da cultura oriental em geral. Gosto muito, porque nos cantos orientais, há muita paixão, tudo é muito transparente", diz.

A recepção ao trabalho, na Europa, foi calorosa. Paola Genone, no L’Express, disse o seguinte: "Nesse disco impregnado de beleza e paixão, o pianista e cantor cubano Roberto Fonseca, de 31 anos, consegue reconstituir, canção após canção, o imenso mosaico de tradições musicais que habitam seu país pós-escravidão." A resenha da BBC inglesa foi ainda mais entusiasmada: "Zamazu é um set supervariado e bem seqüenciado, que deixa uma forte impressão de quem é Fonseca e promete muito mais para o futuro." Já o The Guardian, também britânico, assinalou: "É natural um notável pianista ganhar resenhas favoráveis após substituir o grande Rubén González, mas Roberto Fonseca é ainda mais especial, mesmo para os padrões cubanos."


Piano e skate


Se Don Rubén González (1920-2003) tratava o piano com carícias, com os dedos quase levitando sobre as teclas, Robertito parece cair sofregamente sobre ele, como se estivesse descendo uma ladeira com um skate. "É na rua que nascem todos os sons, e isso me interessa", diz.

O novo prodígio do piano cubano também se espanta com todas as perdas que a música cubana tem experimentado recentemente: além de González, Compay Segundo e Ibrahim Ferrer, também o jovem percussionista Angá Diaz. "Todos morremos um dia, mas é incrível como isso está se repetindo", considera. "São grandes amigos que se vão, mas que não são esquecidos."
Ele diz que já está em negociação uma nova turnê pelo Brasil para mostrar Zamazu com sua banda - Javier Zalba (clarineta, flauta e saxofone), Omar González (contrabaixo), Joël Hierrezuelo (percussão) e Ramsés Rodríguez (bateria).


FONTE: O Estado de São Paulo
Por: Jotabê Medeiros

Londres abre mostra de Sebastião Salgado sobre café

A Galeria 32, em Londres, abre hoje uma exposição que documenta a viagem de Sebastião Salgado para fotografar produtores de café em ação no Brasil, na Etiópia, na Guatemala e na Índia.

O projeto "In Principio" tem o objetivo de levar ao conhecimento do grande público o trabalho dos agricultores que produzem a bebida diária de milhões de pessoas.
Salgado registrou diversas etapas da produção do café. Desde a colheita até os processos de secagem e seleção dos melhores grãos.

A exposição fica em cartaz até 6 de outubro na Galeria 32, localizada na embaixada do Brasil em Londres.

No último mês de julho, Salgado teve fotos expostas na Espanha, durante a décima edição da PhotoEspaña. Foram 56 fotografias de grande formato que retratam diferentes partes do continente africano.


FONTE: Folha de S. Paulo
Por: BBC Brasil
Crédito foto: Eugenio Savio/AP

I Encontro Nacional de Rappers e Repentistas

Nos dias 26 a 28 de outubro, em Campina Grande, um grande evento envolvendo as diversas expresões artísticas como o hip-hop, repente, embolada, cordel, cinema e teatro


O Projeto de Lei 1003/2007, que institui o Dia Nacional da Cultura Hip Hop, foi aprovado por unanimidade no dia 22 de agosto, na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, e encontra-se na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, de onde sairá para o Senado Federal. Criado pelo deputado Jovair Arantes, de Goiás, o projeto de lei menciona em sua justificativa que "movimentos como o hip hop mostram que as formas de expressão cultural no Brasil podem ser usadas na luta contra a discriminação racial e a desigualdade social".

A Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (SID/MinC) vê com bons olhos a proposta de criação do Dia Nacional da Cultura Hip Hop - 13 de maio -, data em que se comemora a Abolição da Escravatura. "A Secretaria envolve-se cada vez mais com o assunto e começa a trabalhar com vistas às discussões em torno da criação de políticas públicas voltadas para o movimento hip-hop, a exemplo do que já faz com as culturas indígenas, culturas populares, culturas ciganas, cultura GLTB, inclusão cultural da pessoa idosa e outras populações", afirmou o secretário (substituto) da SID, Ricardo Lima.

Por meio da SID, o Ministério da Cultura, em parceria com o Governo do Estado da Paraíba, realizará na cidade de Campina Grande, nos dias 26 a 28 de outubro, o I Encontro Nacional de Rappers e Repentistas, conhecido por Rap & Rep. Na ocasião, estarão envolvidas as várias linguagens artísticas ligadas à cultura do hip-hop, do repente, da embolada, do cordel, do cinema, do teatro e muito mais.

O evento chamará a atenção para a questão da diversidade cultural. Num único espaço, vão se reunir nomes importantes do hip-hop e da cantoria popular. Apresentações artísticas, oficinas e seminários serão realizados durante os três dias do encontro. "Vão acontecer vários debates, principalmente os relacionados ao papel social do hip-hop e da cultura popular", acentua Ricardo Lima.


Em abril deste ano, o ministro Gilberto Gil recebeu em seu gabinete, em Brasília, o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, e a subsecretária de Cultura, Daniella Ribeiro, que vieram ao ministério acertar detalhes do evento. Em maio, o secretário Ricardo Lima, acompanhado do gerente da SID, Américo Córdula, e do rapper Nelson Triunfo, difusor do hip-hop no Brasil, visitaram Campina Grande, onde participaram de várias reuniões para tratar do assunto. Segundo Américo Córdula, o "I Encontro Nacional de Rappers e Repentistas será um evento nacional de grande repercussão, um momento em que a criatividade vai imperar".


O Hip-Hop
A cultura Hip-Hop teve a sua origem na década de 70, nos Estados Unidos, mais precisamente no Bronx, em Nova York. Foi um movimento da juventude afro-americana e hispânica contra a violência das gangues que afligiam moradores de classes pobres do bairro novaiorquino. Ao invés de violência, os adeptos do movimento praticavam a paz, o amor, a diversão, a união, a arte, a expressão, competindo sempre com criatividade, por meio do rap (ritmo e poesia – expressão musical-verbal da cultura); do graffiti (que representa a arte plástica); e do break dance (que representa a dança). Por meio da música, da arte e da dança, o movimento ajudou os jovens da periferia a encontrar a identidade, a motivação, a consciência de cidadania e muito mais.

No Brasil, o Hip-Hop chegou na década de 1980. É um movimento organizado, e as várias tendências internas o tornam diferente do movimento norte-americano. O hip-hop brasileiro retrata as experiências de jovens e de pessoas que vivem na periferia e lutam contra o preconceito e a desigualdade social. Essa expressão cultural expõe a questão da exclusão social e racial no Brasil e simboliza uma forma de resistência e mudança da realidade.


Mais informações: http://www.raprep.com.br/.


FONTE: Ministério da Cultura