quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Comentários do dia

Olá amigos leitores,

Na edição de hoje apresentamos como capa a matéria LUZ, CÂMERA E CRÍTICA como um ressaltona relação da crítica com o cinema nacional publicada pelo Jornal O Tempo de Belo Horizonte.

Notas rápidas como o Prêmio para Fotógrafos em Brasília e o primeiro beijo gay da televisão brasileira, que vai ao ar através da minisérie "Queridos Amigos".

Trazemos ainda a estréia no Brasil do filme "Jogos do Poder" com Julia Roberts e Tom Hanks. Tomara que chegue até aqui.

No BOA LEITURA uma matéria sobre "Os esquivocos que envolvem a arte e o ensino".

A todos uma boa leitura.

Luz, câmera, crítica

I Mostra Filmes Polvo, que começa hoje em Belo Horizonte, quer ampliar o debate sobre a crítica e suas relações com a produção cinematográfica

Não apenas com filmes se constrói a cinematográfica de um país. É fundamental que haja também alguma forma de articulação entre eles, estabelecendo parâmetros estéticos e ideológicos e criando, com isso, um conjunto cuja identidade seja capaz de expressar uma cultura. A crítica e suas variadas relações com a produção cinematográfica é o principal instrumento dessa articulação necessária e foi tomada como o tema central da I Mostra Filmes Polvo de Cinema e Crítica: Entre a Reflexão e a Realização, que começa hoje, no Cine Humberto Mauro, e reúne críticos, cineastas e sobretudo aqueles que exercem as duas atividades, além da exibição de filmes que tratam da temática (veja programação abaixo).

A mostra vem celebrar o primeiro ano de vida da revista eletrônica "Filmes Polvo" (www.filmespolvo. com.br), composta de nove integrantes e dedicada exclusivamente a textos e ensaios sobre cinema. "Queremos apresentar uma nova fase, inaugurando outro visual do site", afirma Rafael Ciccarini, editor da "Filmes Polvo" e coordenador da mostra. "O que mais nos interessa, porém, é a reflexão. Não basta apenas a celebração do aniversário. A idéia é tentar retomar a tradição crítica e cineclubista que Minas Gerais sempre teve."

A escolha por exibir filmes de quem antes pensou o cinema veio ao encontro de um histórico que vai além das fronteiras nacionais (remetendo a Godard e Truffaut, fundadores da revista "Cahiers du Cinema" e importantes autores nas telas francesas), mas guarda por aqui significativos momentos. "O próprio Glauber Rocha, o nosso maior cineasta, foi também um crítico. E é preciso entender o que ele escrevia para entendermos o diretor que foi", afirma Ciccarini.

A mostra tem início hoje com a exibição do documentário "Crítico", do pernambucano Kleber Mendonça Filho. Repórter e analista de cinema no "Jornal do Commercio", do Recife, Kleber passou dez anos registrando entrevistas com críticos e cineastas para abordar justamente a relação entre um lado e outro e se é possível a "convivência" entre ambos. "O filme é, antes de tudo, sobre relações humanas e busca pensar, em parte, como cada um lida com aceitação e rejeição", explica o diretor, acrescentando que o longa é um subproduto direto do seu trabaho como jornalista. Toda a obra em curta-metragem do pernambucano, composta por quatro trabalhos (como os premiados "Vinil Verde" e "Eletrodoméstica"), ganhará uma retrospectiva na mostra.

Além de Kleber Mendonça, participam da Mostra Filmes Polvo, tanto em presença nos debates como em filmes exibidos, cineastas-críticos experientes, como Carlos Reichenbach ("Filme Demência") e os mineiros Paulo Augusto Gomes ("Idolatrada") e Geraldo Veloso ("Perdidos e Malditos"), e outros de uma geração recente, casos de Tiago Mata Machado ("O Quadrado de Joana"), Cléber Eduardo ("Almas Passantes") e Eduardo Valente ("Um Sol Alaranjado").

