Ipatinga é uma metrópole privilegiada. Pólo da Região Metropolitana do Vale do Aço, a cidade possui infra-estrutura urbana, renda per capita e índice de desenvolvimento humano (IDH) muito melhores que a média dos centros urbanos do mesmo porte no território nacional.
A presença da Usiminas e de várias outras indústrias vinculadas à atividade siderúrgica, além de um comércio em crescimento, fizeram de Ipatinga, a partir dos anos 50, uma cidade para o trabalho. Essa fama esvaneceu-se com o passar do tempo e com a construção de uma extensa rede de infra-estrutura urbana e o surgimento de uma preocupação ecológica crescente que garante, entre outros privilégios, áreas como o Parque Ipanema com quase 1 milhão de metros quadrados de verde no centro da cidade.
E a partir do atendimento básico dessas necessidades sociais, a econômica em primeiro lugar, e a estrutural vinda em seguida, surge uma terceira meta inexorável para a qual a cidade líder da região já caminha: a de ser o principal pólo cultural do interior de Minas Gerais.
A cultura só tem sentido quando facilitadora de relações humanas e do convívio social entre as diferenças que compõem a complexidade da nossa sociedade. O desenvolvimento da comunidade é reflexo do desenvolvimento humano, onde os homens se encontram, onde se instaura o diálogo como sua característica essencial. Diálogo de idades, de sexos, de religiões, de experiências vividas e sonhadas entre saberes e artes. Diálogos que não descartem diferenças e divergências, mas que privilegiem a ampliação de horizontes e se estabeleçam na interlocução, na participação. É na ação local que podemos esperar mudanças globais sem jogar para o futuro ou só para as estruturas as possibilidades de mudanças. A luta por valores culturais para o desenvolvimento humano começa na nossa casa, na nossa rua, no nosso bairro, na nossa cidade.
A presença crescente de universidades e a rica agenda de eventos artísticos e culturais já apontam uma tendência, que se não firmou-se ainda é apenas por falta de um farol que guie os remos de todos os agentes da cultura regional.
De fato, essa é a questão. Empresas como a Usiminas mantêm espaços culturais e a presença de atrações do primeiro mundo – muitas das apresentações em cartaz no Palácio das Artes, na capital mineira, também chegam à cidade -, não apenas para mostrar as novidades do cenário nacional, mas também para compartilhar experiências com os agentes locais. Ainda custeia a maior parte da produção local.
Mas, promover a cultura não é apenas financiar o artista, o produtor individual, é antes, criar as condições para que o maior número possível de pessoas tenha acesso ao sistema de produção cultural, se não como produtores pelo menos como consumidores efetivos. A cidade deve se organizar em torno de um processo cultural ativo, voltado para o universal, o nacional, o regional e o local. Entre o planetário e o local, todas as escalas existentes devem ser acionadas sob a regência de um profundo espírito de adequação às condições específicas da sociedade urbana, em suas necessidades e expectativas.
Os agentes culturais têm consciência disso e, graças a um trabalho sistematizado de formação, iniciado pelo poder público no inicio dos anos 90, evoluíram tecnicamente e se profissionalizaram a ponto de não apenas manter o mercado cultural aquecido, mas também de exportar o nome de Ipatinga e do Vale do Aço para outros centros de cultura.
O quadro é animador, mas ainda contém problemas comuns às atividades culturais no Brasil como um todo. Quais sejam:
a) os bens culturais não chegam à maior parte da população, especialmente a mais pobre; muita coisa ocorre, mas, em espaço elitizado para um público pequeno e já definido, com pequena ampliação;
b) há, ainda, pouca valorização dos aspectos culturais locais; os agentes culturais, salvo raras exceções, estão presos a fórmulas de sucesso garantido, mas vazias de conteúdo;
c) faltam discussões sobre assuntos culturais relevantes no sentido de se chegar a um consenso que permita a formação de uma identidade cultural local, com princípios estéticos definidos;
d) falta organização dos agentes culturais para a formação de entidades de classe que possam agir coletivamente com força de representação junto a estâncias maiores do poder público e outras;
e) falta integração entre os principais setores sociais para discussão e elaboração de um programa conjunto de ações e estratégias culturais que possam beneficiar a todos e concretizar o pólo cultural de Ipatinga como o mais importante do interior do Estado.
É com base nessas premissas que propomos a criação de um fórum municipal para discutir todos esses temas com representação dos principais segmentos sociais, como Instituto Cultural Usiminas, Cenibra, Acesita, Prefeituras (secretarias de Educação e Cultura), Câmaras Municipais, associações comerciais, igrejas, escolas privadas, universidades, Superintendência de Ensino, sindicatos e entidades sociais diversas. O momento é propício para a polarização dos interesses culturais em busca de uma identidade e de um reconhecimento que só virá quando a união for a tônica dos agentes regionais.
A proposta inicial é começar com uma discussão geral e partir para definições de metas – um planejamento estratégico -, em que cada grupo participante teria tarefas específicas a serem desenvolvidas e um grupo de trabalho seria criado para monitorar essas atividades.
É sempre bom reafirmar que a cidade pode ser apenas um monte de prédios organizados, de ruas bem alinhadas se nós não aprendermos colocar nela o segredo, a magia, o coração, a alma, o conteúdo que existe no ser humano e que se costuma denominar Cultura.
Cemário de Souza
e-mail: impactox@ig.com.br
Moysés Maltta
mithla@terra.com.br
terça-feira, 12 de junho de 2007
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