terça-feira, 17 de julho de 2007

A voz e o suor

O verbo cantar nunca foi conjugado com tamanha freqüência quanto nestes tempos de revelação de Ídolos (SBT/Alterosa), além da mania do videokê, que se prolifera com a popularização do DVD. Cidade base de grandes mestres do canto popular, Belo Horizonte sedia escolas indicadas para os interessados em se aprofundar na prática, que vem atraindo candidatos de todas as faixas etárias e sociais. Com metodologias diferenciadas, Eladio Pérez-González (Fundação de Educação Artística – FEA), Maria Amália Morais (foto), a Babaya( (Babaya Escola de Canto) e a professora particular Neide Ziviani são responsáveis pelo boom do setor na capital, que viu ascender talentos como Vander Lee, Paula Santoro, Trio Amaranto, Kadu Vianna, Marina Machado e Podé Nastácia, da banda Tianastácia.

“Muitos têm metodologia apropriada ou adaptada do canto lírico, mas em Babaya eu reconheço e admiro o fato de ela se ter dedicado ao desenvolvimento de um método próprio para o canto popular”, afirma o preparador vocal e professor Ernani Maletta, cujo trabalho no curso de teatro da Escola de Belas Artes da UFMG defende a atuação polifônica do ator. Ex-aluno de Eladio e Babaya, Ernani admite que, ao trabalhar com uma diversidade maior de timbres (desde cantores de MPB aos de heavy metal, passando pelos de música pop e estrangeira), a professora acabou criando um estilo de ensino que se vem difundindo Brasil afora, graças às oficinas com apostilas próprias que Babaya ministra. Além disto, a professora já lançou os CDs O prazer da voz saudável, com mais de 5 mil cópias vendidas, e Exercícios vocais extraclasse I (Intermediário) e II (Avançado).

Mestre de intérpretes consagrados como Elizeth Cardoso e Nara Leão, Eladio Pérez-González, paraguaio radicado no Brasil há 60 anos, se adiantou e publicou o livro Iniciação à técnica vocal, cuja edição do autor está à venda na FEA (R$ 30). “O cantor tem de cantar com a voz que tem, não com a voz que gostaria de ter”, ensina Eladio, cujo método de trabalho começa com exercícios respiratórios baseados na autopercepção do cantor. “A voz é um traço físico herdado como qualquer outro do ser humano”, defende o professor, que, além de extensão, trabalha a potência e resistência da voz com seus alunos. Para dar conta de demanda, ele preparou a assistente Valéria Costa Val, com quem se reveza nas aulas.

Estilo definido
Desejo, musicalidade, disponibilidade para o estudo, curiosidade, força de trabalho e estilo estético definido são alguns dos requisitos básicos para um cantor popular, na opinião da professora Babaya. Mineira de Cássia, no Sul de Minas, que aprendeu a cantar com a mãe violinista, ela desenvolveu método próprio de trabalho a partir do encontro com a foniatra Regina Lopes, com quem criou a sua primeira escola (Voz Ativa) na capital, depois do fechamento da Música de Minas, de Milton Nascimento e Wagner Tiso. Naquela escola, ela começou a dar aulas, depois de graduar-se na Fundação Clóvis Salgado do Palácio das Artes e Ordem dos Músicos do Brasil.

Há 15 anos instalada no Bairro Santo Antônio, a Babaya Escola de Canto recebe cerca de 300 alunos por ano. “Em busca de uma escola com crédito no mercado, há dois anos e meio faço o curso de técnica vocal que me tem proporcionado sustentação para dar seis aulas por dia e ainda fazer minha aula de canto, sem maiores problemas”, diz Liliane Alves, que, além de cantora, é professora. “O método é eficaz”, garante Liliane, elogiando os projetos Cantoria, Ensaio aberto, Trampolim, Canjas de sexta , Construindo um show e Mostra de cantores (infantil e adulto), criados pela escola para dar suporte profissional aos alunos.

Boas dicção e colocação de voz, extroversão, expressão, experiência profissional e suporte financeiro são indispensáveis à carreira de intérprete, de acordo com Neide Ziviani. Ex-cantora lírica que não dispensa a técnica no ensino do canto popular, a professora diz que além do contato físico, o envolvimento mental e espiritual com o aluno são indispensáveis ao aprendizado. “É preciso trazer o canto de dentro para fora”, justifica Neide. Para ela, a voz de um cantor é moldada como uma escultura. “O trabalho é o mesmo desenvolvido com um instrumento”, compara Neide Ziviani. “As aulas são importantes para a gente ter o domínio de técnicas como respiração, emissão, dicção e sustentação, que vão nos auxiliar na preservação do aparelho fonador”, afirma o jovem cantor Kadu Vianna.