"Há muito o que ser pensado. O cinema brasileiro tem uma série de problemas, da relação com o público até a distribuição", comenta Ciccarini. "E uma cinematografia não se faz apenas a partir de filmes, mas também da reflexão, criando parâmetros e dando sentido ao que é produzido". Ele frisa que a mostra serve ainda como forma de agregar um novo viés de pensadores de cinema que vem se formando em revistas virtuais, como Contracampo, Cinética e Cinequanon.

O crítico Marcelo Miranda, que atua no Magazine e na "Filmes Polvo", comenta que, numa mesa de debates com os editores dessas revistas, a ser realizada amanhã, os participantes deverão estar "numa espécie de berlinda". "Queremos que eles também ouçam opiniões porque é preciso fazer todos pensarem o próprio trabalho", diz Marcelo.

Dinâmica

Rafael Ciccarini enxerga a mostra como uma forma quase psicanalítica. "Uma das características do cinema contemporâneo é a auto-reflexividade, ou seja, quando um filme reflete o seu próprio processo de criação e se assume enquanto linguagem. Sempre senti falta disso no cinema brasileiro. Mas aí vem filmes como ’Crime Delicado’, do Beto Brant, ’O Quadrado de Joana’, do Tiago Mata, ’Serras da Desordem’, do Andrea Tonacci, ou ’Jogo de Cena’, do Coutinho’, e tocam nessas questões de identidade", diz.

Relacionando as convergências entre pensar e fazer, e a importância disso para a constituição de cinematografias específicas, Cléber Eduardo, ex-crítico da revista "Época" e hoje um dos editores da "Cinética" (www.revistacinetica.com.br), contextualiza: "Em alguns momentos da história do cinema, aconteceram avanços e transformações na linguagem que eram reivindicados na crítica antes mesmo de se darem na prática. Nas vanguardas dos anos 20, por exemplo, os próprios realizadores eram também teóricos que tinham testamentos escritos sobre a questão da linguagem".

Cléber lembra os casos do neo-realismo italiano, do cinema soviético, do próprio Cinema Novo brasileiro e da Nouvelle Vague francesa. "Em muitos desses momentos de renovação ou de ruptura com a linguagem hegemônica, você tem a crítica como celeiro teórico de suas manifestações."

Diretor de "Almas Passantes" junto com Ilana Feldman, Cléber acredita que a dinâmica de filmagens distancia-se muitas vezes da reflexão crítica. "A produção de um filme é um território empírico, cujos problemas você vai ter que resolver na hora. Depende muito mais de uma capacidade de decisão e pragmatismo. A partir do momento que você passa para o exercício prático, você se depara com exercícios autônomos e todas essas contingências da prática que não têm nada a ver com crítica, mas, sim, com questões técnicas", pondera ele.

No momento, ele está envolvido em outro projeto - um documentário sobre a torcida do Juventus, de São Paulo. "Seja quando estive realizando ’Almas Passantes’ como agora, estou trabalhando com a motivação que nasceu do fato de escrever sobre cinema", conta. "Como tenho conhecimento da história dos filmes, do que já foi feito, do que ainda pode ser realizado, a atividade crítica é um estímulo para a realização. Ao mesmo tempo é uma angústia porque às vezes a consciência do que já foi feito pode ser inibidora. Aí você tem que quebrar mais a cabeça porque acha sempre que aquilo vai ficar óbvio."


FONTE: O Tempo

Por: Douglas Resende

'Jogos do Poder' traz Julia Roberts e Tom Hanks

Diretor Mike Nichols, de 'Closer', volta a discutir sexo e poder, mas desta vez na seara pública


Julia Roberts e Tom Hanks em cena de 'Jogos do Poder'

Clique na imagem para ampliar

SÃO PAULO - É um caso raro de inadequação de pessoa em Hollywood. Em Jogos do Poder, seu primeiro longa desde Closer (Perto Demais), Mike Nichols volta a discutir sexo e poder, mas desta vez ele sai da seara privada para a pública. Tom Hanks faz o congressista Charlie Wilson, mulherengo e cheirador (de cocaína), mas boa praça, que se associa a bilionária texana (Julia Roberts, loira) para expulsar os soviéticos do Afeganistão. O personagem é real, a campanha afegã é real, mas no final um letreiro informa que, no limite, o que a ação individual de Charlie conseguiu, ao não ganhar continuidade do governo dos EUA, foi fazer com que as armas entregues aos Mujahedins terminassem nas mãos dos talebans, voltando-se contra os próprios norte-americanos no fatídico 11 de Setembro.

