quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Comentários do dia

Olá amigos leitores,

Na edição de hoje apresentamos como capa a matéria LUZ, CÂMERA E CRÍTICA como um ressaltona relação da crítica com o cinema nacional publicada pelo Jornal O Tempo de Belo Horizonte.

Notas rápidas como o Prêmio para Fotógrafos em Brasília e o primeiro beijo gay da televisão brasileira, que vai ao ar através da minisérie "Queridos Amigos".

Trazemos ainda a estréia no Brasil do filme "Jogos do Poder" com Julia Roberts e Tom Hanks. Tomara que chegue até aqui.

No BOA LEITURA uma matéria sobre "Os esquivocos que envolvem a arte e o ensino".

A todos uma boa leitura.

Luz, câmera, crítica

I Mostra Filmes Polvo, que começa hoje em Belo Horizonte, quer ampliar o debate sobre a crítica e suas relações com a produção cinematográfica

Não apenas com filmes se constrói a cinematográfica de um país. É fundamental que haja também alguma forma de articulação entre eles, estabelecendo parâmetros estéticos e ideológicos e criando, com isso, um conjunto cuja identidade seja capaz de expressar uma cultura. A crítica e suas variadas relações com a produção cinematográfica é o principal instrumento dessa articulação necessária e foi tomada como o tema central da I Mostra Filmes Polvo de Cinema e Crítica: Entre a Reflexão e a Realização, que começa hoje, no Cine Humberto Mauro, e reúne críticos, cineastas e sobretudo aqueles que exercem as duas atividades, além da exibição de filmes que tratam da temática (veja programação abaixo).

A mostra vem celebrar o primeiro ano de vida da revista eletrônica "Filmes Polvo" (www.filmespolvo. com.br), composta de nove integrantes e dedicada exclusivamente a textos e ensaios sobre cinema. "Queremos apresentar uma nova fase, inaugurando outro visual do site", afirma Rafael Ciccarini, editor da "Filmes Polvo" e coordenador da mostra. "O que mais nos interessa, porém, é a reflexão. Não basta apenas a celebração do aniversário. A idéia é tentar retomar a tradição crítica e cineclubista que Minas Gerais sempre teve."

A escolha por exibir filmes de quem antes pensou o cinema veio ao encontro de um histórico que vai além das fronteiras nacionais (remetendo a Godard e Truffaut, fundadores da revista "Cahiers du Cinema" e importantes autores nas telas francesas), mas guarda por aqui significativos momentos. "O próprio Glauber Rocha, o nosso maior cineasta, foi também um crítico. E é preciso entender o que ele escrevia para entendermos o diretor que foi", afirma Ciccarini.

A mostra tem início hoje com a exibição do documentário "Crítico", do pernambucano Kleber Mendonça Filho. Repórter e analista de cinema no "Jornal do Commercio", do Recife, Kleber passou dez anos registrando entrevistas com críticos e cineastas para abordar justamente a relação entre um lado e outro e se é possível a "convivência" entre ambos. "O filme é, antes de tudo, sobre relações humanas e busca pensar, em parte, como cada um lida com aceitação e rejeição", explica o diretor, acrescentando que o longa é um subproduto direto do seu trabaho como jornalista. Toda a obra em curta-metragem do pernambucano, composta por quatro trabalhos (como os premiados "Vinil Verde" e "Eletrodoméstica"), ganhará uma retrospectiva na mostra.

Além de Kleber Mendonça, participam da Mostra Filmes Polvo, tanto em presença nos debates como em filmes exibidos, cineastas-críticos experientes, como Carlos Reichenbach ("Filme Demência") e os mineiros Paulo Augusto Gomes ("Idolatrada") e Geraldo Veloso ("Perdidos e Malditos"), e outros de uma geração recente, casos de Tiago Mata Machado ("O Quadrado de Joana"), Cléber Eduardo ("Almas Passantes") e Eduardo Valente ("Um Sol Alaranjado").

"Há muito o que ser pensado. O cinema brasileiro tem uma série de problemas, da relação com o público até a distribuição", comenta Ciccarini. "E uma cinematografia não se faz apenas a partir de filmes, mas também da reflexão, criando parâmetros e dando sentido ao que é produzido". Ele frisa que a mostra serve ainda como forma de agregar um novo viés de pensadores de cinema que vem se formando em revistas virtuais, como Contracampo, Cinética e Cinequanon.

O crítico Marcelo Miranda, que atua no Magazine e na "Filmes Polvo", comenta que, numa mesa de debates com os editores dessas revistas, a ser realizada amanhã, os participantes deverão estar "numa espécie de berlinda". "Queremos que eles também ouçam opiniões porque é preciso fazer todos pensarem o próprio trabalho", diz Marcelo.