Cultura literária
De acordo com Eladio Pérez-González (foto), qualquer pessoa pode cantar, desde que desenvolva suas possibilidades e respeite seus limites naturais. Ter cultura literária também é essencial, já que às vezes o cantor terá de interpretar autores extremamente requintados, como Chico Buarque e Caetano Veloso. E mais: González diz que os cantores precisam de ter humildade para entender que, por mais talento que tenham, cada qual não passa de uma ponte entre a obra musical e o público. No curso de iniciação à técnica vocal ministrado pelo professor, depois dos rudimentos técnicos, em geral apresentados em um semestre, o aluno passa a fazer repertório. O violonista Noca Torino é responsável pelo acompanhamento em sala de aula.

Adepta de exercícios preventivos, Babaya diz que desenvolveu metodologia própria a partir do interesse dela pela saúde da voz. Fui trabalhando o aprimoramento da voz no canto popular por meio de exercícios, sem me afastar dos conhecimentos da fonoaudiologia e otorrinolaringologia, explica, salientando que a convivência com o teatro acabou contribuindo para o aprofundamento de suas técnicas. Babaya trabalha os alunos, individual e coletivamente, com o auxílio dos professores Andréa Amendoeira, Camila Jorge, Kátia Couto, Márcia Maria, Marcos Rezende, Mariana Brant, Regina Milagres, Ricardo Trigueiro, Silvia Zappulla e Rose Kátia. Preparadora vocal e ensaiadora de grupos de teatro como Ponto de Partida, de Barbacena, e Galpão, Babaya, que também trabalha com Gabriel Villela, foi indicada ao Prêmio Shell de Teatro, na categoria direção musical, pelo trabalho com o diretor, ao lado de Ernani Maletta e Fernando Muzzi.

ONDE ESTUDAR CANTO EM IPATINGA
Escola de Música Pereira Mello
Tel: (31) 3822-5410

Rua Caetes 375 Iguacu - - Ipatinga - MG



Escola de Educação Musical Mozart
Tel: (31) 3826-3298

Rua Aleijadinho 111 cid Nobre - - Ipatinga - MG



Escola Mun. de Música Ten. Oswaldo
Tel: (31) 3829-8398

Av Vinte e Oito de Abril 715 - an 2 Centro - - Ipatinga - MG



Coorporacao Musical Santa Cecilia
Tel: (31) 3821-6434

Av Jose Julio da Costa 2705 Ferroviarios - - Ipatinga - MG



Marta de Souza Jersey
Tel: (31) 3823-6391

Av Vinte e Oito de Abril 465 Centro - - Ipatinga - MG



Mauro Sergio Borges
Tel: (31) 3822-2575

Rua Milton Campos 466 cid Nobre - - Ipatinga - MG



FONTE: Jornal Estado de Minas
CONTINUAÇÃO: "Onde Estudar canto em Ipatinga" fonte: via 102 Telemar

Novo Edital da Ancine

A Agência Nacional de Cinema (Ancine) está abrindo inscrições para a seleção pública de projetos de obras cinematográficas de co-produção luso-brasileira.

O edital foi publicado no Diário Oficial da União desta sexta-feira, dia 13 de julho, e se destina a filmes longa-metragem, de produção independente, nos gêneros ficção, documentário ou animação, cujas filmagens ainda não tenham iniciado. O apoio financeiro do edital será o equivalente em reais a US$ 300 mil.

O concurso é voltado para empresas produtoras brasileiras que tenham participação minoritária em obras cinematográficas portuguesas. Serão classificados dois projetos audiovisuais, podendo a Comissão Especializada de Seleção estabelecer até dois projetos suplentes, no caso de haver alguma desistência.

São consideradas obras cinematográficas todas as realizações audiovisuais cuja matriz original de captação é uma película com emulsão fotossensível ou matriz de captação digital, cuja destinação seja prioritariamente às salas de exibição.

As inscrições estão abertas até o dia 31 de agosto de 2007 e podem ser feitas diretamente no escritório central da Ancine/Superintendência de Fomento – Av. Graça Aranha, nº 35, 4º andar, CEP 20.030-0025, Rio de Janeiro- RJ – ou via postal (encomenda expressa modalidade 24 horas), contendo dois envelopes lacrados com a seguinte identificação: Edital Nº 05/2007 - “Produção de Obra Cinematográfica de Longa-Metragem em Regime de Co-Produção Luso-Brasileira”.

O primeiro envelope deve conter a documentação exigida para o concurso e o segundo envelope, o projeto técnico (apresentado em quatro vias).