Jogos do Poder entra sexta-feira, 29, em cartaz, depois de disputar uma solitária indicação para o Oscar - a de melhor ator coadjuvante para Philip Seymour Hoffman, que ele não ganhou (afinal, é o ano de Javier Bardem e Onde os Fracos Não Têm Vez). Onde entra nisso a inadequação de pessoa? Na verdade, são duas - de onde o diretor Nichols tirou que Tom Hanks era a melhor escolha para o papel? O próprio Nichols reabre a vertente da discussão sobre sexo, presente em sua carreira desde A Primeira Noite de Um Homem (e até antes - Quem Tem Medo de Virginia Woolf?), mas se a intenção era fazer um Closer em Washington ele quebrou a cara.

A explicação para Tom Hanks talvez seja simples. Nichols simplesmente não quis repetir John Travolta, com quem havia feito Segredos do Poder (Primary Colors), e o problema é que ninguém interpreta Travolta melhor do que o astro de Tempo de Violência (Pulp Fiction). Tom Hanks até que tenta, mas não dá. A cabeleira loira de Julia Roberts também não ajuda muito, mas pode ser que seja ironia do diretor - a mistura de franqueza sexual e fundamentalismo cristão da personagem dela teria de esbarrar em alguma coisa. Esbarrou na falta de apelo erótico de Tom Hanks. Ele pode ir para a jacuzzi, para a cama, cercar-se de belas mulheres no escritório do Congresso, mas o olhar safado de Philip Seymour Hoffman para o traseiro de uma das ‘garotas’ vale mais do que todo o esforço de Hanks.

Com alguma boa vontade, podem-se buscar (com lupa) as qualidades de Jogos do Poder. Nichols baseou-se no livro de George Crile, que conta uma história real - Charlie Wilson existiu, era um congressista do baixo clero e se reelegeu sucessivas vezes até meados dos anos 90 -, indo buscar ajuda no roteirista Aaron Sorkin, que escreveu a série West Wing, sobre os bastidores da Casa Branca. Sorkin escreveu um diálogo taco-no-taco, mas, ao contrário de Perto Demais, a narrativa que ziguezagueia do Congresso para a ‘Casa Branca’ (seja lá como se chame) do Paquistão ou as muralhas de Jerusalém, onde Charlie Wilson sela a alianças secretas de inimigos tradicionais, não se presta muito a esse diálogo ‘íntimo’. Ou talvez seja de novo o ator - é tudo tão cínico, mesmo quando os personagens estão sendo idealistas e sinceros, que seria necessária a cara-de-pau de Travolta para garantir a sustentação de Jogos do Poder.

Gostar ou não, eis a questão. Acreditar ou não. Charlie Wilson, na estrutura narrativa do filme de Mike Nichols, começa a narrativa sendo homenageado como o homem que derrotou a União Soviética, precipitando a Queda do Muro de Berlim. Mas, no final, depois que os Mujahedins expulsaram - com a ajuda da verba que Charlie Wilson conseguiu para eles no Congresso dos EUA - os soviéticos do Afeganistão, o herói, e por meio dele o diretor e o roteirista, lamentam que Washington não tenha querido continuar com a ajuda, construindo escolas para os afegãos, por exemplo. O erro foi fatal e, como conseqüência dele, embora esse quadro na vida real seja mais complexo de explicar, houve o ataque às Torres Gêmeas que mudou a geopolítica mundial a partir de 2001. Quem busca ‘mensagens’ não terá dificuldade de encontrar a de Jogos do Poder. O patriotismo é uma faca de dois gumes que, eventualmente, como aqui, pode se voltar contra os patriotas. Ah, sim, foi por isso então que Mike Nichols escolheu um ator certinho como Tom Hanks, para tornar o efeito bumerangue mais forte. Não deu certo, de qualquer maneira.