Dinâmica

Rafael Ciccarini enxerga a mostra como uma forma quase psicanalítica. "Uma das características do cinema contemporâneo é a auto-reflexividade, ou seja, quando um filme reflete o seu próprio processo de criação e se assume enquanto linguagem. Sempre senti falta disso no cinema brasileiro. Mas aí vem filmes como ’Crime Delicado’, do Beto Brant, ’O Quadrado de Joana’, do Tiago Mata, ’Serras da Desordem’, do Andrea Tonacci, ou ’Jogo de Cena’, do Coutinho’, e tocam nessas questões de identidade", diz.

Relacionando as convergências entre pensar e fazer, e a importância disso para a constituição de cinematografias específicas, Cléber Eduardo, ex-crítico da revista "Época" e hoje um dos editores da "Cinética" (www.revistacinetica.com.br), contextualiza: "Em alguns momentos da história do cinema, aconteceram avanços e transformações na linguagem que eram reivindicados na crítica antes mesmo de se darem na prática. Nas vanguardas dos anos 20, por exemplo, os próprios realizadores eram também teóricos que tinham testamentos escritos sobre a questão da linguagem".

Cléber lembra os casos do neo-realismo italiano, do cinema soviético, do próprio Cinema Novo brasileiro e da Nouvelle Vague francesa. "Em muitos desses momentos de renovação ou de ruptura com a linguagem hegemônica, você tem a crítica como celeiro teórico de suas manifestações."

Diretor de "Almas Passantes" junto com Ilana Feldman, Cléber acredita que a dinâmica de filmagens distancia-se muitas vezes da reflexão crítica. "A produção de um filme é um território empírico, cujos problemas você vai ter que resolver na hora. Depende muito mais de uma capacidade de decisão e pragmatismo. A partir do momento que você passa para o exercício prático, você se depara com exercícios autônomos e todas essas contingências da prática que não têm nada a ver com crítica, mas, sim, com questões técnicas", pondera ele.

No momento, ele está envolvido em outro projeto - um documentário sobre a torcida do Juventus, de São Paulo. "Seja quando estive realizando ’Almas Passantes’ como agora, estou trabalhando com a motivação que nasceu do fato de escrever sobre cinema", conta. "Como tenho conhecimento da história dos filmes, do que já foi feito, do que ainda pode ser realizado, a atividade crítica é um estímulo para a realização. Ao mesmo tempo é uma angústia porque às vezes a consciência do que já foi feito pode ser inibidora. Aí você tem que quebrar mais a cabeça porque acha sempre que aquilo vai ficar óbvio."


FONTE: O Tempo

Por: Douglas Resende

'Jogos do Poder' traz Julia Roberts e Tom Hanks

Diretor Mike Nichols, de 'Closer', volta a discutir sexo e poder, mas desta vez na seara pública


Julia Roberts e Tom Hanks em cena de 'Jogos do Poder'

Clique na imagem para ampliar

SÃO PAULO - É um caso raro de inadequação de pessoa em Hollywood. Em Jogos do Poder, seu primeiro longa desde Closer (Perto Demais), Mike Nichols volta a discutir sexo e poder, mas desta vez ele sai da seara privada para a pública. Tom Hanks faz o congressista Charlie Wilson, mulherengo e cheirador (de cocaína), mas boa praça, que se associa a bilionária texana (Julia Roberts, loira) para expulsar os soviéticos do Afeganistão. O personagem é real, a campanha afegã é real, mas no final um letreiro informa que, no limite, o que a ação individual de Charlie conseguiu, ao não ganhar continuidade do governo dos EUA, foi fazer com que as armas entregues aos Mujahedins terminassem nas mãos dos talebans, voltando-se contra os próprios norte-americanos no fatídico 11 de Setembro.

Jogos do Poder entra sexta-feira, 29, em cartaz, depois de disputar uma solitária indicação para o Oscar - a de melhor ator coadjuvante para Philip Seymour Hoffman, que ele não ganhou (afinal, é o ano de Javier Bardem e Onde os Fracos Não Têm Vez). Onde entra nisso a inadequação de pessoa? Na verdade, são duas - de onde o diretor Nichols tirou que Tom Hanks era a melhor escolha para o papel? O próprio Nichols reabre a vertente da discussão sobre sexo, presente em sua carreira desde A Primeira Noite de Um Homem (e até antes - Quem Tem Medo de Virginia Woolf?), mas se a intenção era fazer um Closer em Washington ele quebrou a cara.

