sexta-feira, 31 de agosto de 2007

ENTREVISTA - Darlan Cunha e Douglas Silva

Em entrevista Darlan Cunha e Douglas Silva, protagonistas do filme "Cidade dos Homens" contam desde como se conheceram até a produção do novo filme dirigido por Paulo Morelli.








Como vocês se conheceram?
Douglas: Foi durante os testes para Cidade de Deus, no Nós do Cinema. Os meninos eram divididos por faixa etária e horários da escola. O Darlan estudava à tarde e eu de manhã. A gente nem se via.
Darlan: Daí, quando ficou definido que eles fariam o Palace 2 para o Brava Gente, da Globo, começaram a juntar os meninos e a gente se conheceu. No começo a gente nem se dava bem, até que um dia pedimos para a Kátia Lund para fazer os exercícios juntos. Começamos a trabalhar juntos no Palace 2.

Quando surgiram Laranjinha e Acerola?
Douglas: No Palace 2, em 2000. Eram personagens do livro Cidade de Deus, do Paulo Lins. Mas a gente mudou os papéis. Era para eu ser o Laranjinha e ele o Acerola. Mas, em cima da hora, a Kátia Lund falou: que tal vocês mudarem o papel? Porque eu tinha uma cara mais de medroso, e o Darlan de atrevido. O Acerola tinha cabeça para se dar bem em algumas situações, mas o Laranjinha é mais esperto. O Laranjinha se dava bem com as mulheres, com o trabalho, ele se dava bem em tudo.

De onde vocês partiram para a criação dos personagens?
Darlan: A gente tinha a história que era de dois amigos que cresciam juntos e tinham que conviver com as dificuldades da comunidade.
Douglas: Eles gostaram da maneira como a gente fazia. Davam a situação e a gente criava em cima, davam a idéia do que seria a cena e a gente ia criando, colocando as características dos personagens.
Darlan: Eles abriram espaço pra gente dar mais realidade às cenas, até na direção. A gente contou muita história, desde as oficinas, em todo o processo, todo mundo tinha história para contar, coisas da comunidade. Isso tudo foi juntado na série e no filme. A gente falava: isso não funciona assim, essa frase não se diz assim.

Como foi a evolução do Laranjinha e do Acerola da série para o filme?
Douglas:
Teve uma evolução, porque no início o Acerola e Laranjinha eram pequenos, queriam só curtir, daí foram crescendo, chegaram à adolescência, queriam pegar mulher, perderam a
virgindade na mesma época. Eu da primeira vez dei azar e engravidei a menina, o Laranjinha continuou a curtir e nisso surgiram várias histórias, ele se metia com a mulher do ex-bandido, dava confusão....
Darlan: E eles foram crescendo, começaram a trabalhar, a responsabilidade que eles foram ganhando mostra a evolução também.

Vocês começaram esse trabalho com 11 anos, agora têm 18. Como é crescer junto com o personagem?
Douglas: Ano passado eu reparei que o Acerola foi uma terapia para mim. Porque tinha coisas da minha vida, histórias e sentimentos, que o personagem conseguiu expressar para mim.

No filme, nenhum dos dois personagens conhece o pai. Na vida real, o mesmo aconteceu com vocês. Como foi falar disso?
Darlan: Nas comunidades isso é muito comum, geralmente as pessoas têm filhos muito cedo e os pais não querem assumir a responsabilidade, essa é a nossa história também. Para gente é bem comum, mas eu sempre senti falta, sempre quis ter pai. E no filme isso foi difícil, mexeu muito comigo porque no começo das filmagens eu não sabia do paradeiro do meu pai, depois eu descobri que ele tinha morrido.
Douglas: Quando eu era mais novo não entendia muito essa coisa, mas agora penso: não tenho pai, mas não é o final do mundo, tem muita gente que tem pai e mãe e perde os dois de repente num acidente. Então botei na minha vida: vamos pensar que meu pai morreu, é isso e acabou. Então é normal, soube lidar com isso. Agora, cuidar do Clayton para mim foi super normal, porque sempre cuidei dos meus irmãos. Minha mãe jogou essa responsabilidade para mim, sou o segundo mais velho, ela teve cinco filhos, então sempre tive que ajudar a cuidar dos mais novos.

Para vocês, qual é a importância de contar essas histórias?
Darlan: Ajuda a ver mais a necessidade das pessoas que vivem na favela, o dia-a-dia dessas pessoas, a realidade das favelas. Essa era a primeira idéia do filme, não contar apenas a realidade do tráfico, das pessoas envolvidas no crime, mas mostrar o cotidiano, porque na favela 90% das pessoas não estão envolvidas com o crime e acabam pagando o pato disso também. Favelado acaba sendo tratado tudo igual.
Douglas: Muda também o ponto de vista das pessoas. Desde Cidade de Deus, foi mudando o jeito de pensar. Tem mais gente negra hoje usando black,
assumindo a sua identidade. Antes negão era visto como ladrão. A sociedade generalizava.

As pessoas se sentem representadas por esses personagens?
Douglas: Com certeza. Cidade de Deus foi o primeiro programa a retratar o que passa na favela e as pessoas ficam felizes em se ver retratadas ali. Nas comunidades colocavam a TV para fora, todo mundo saía mais tarde, era tipo Copa do Mundo.
Darlan: E não é só na favela. O namorado da minha sogra, que é personal, tinha várias aulas desmarcadas na hora da série. Ela atingia várias classes sociais.


FONTE: Divulgação

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