FONTE: O Estado de S. Paulo

Por: Luiz Carlos Merten

Globo exibe primeiro beijo entre homens

Na minissérie "Queridos Amigos", o homossexual Benny (Guilherme Weber) deu um beijo roubado na boca de Pedro Novais (Bruno Garcia). A cena foi ao ar no capítulo desta terça. Só se falava nisso, ontem na Globo, afinal a emissora nunca exibiu um beijo entre homens. Em "América", o beijo gay de Bruno e Erom Cordeiro, anunciado pela autora Glória Perez, foi vetado.

FONTE: Folha de São Paulo

Seleção de projetos abarca a diversidade

O programa Natura Musical, de patrocínio a projetos na área da música, acaba de divulgar os 13 selecionados no Edital Regional MG 2007 (clique na imagem ao lado para ver e ampliar). Eles abarcam diferentes estágios e processos, da produção à formação de público, passando pela circulação e pela formação artística. O valor total de recursos investidos corresponde a R$ 2 milhões, sendo R$ 1,6 milhão provenientes da Lei Estadual de Incentivo à Cultura e R$ 400 mil em recursos próprios. A gerente de marketing institucional da Natura, Renata Sbardelini, observa que os projetos contemplados representam bem as propostas do programa. "A idéia é valorizar a diversidade cultural e abrir portas para que os músicos de todas as correntes e regiões de Minas Gerais possam mostrar suas criações a diferentes públicos e a um número cada vez maior de pessoas", aponta.


O processo de avaliação e escolha dos projetos foi conduzido por uma comissão técnica independente formada pelos jornalistas Mariana Peixoto, Patrícia Palumbo e Pedro Alves Madeira, que também atua como produtor musical. Eles elegeram os 13 selecionados a partir de um total de 94 projetos inscritos. Os resultados apontados por essa comissão ainda foram avaliados por executivos da Natura, que fizeram a escolha final dos beneficiados. Três tópicos foram utilizados para a avaliação dos projetos - o caráter inovador, o reconhecimento da excelência artística e a possibilidade de abrangência. Foram destacados projetos que têm como objetivo principal a viabilização de iniciativas originais, criativas e, preferencialmente, inéditas no cenário cultural brasileiro.

Matizes

No quesito relativo à abrangência, pesaram as propostas cuja execução seja apreciada pelo maior número de pessoas possível, independente de níveis socioeconômicos, escolaridade, idade, sexo e nacionalidade. Com base nesses tópicos, a comissão técnica priorizou os projetos que pudessem expor as diferentes matizes da produção atual e que abrangessem diferentes regiões do Estado. Os responsáveis pela seleção buscaram apontar, ainda, iniciativas que vão além da obra de um só criador, mas que possam lançar luzes em um número maior de artistas.

Foi observado, ainda, o critério de continuidade. Dos 13 projetos, seis já vinham sendo desenvolvidos com o patrocínio do Natura Musical, sendo o mais antigo o Música no Museu, da Veredas Produções, que dá sequência a uma parceria iniciada há três anos. Os outros quatro são: Uakti, Sabará Musical, Luthier - Arte, Ofício e Cidadania, 2º FAD - Festival de Arte Digital e o IV Jambolada - Festival de Música Independente, todos selecionados no Edital Regional 2006. Desde seu lançamento, em 2005, o Natura Musical contemplou 91 projetos de diversos gêneros artísticos e estágios de produção musical, atingindo 17 Estados brasileiros de todas as regiões do país e um público de mais de 200 mil pessoas.


FONTE: O Tempo

Por: Daniel Barbosa

Prêmio para fotógrafos

Aberto a fotógrafos profissionais e amadores, o Prêmio Brasília Céu Aberto distribuirá um total de R$ 100 mil para os melhores cliques em oito categorias diferentes. As inscrições estão abertas até 28 de março, nas categorias arquitetura, cultura, esportes, lazer, política, social, natureza e comportamento. As 10 melhores imagens de cada categoria também participarão de um catálogo e de uma exposição. Os vencedores serão anunciados no dia 21 de abril. Os apaixonados por fotografia ainda poderão participar da seleção Fale como Você Vê Brasília, que contempla fotos feitas por aparelhos de telefone celular. As imagens também devem estar dentro da temática do concurso. Mais informações e inscrições no site www.premiobrasiliaceuaberto.com.br.