A explicação para Tom Hanks talvez seja simples. Nichols simplesmente não quis repetir John Travolta, com quem havia feito Segredos do Poder (Primary Colors), e o problema é que ninguém interpreta Travolta melhor do que o astro de Tempo de Violência (Pulp Fiction). Tom Hanks até que tenta, mas não dá. A cabeleira loira de Julia Roberts também não ajuda muito, mas pode ser que seja ironia do diretor - a mistura de franqueza sexual e fundamentalismo cristão da personagem dela teria de esbarrar em alguma coisa. Esbarrou na falta de apelo erótico de Tom Hanks. Ele pode ir para a jacuzzi, para a cama, cercar-se de belas mulheres no escritório do Congresso, mas o olhar safado de Philip Seymour Hoffman para o traseiro de uma das ‘garotas’ vale mais do que todo o esforço de Hanks.

Com alguma boa vontade, podem-se buscar (com lupa) as qualidades de Jogos do Poder. Nichols baseou-se no livro de George Crile, que conta uma história real - Charlie Wilson existiu, era um congressista do baixo clero e se reelegeu sucessivas vezes até meados dos anos 90 -, indo buscar ajuda no roteirista Aaron Sorkin, que escreveu a série West Wing, sobre os bastidores da Casa Branca. Sorkin escreveu um diálogo taco-no-taco, mas, ao contrário de Perto Demais, a narrativa que ziguezagueia do Congresso para a ‘Casa Branca’ (seja lá como se chame) do Paquistão ou as muralhas de Jerusalém, onde Charlie Wilson sela a alianças secretas de inimigos tradicionais, não se presta muito a esse diálogo ‘íntimo’. Ou talvez seja de novo o ator - é tudo tão cínico, mesmo quando os personagens estão sendo idealistas e sinceros, que seria necessária a cara-de-pau de Travolta para garantir a sustentação de Jogos do Poder.

Gostar ou não, eis a questão. Acreditar ou não. Charlie Wilson, na estrutura narrativa do filme de Mike Nichols, começa a narrativa sendo homenageado como o homem que derrotou a União Soviética, precipitando a Queda do Muro de Berlim. Mas, no final, depois que os Mujahedins expulsaram - com a ajuda da verba que Charlie Wilson conseguiu para eles no Congresso dos EUA - os soviéticos do Afeganistão, o herói, e por meio dele o diretor e o roteirista, lamentam que Washington não tenha querido continuar com a ajuda, construindo escolas para os afegãos, por exemplo. O erro foi fatal e, como conseqüência dele, embora esse quadro na vida real seja mais complexo de explicar, houve o ataque às Torres Gêmeas que mudou a geopolítica mundial a partir de 2001. Quem busca ‘mensagens’ não terá dificuldade de encontrar a de Jogos do Poder. O patriotismo é uma faca de dois gumes que, eventualmente, como aqui, pode se voltar contra os patriotas. Ah, sim, foi por isso então que Mike Nichols escolheu um ator certinho como Tom Hanks, para tornar o efeito bumerangue mais forte. Não deu certo, de qualquer maneira.


FONTE: O Estado de S. Paulo

Por: Luiz Carlos Merten

Globo exibe primeiro beijo entre homens

Na minissérie "Queridos Amigos", o homossexual Benny (Guilherme Weber) deu um beijo roubado na boca de Pedro Novais (Bruno Garcia). A cena foi ao ar no capítulo desta terça. Só se falava nisso, ontem na Globo, afinal a emissora nunca exibiu um beijo entre homens. Em "América", o beijo gay de Bruno e Erom Cordeiro, anunciado pela autora Glória Perez, foi vetado.

FONTE: Folha de São Paulo

Seleção de projetos abarca a diversidade

O programa Natura Musical, de patrocínio a projetos na área da música, acaba de divulgar os 13 selecionados no Edital Regional MG 2007 (clique na imagem ao lado para ver e ampliar). Eles abarcam diferentes estágios e processos, da produção à formação de público, passando pela circulação e pela formação artística. O valor total de recursos investidos corresponde a R$ 2 milhões, sendo R$ 1,6 milhão provenientes da Lei Estadual de Incentivo à Cultura e R$ 400 mil em recursos próprios. A gerente de marketing institucional da Natura, Renata Sbardelini, observa que os projetos contemplados representam bem as propostas do programa. "A idéia é valorizar a diversidade cultural e abrir portas para que os músicos de todas as correntes e regiões de Minas Gerais possam mostrar suas criações a diferentes públicos e a um número cada vez maior de pessoas", aponta.