Exigências para a Participação
O proponente deve ter produzido (com participação majoritária) no mínimo uma obra cinematográfica de longa-metragem, um telefilme ou minissérie. Poderá inscrever apenas um projeto. A empresa produtora nacional precisa estar registrada junto à Ancine e ter assegurada a titularidade de pelo menos 20% dos direitos patrimoniais da obra a ser realizada em co-produção com empresa portuguesa. É vedada a inscrição de empresas na qual figure integrante-membro da Comissão Julgadora.

Os projetos serão selecionados levando em conta a relevância do ponto de vista das relações culturais entre os países envolvidos; a qualidade técnica e artística; e a relevância da participação técnica e artística nacional do país minoritário na co-produção.

Edital Quintas do BNDES

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lança o edital do Quintas do BNDES com alterações nos critérios de seleção. Na versão de 2007, o projeto teve reformulados os critérios de seleção de suas atrações, escolhidas a partir deste ano, por concurso.

O edital deste ano prevê que os shows sejam classificados em três categorias. Os vencedores do edital receberão R$ 18 mil (categoria Renome); R$ 12 mil (Destaque); R$ 6 mil (Novos Talentos). A mudança visa conferir maior valorização e reconhecimento aos músicos contemplados, que receberão um diploma de premiação.

Criado há 22 anos, o projeto é gratuito e aberto ao público. O objetivo do concurso é que sejam contratados tanto espetáculos artísticos musicais que já tenham demonstrado consistência, originalidade e potência criativa em jornadas anteriores quanto performances de profissionais iniciantes. Poderão participar também espetáculos que já estiverem inseridos no circuito artístico, com acesso consolidado aos canais de difusão.

Todas as informações e o regulamento do novo processo de seleção ficarão disponíveis no portal do BNDES, bem como os resultados, a fim de dar transparência e acessibilidade aos interessados.

A inscrição começa no próximo dia 18 e vai até 31 de agosto, será gratuita e aberta a artistas ou grupos de artistas e aos respectivos empresários. Um mesmo concorrente poderá apresentar mais de um projeto, destinado a artistas diferentes, mas cada artista poderá ser contemplado em um único projeto.

Poderão concorrer projetos de apresentações de qualquer gênero musical, que deverão ser claramente indicados pelo candidato no ato da inscrição. Os concorrentes optarão por uma das três categorias, conforme a qualificação dos artistas que compõem os projetos musicais.

Os resultados deverão ser divulgados até o final de outubro de 2007. As apresentações musicais dos vencedores do concurso se darão no período entre novembro de 2007 a outubro de 2008. Mais informações no site www.bndes.gov.br

Vantagens e conflitos dos sistemas de incentivo

Não sou produtor cultural. Nunca escrevi um projeto, não fazia idéia até pouco sobre como funciona um programa de patrocínio. Decidi então começar uma pesquisa localmente. A prefeitura da cidade onde moro, Recife, tem o Sistema de Incentivo a Cultura (SIC), que aprova projetos em várias áreas diferentes. De todas, concentrei meus olhares nos de música, por afinidade e pela quantidade de projetos.

No ano passado, a Secretaria de Cultura da Prefeitura da Cidade do Recife distribuiu, através do Sistema de Incentivo a Cultura (SIC), um total de R$ 329.947,48 entre 11 projetos ligados à área de música. Fui conferir cada um dos projetos aprovados na edição anterior e eram quase todos para a gravação de CDs, com exceção do festival de música clássica Virtuosi.

No SIC, música não é apenas a área com o maior número de projetos aprovados, como é também a que tem os maiores valores. Seguido de teatro, que em 2006 aprovou dez projetos. No total, todos os aprovados somaram R$ 1,200,000 (um milhão e duzentos mil), que equivale a 1% da arrecadação do município. Parcela que ainda é considerado pouca para a maioria dos produtores, que defendem um recorte maior dessa arrecadação.

Isso não significa que, se aprovado, o projeto leva esse dinheiro. O que ele ganha é o direito de dar a uma empresa – um mecenas – a isenção fiscal para que esse dinheiro seja revertido diretamente em cultura. Alguns conseguem captar o que pedem, outros conseguem mais. Uma parte considerável também não consegue, o que tem levado a secretaria em repensar essa lógica. “Esse dinheiro viraria imposto arrecadado de toda forma, então talvez encaminharmos ele direto, a secretaria consiga garantir que os produtores possam fazer seus projetos”, ponderou o secretário de cultura do Recife, João Roberto Peixe.