FONTE: Correiro Braziliense

BOA LEITURA

OS EQUÍVOCOS QUE ENVOLVEM A ARTE E O ENSINO

Hannah Arendt, em seu livro A Condição Humana, diz no capitulo “A permanência do Mundo e a Obra de Arte”:
“Entre as coisas que emprestam ao artifício humano a estabilidade sem a qual ele jamais poderia ser um lugar seguro para os homens, há uma quantidade de objetos estritamente sem utilidade e que, além disso, por serem únicos, não são intercambiáveis, assim sendo, não são passíveis de igualação através de um denominador comum como o dinheiro; se expostos ao mercado de trocas, só podem ser apreçados arbitrariamente. Além disso, o devido relacionamento do homem com uma obra de arte não é “usá-la”, pelo contrário, ela deve ser cuidadosamente isolada de todo o contexto dos objetos de uso comuns para que possa galgar ao seu lugar devido no mundo … a arte assim sobreviveu magnificamente à sua separação da religião, da magia e do mito”.

Isso implica dizer que toda e qualquer utilidade que tenha a Arte transforma-a em arte. Radical? Sim, muito, porque a necessidade de sobrevivência de uma cultura também é radical. A Arte só sobreviverá se são atendidas as suas especificidades.

Quais seriam estas especificidades? A nosso ver, o atributo principal da Arte é a liberdade do artista, se ele não é contemplado pela sociedade como alguém imprescindível, possivelmente essa sociedade perca ou mutile o que de mais valioso tem: as economias mudam e seus sistemas de poder também, os acumuladores perecem e é claro que para o futuro longínquo só sobrará a Arte, se ela conseguir sobreviver. Mas a arte comercializada, estruturada, definida como arte, essa não sobreviverá.

A Arte precisa ser concretizada em objetos para materializar-se como idéia e poder perpetuar-se no futuro, a Arte materializada pode ser vista somente como objeto e transformada em mercadoria, podendo ser comprada e vendida, como se pudesse se comprar Arte, liberdade ou felicidade!

A Arte não é instrumento para nada, nem objeto de consumo, é como a Filosofia, ambas são os níveis de entendimento mais elevados (não heirarquizados) que uma sociedade tem sobre si mesma.

Logo, seria a figura do artista a que tem que ser valorizada, não a do professor de arte, do curador, do critico ou do jornalista. Como se arte pudesse ser ensinada ou convertida em objeto de consumo. Se ensinar Arte fosse possível poderia se ensinar talento, criatividade. Segundo Gregory Bateson, este nível de comunicação com respeito à Arte, Amor e Felicidade (ensino, critica, descrição da arte são formas de comunicação), é nada mais nada menos do que uma situação de double-bind, ou seja, um grave problema que conduz a esquizofrenia quando não se pode sair desse sistema doente de comunicação, explico melhor: se eu digo para o outro: seja criativo! aprenda! me ame! seja livre! isto é Arte! Estou dizendo ao outro que os meus padrões são os corretos para sentir, pensar e amar, o que possivelmente devido à natureza humana, que é única e irrepetível, seja um verdadeiro terror ou inicio de uma tirania muito perigosa, tão intolerável que o único refúgio é a esquizofrenia.

Por isso, devemos insistir que Arte é assunto de Estado, entendendo o Estado como a instancia máxima da organização social, contrariamente ao mercado, que, para mim, é a instancia máxima da desumanização da sociedade.

Deve ser o Estado quem tem que manter o artista, o Estado é que tem que velar porque a Arte não se converta em Mercadoria e porque sejam os artistas os que tem se ocupem da difusão da Arte, abrindo e mantendo os espaços necessários para tal.

Reflitamos um pouco mais: porque a Medicina é cuidada e exercida pelos médicos? porque a Economia pelos economistas e a Justiça pelos advogados? e são médicos, economistas e advogados que cuidam da formação dos mesmos. Não tem economista ensinando cirurgia nem oftalmologista ensinando Direito Comercial.