O processo de avaliação e escolha dos projetos foi conduzido por uma comissão técnica independente formada pelos jornalistas Mariana Peixoto, Patrícia Palumbo e Pedro Alves Madeira, que também atua como produtor musical. Eles elegeram os 13 selecionados a partir de um total de 94 projetos inscritos. Os resultados apontados por essa comissão ainda foram avaliados por executivos da Natura, que fizeram a escolha final dos beneficiados. Três tópicos foram utilizados para a avaliação dos projetos - o caráter inovador, o reconhecimento da excelência artística e a possibilidade de abrangência. Foram destacados projetos que têm como objetivo principal a viabilização de iniciativas originais, criativas e, preferencialmente, inéditas no cenário cultural brasileiro.

Matizes

No quesito relativo à abrangência, pesaram as propostas cuja execução seja apreciada pelo maior número de pessoas possível, independente de níveis socioeconômicos, escolaridade, idade, sexo e nacionalidade. Com base nesses tópicos, a comissão técnica priorizou os projetos que pudessem expor as diferentes matizes da produção atual e que abrangessem diferentes regiões do Estado. Os responsáveis pela seleção buscaram apontar, ainda, iniciativas que vão além da obra de um só criador, mas que possam lançar luzes em um número maior de artistas.

Foi observado, ainda, o critério de continuidade. Dos 13 projetos, seis já vinham sendo desenvolvidos com o patrocínio do Natura Musical, sendo o mais antigo o Música no Museu, da Veredas Produções, que dá sequência a uma parceria iniciada há três anos. Os outros quatro são: Uakti, Sabará Musical, Luthier - Arte, Ofício e Cidadania, 2º FAD - Festival de Arte Digital e o IV Jambolada - Festival de Música Independente, todos selecionados no Edital Regional 2006. Desde seu lançamento, em 2005, o Natura Musical contemplou 91 projetos de diversos gêneros artísticos e estágios de produção musical, atingindo 17 Estados brasileiros de todas as regiões do país e um público de mais de 200 mil pessoas.


FONTE: O Tempo

Por: Daniel Barbosa

Prêmio para fotógrafos

Aberto a fotógrafos profissionais e amadores, o Prêmio Brasília Céu Aberto distribuirá um total de R$ 100 mil para os melhores cliques em oito categorias diferentes. As inscrições estão abertas até 28 de março, nas categorias arquitetura, cultura, esportes, lazer, política, social, natureza e comportamento. As 10 melhores imagens de cada categoria também participarão de um catálogo e de uma exposição. Os vencedores serão anunciados no dia 21 de abril. Os apaixonados por fotografia ainda poderão participar da seleção Fale como Você Vê Brasília, que contempla fotos feitas por aparelhos de telefone celular. As imagens também devem estar dentro da temática do concurso. Mais informações e inscrições no site www.premiobrasiliaceuaberto.com.br.

FONTE: Correiro Braziliense

BOA LEITURA

OS EQUÍVOCOS QUE ENVOLVEM A ARTE E O ENSINO

Hannah Arendt, em seu livro A Condição Humana, diz no capitulo “A permanência do Mundo e a Obra de Arte”:
“Entre as coisas que emprestam ao artifício humano a estabilidade sem a qual ele jamais poderia ser um lugar seguro para os homens, há uma quantidade de objetos estritamente sem utilidade e que, além disso, por serem únicos, não são intercambiáveis, assim sendo, não são passíveis de igualação através de um denominador comum como o dinheiro; se expostos ao mercado de trocas, só podem ser apreçados arbitrariamente. Além disso, o devido relacionamento do homem com uma obra de arte não é “usá-la”, pelo contrário, ela deve ser cuidadosamente isolada de todo o contexto dos objetos de uso comuns para que possa galgar ao seu lugar devido no mundo … a arte assim sobreviveu magnificamente à sua separação da religião, da magia e do mito”.

Isso implica dizer que toda e qualquer utilidade que tenha a Arte transforma-a em arte. Radical? Sim, muito, porque a necessidade de sobrevivência de uma cultura também é radical. A Arte só sobreviverá se são atendidas as suas especificidades.

Quais seriam estas especificidades? A nosso ver, o atributo principal da Arte é a liberdade do artista, se ele não é contemplado pela sociedade como alguém imprescindível, possivelmente essa sociedade perca ou mutile o que de mais valioso tem: as economias mudam e seus sistemas de poder também, os acumuladores perecem e é claro que para o futuro longínquo só sobrará a Arte, se ela conseguir sobreviver. Mas a arte comercializada, estruturada, definida como arte, essa não sobreviverá.