Para ter uma idéia de quanto representa este valor de R$ 329,947,48, consultei o técnico de som Leonardo Domingues, do estúdio Mr. Mouse. Segundo ele, um disco com média de 12 faixas, gravado e mixado em estúdio, com uma prensagem de mil cópias, tem custo médio hoje de R$ 20 mil. O que significa que com o valor total distribuído entre os projetos de música poderiam ter sido gravados, por exemplo, cerca de 17 CDs. Para o SIC, custos de lançamentos devem ser suprimidos, o projeto tem que ter a cultura como um fim e também uma contrapartida social. Então esse dinheiro é única e exclusivamente para o CD.

Os 11 projetos observados têm diferenças entre os valores específicos. Os horários de gravação, por exemplo, estão custeadas entre R$ 40 e R$ 80, sendo o último valor cobrado por menos que quatro estúdios da cidade. Os mais requisitados pelos artistas que aprovam no SIC, o Fábrica e Mr.Mouse, têm valor tabelado respectivamente de R$ 70 e R$ 60, sendo sempre negociado de acordo com o cliente. Os projetos apresentam também valores diferentes para a prensagem dos CDs, serviço que só é oferecido por duas empresas, ambas cobrando o mesmo valor de R$ 4.

Segundo as regras de pontuação do SIC, esses detalhes técnicos tem peso 1 na decisão da aprovação do projeto. Para o secretário de cultura da cidade, João Roberto Peixe, "não se pode padronizar todas as áreas, cultura é algo que tem uma flexibilidade muito grande, então não teríamos como ter todos os discos ou obras de arte feitas com o mesmo valor". A garantia que a Prefeitura pode dar é estabelecer um limite de R$ 50 mil por projeto. "Um projeto diferenciado requer um custo diferenciado por ser tecnicamente diferente, não temos como estabelecer critérios para isso", explica.

Apesar disso, existem subjetividades relevantes entre os projetos aprovados. Enquanto o disco "Coque: Arrebentando Muros Invisíveis" pediu R$ 24.084,91 para um projeto que incluía ensaio, transporte e gravação de oito bandas diferentes, o disco "Maestro Ademir Araújo - O Mestre da Banda" conseguiu quase o dobro, R$ 49.999,09 (havia pedido R$ 71,590,79). Sem especificar transportes ou horas de ensaio, a única diferença entre os dois projetos é que o segundo previa o pagamento de direitos autorais no valor total de R$ 3 mil.

Observando os projetos concluídos, foi percebido que existe também um acumulo das funções propostas. Muitas vezes o próprio músico é o projetista, captador de recursos e, principalmente, produtor musical e executivo do projeto do disco. Situação que é comum na cadeia produtiva da música independente, quando as funções existentes no modelo de uma grande gravadora são suprimidas. No Sic, juntas, essas funções somam cerca de R$ 10 mil em quase todos os projetos.

Uma outra subjetividade delicada diz respeito à contrapartida social proposta pelos projetos. Em quase todos os projetos referentes à gravação de disco, é oferecido a doação de uma parte da prensagem. O grupo Sá Grama, por exemplo, destinou 150 cópias, de uma prensagem de 3 mil CDs, ao Instituto Social à Criança, presidido pela dama (sic) do Recife. Já o CD "Onde o Amor foi Demais", que aprovou um valor de R$ 48.232, ofereceu a contrapartida na forma de "gerar empregos diretos e indiretos ... porque a gravação vai ser feita em nossa cidade".

Levei a questão ao sociólogo, compositor – já teve músicas gravadas pelo ótimo Gonzaga Leal - e professor da pós-graduação em sociologia da Universidade Federal de Pernambuco Paulo Marcondes, "a contrapartida é válida, porque o CD é o material que o artista dispõe e, apesar de ser um produto estético, é também de mercado". Marcondes fez questão de frisar que precisaria de uma reflexão maior sobre o assunto, mas atentou ao fato do pouco valor que um CD tem hoje, devido à crescente queda de vendas.

Em primeira instância, entretanto, ele opina que "seria mais válido que fossem determinados um número de shows pagos, gratuito para o músico que estaria abrindo mão de seu cachê, com a renda dos ingressos revertida para essas instituições porque hoje em dia o artista fatura verdadeiramente com o show e não com o disco". Algumas contrapartidas interessantes que surgiram nos projetos diziam respeito a um trabalho aproximado à auto-estima de um bairro. De novo, o CD do Coque (uma favela do Recife) chamou atenção, já que se destinaria a trabalhar a música sob uma nova abordagem. Dizia assim: “queremos tirar o bairro dos cadernos de política dos jornais e colocar nos de cultura”.

E nas suas cidades, como funciona esse processo de incentivo a cultura?
POR: Bruno Nogueira