Se consideramos que a Arte é assunto de artistas e são eles os que podem transmitir melhor que ninguém o que é Arte, criaremos um problema sério de continuidade desta sociedade, para alegria de muitos e infelicidade de poucos.

Acabaria a hierarquização da Arte, acabaria o mercado e seus sacerdócios exercidos por uns poucos escolhidos que jamais tem contato com as periferias onde mora mais do 80% dos seres humanos.

Para o artista, existiria um campo de trabalho enorme, se ele for mantido pela sociedade, se ele for dignificado pelo reconhecimento da relação que ele estabelece entre o passado, o presente e o futuro de cada sociedade na qual está inserido. E se isto acontecer, talvez a sociedade possa mudar. Talvez a liberdade deixe de ser um ideal para transformar-se em um utópico viável, talvez a Arte reprimida possa brincar nas ruas e avenidas e não ser desvalorizadas pelos canais de difusão.

Construir mitos é e será tarefa dos meios de comunicação, destruir mitos também. Numa sociedade utópica os meios de comunicação estariam a serviço da arte e não vice-versa. Hoje, como na Arte, vemos que as notícias tem que pedir por favor para serem noticiadas, porque os meios de comunicação noticiam o que alguém, que nunca sabemos quem é, alguém absolutamente invisível, como o Mercado, este alguém soberano que determina quais notícias serão noticiadas e ordena quais mereceram ser difundidas.

Fato semelhante acontece com os artistas, eles nunca sabem o que os fará famosos, se pertencer a uma coleção famosa ou se, pela sua arte, alcançar o mérito suficiente para ser difundido e/ou convertido em Mito.
Mídia e Fama estão estreitamente ligadas e infelizmente mesquinhos interesses são perpetuados a partir deste sistema que não beneficia ninguém, ainda que garanta lucros a alguns.

Arte fabricada a partir de mídias e mitos termina sendo arte e arte nunca pode ser um negócio, muito menos um bom negócio. Em última instância, é um péssimo negócio para o futuro de uma sociedade.

Por fim, Arte não é objeto, não é mercadoria, não é moda. Arte é Arte, cabe ao artistas nos mostrar o que é a sua Arte e, nela, manteremos a infinitude e estabilidade do núcleo do que é o Humano.


FONTE: Cultura e Mercado

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Comentários do dia

Olá amigos leitores,

A partir de hoje estamos na ativa de novo, é isso aí, voltamos com o BLOG com suas atividades normais e publicações diárias.

São sempre 07 notícias culturais postadas todos os dias até o meio-dia, a novidade é a BOA LEITURA, que passa a veicular diariamente. O que chamamos de BOA LEITURA será sempre o último texto apresentado no rodapé de cada dia, é um texto bem maior que os padrões de informação rápida adotados pela internet. No BOA LEITURA de hoje a matéria Patrocínio de quem pra quem? do site Cultura e Mercado.

Bom, no mais é isso aí, contamos com todos de volta e façam bom uso.

Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura

Escritores e interessados de todos o país têm até o dia 29 de fevereiro para se inscrever no ‘Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura’. As inscrições devem ser feitas na sede da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais (Superintendência de Ação Cultural – Palacete Dantas/Praça da Liberdade, 317, Funcionários, BH/MG – Cep.: 30140.010), das 10 às 17 horas, ou pelo Correio, mediante entrega da obra, que deverá ser apresentada de acordo com as normas estipuladas no Edital. Informações: (31) 3213.1072.

Uma ação inédita do Governo de Minas e da Secretaria de Estado de Cultura, o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura chega para promover e divulgar a literatura brasileira, reconhecendo grandes nomes e abrindo espaço para os jovens escritores mineiros. De caráter nacional, o Prêmio disponibilizará R$ 212 mil (duzentos e doze mil reais) - maior premiação nacional no segmento -, a quatro categorias: I - Conjunto da Obra, em que um escritor brasileiro será agraciado; II – Poesia; III - Ficção; e IV - Jovem Escritor Mineiro.

“É o maior prêmio de fomento e incentivo à literatura no Brasil. Uma oportunidade ímpar de homenagear importantes intelectuais da nossa literatura e de revelar futuros talentos”, disse a secretária de Estado de Cultura de Minas, Eleonora Santa Rosa.