A Arte precisa ser concretizada em objetos para materializar-se como idéia e poder perpetuar-se no futuro, a Arte materializada pode ser vista somente como objeto e transformada em mercadoria, podendo ser comprada e vendida, como se pudesse se comprar Arte, liberdade ou felicidade!

A Arte não é instrumento para nada, nem objeto de consumo, é como a Filosofia, ambas são os níveis de entendimento mais elevados (não heirarquizados) que uma sociedade tem sobre si mesma.

Logo, seria a figura do artista a que tem que ser valorizada, não a do professor de arte, do curador, do critico ou do jornalista. Como se arte pudesse ser ensinada ou convertida em objeto de consumo. Se ensinar Arte fosse possível poderia se ensinar talento, criatividade. Segundo Gregory Bateson, este nível de comunicação com respeito à Arte, Amor e Felicidade (ensino, critica, descrição da arte são formas de comunicação), é nada mais nada menos do que uma situação de double-bind, ou seja, um grave problema que conduz a esquizofrenia quando não se pode sair desse sistema doente de comunicação, explico melhor: se eu digo para o outro: seja criativo! aprenda! me ame! seja livre! isto é Arte! Estou dizendo ao outro que os meus padrões são os corretos para sentir, pensar e amar, o que possivelmente devido à natureza humana, que é única e irrepetível, seja um verdadeiro terror ou inicio de uma tirania muito perigosa, tão intolerável que o único refúgio é a esquizofrenia.

Por isso, devemos insistir que Arte é assunto de Estado, entendendo o Estado como a instancia máxima da organização social, contrariamente ao mercado, que, para mim, é a instancia máxima da desumanização da sociedade.

Deve ser o Estado quem tem que manter o artista, o Estado é que tem que velar porque a Arte não se converta em Mercadoria e porque sejam os artistas os que tem se ocupem da difusão da Arte, abrindo e mantendo os espaços necessários para tal.

Reflitamos um pouco mais: porque a Medicina é cuidada e exercida pelos médicos? porque a Economia pelos economistas e a Justiça pelos advogados? e são médicos, economistas e advogados que cuidam da formação dos mesmos. Não tem economista ensinando cirurgia nem oftalmologista ensinando Direito Comercial.

Se consideramos que a Arte é assunto de artistas e são eles os que podem transmitir melhor que ninguém o que é Arte, criaremos um problema sério de continuidade desta sociedade, para alegria de muitos e infelicidade de poucos.

Acabaria a hierarquização da Arte, acabaria o mercado e seus sacerdócios exercidos por uns poucos escolhidos que jamais tem contato com as periferias onde mora mais do 80% dos seres humanos.

Para o artista, existiria um campo de trabalho enorme, se ele for mantido pela sociedade, se ele for dignificado pelo reconhecimento da relação que ele estabelece entre o passado, o presente e o futuro de cada sociedade na qual está inserido. E se isto acontecer, talvez a sociedade possa mudar. Talvez a liberdade deixe de ser um ideal para transformar-se em um utópico viável, talvez a Arte reprimida possa brincar nas ruas e avenidas e não ser desvalorizadas pelos canais de difusão.

Construir mitos é e será tarefa dos meios de comunicação, destruir mitos também. Numa sociedade utópica os meios de comunicação estariam a serviço da arte e não vice-versa. Hoje, como na Arte, vemos que as notícias tem que pedir por favor para serem noticiadas, porque os meios de comunicação noticiam o que alguém, que nunca sabemos quem é, alguém absolutamente invisível, como o Mercado, este alguém soberano que determina quais notícias serão noticiadas e ordena quais mereceram ser difundidas.

Fato semelhante acontece com os artistas, eles nunca sabem o que os fará famosos, se pertencer a uma coleção famosa ou se, pela sua arte, alcançar o mérito suficiente para ser difundido e/ou convertido em Mito.
Mídia e Fama estão estreitamente ligadas e infelizmente mesquinhos interesses são perpetuados a partir deste sistema que não beneficia ninguém, ainda que garanta lucros a alguns.

Arte fabricada a partir de mídias e mitos termina sendo arte e arte nunca pode ser um negócio, muito menos um bom negócio. Em última instância, é um péssimo negócio para o futuro de uma sociedade.

Por fim, Arte não é objeto, não é mercadoria, não é moda. Arte é Arte, cabe ao artistas nos mostrar o que é a sua Arte e, nela, manteremos a infinitude e estabilidade do núcleo do que é o Humano.


FONTE: Cultura e Mercado