Conjunto da Obra
A cada Edital, o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura irá reconhecer um autor brasileiro, vivo, pelo conjunto de sua obra, com uma premiação no valor de R$ 120 mil (cento e vinte mil reais) – desse valor serão descontados os impostos previstos em lei. São autores cuja obra, sendo de inegável valor e qualidade, contribuiu de maneira decisiva para novos rumos da produção ensaística e teórica brasileira. No Edital/2007, que marcou o lançamento do Prêmio, em dezembro do ano passado, na Academia Mineira de Letras, em Belo Horizonte, o autor agraciado é o professor e ensaísta Antonio Candido de Mello e Souza. Para as próximas edições, esta categoria será avaliada por uma comissão julgadora, composta por três membros de reconhecida importância no cenário literário atual.

Poesia, Ficção e Jovem Escritor Mineiro
Nas três categorias, cada proponente poderá inscrever uma obra autoral, inédita e não publicada. Nas categorias Poesia e Ficção, o Prêmio é aberto a escritores iniciantes e/ou profissionais, sem limite de idade, e nascidos e residentes em território nacional. Já a categoria Jovem Escritor Mineiro é restrita a pessoas com idade entre 20 e 35 anos, nascidas em Minas Gerais ou residentes no Estado há pelo menos cinco anos.

A premiação será atribuída ao primeiro colocado de cada categoria: Poesia: R$ 25 mil (vinte e cinco mil reais); Ficção: R$ 25 mil (vinte e cinco mil reais); e Jovem Escritor Mineiro: R$ 7 mil (sete mil reais), durante seis meses, somando o valor de R$ 42 mil (quarenta e dois mil reais), para pesquisa e elaboração de um livro. Desses valores, serão descontados os impostos previstos em lei.

Clique aqui e confira todos os documentos necessários para participar!

FONTE: Secretaria de Estado da Cultura

Secretaria estadual de Cultura do Rio vai atualizar a Lei do ICMS

Após 16 anos de sua criação, a Lei de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro, conhecida como Lei do ICMS, será atualizada. O processo de revisão da regulamentação da lei ocorrerá entre os dias 28 de março e 6 de junho de 2008 e será conduzido por uma comissão designada pela Secretaria de Estado de Cultura. Para adequar o processo de revisão às exigências contemporâneas, serão realizadas duas audiências públicas, dias 29 de abril e 20 de maio, com a participação de agentes culturais. Foi criado também o e-mail reformaleiicms@cultura.rj.gov.br para o recebimento de sugestões.

Os projetos protocolados na Lei do ICMS até 28 de março de 2008 serão avaliados no prazo de 30 dias. Os projetos já aprovados não sofrerão interrupção quanto a sua aprovação, fruição e prestação de contas. As prestações de conta em aberto devem ser esclarecidas no período de 30 dias a partir de hoje, data de publicação da resolução conjunta das Secretarias de Cultura e Fazenda.


FONTE: Extra!
Por: André Miranda

Festival de curtas em Minas

Vão até 14 de março as inscrições para as mostras competitivas brasileira e internacional do 10º Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte – marcado para o período entre 25 e 31 de julho, no Palácio das Artes. Serão aceitos trabalhos de todos os gêneros, finalizados em qualquer formato de vídeo e em película (16mm ou 35mm), cujos lançamentos tenham ocorrido entre janeiro de 2007 e fevereiro de 2008. O filme deverá estar finalizado na data da inscrição e ter no máximo 30 minutos de duração. As inscrições são gratuitas. Para efetuá-las, o interessado deve acessar o site oficial do evento (www.festivaldecurtasbh.com.br), onde é possível encontrar o regulamento. O anúncio dos filmes selecionados ocorrerá até o dia 20 de junho. Mais informações: (31) 3291-0524 e (31) 3291-1856.


FONTE: Correiro Braziliense

Pluralidade na tevê

Semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou a Medida Provisória 398/07, que cria a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) a partir da fusão da Radiobrás e da TVE. A nova instituição é a responsável pela TV Brasil, a primeira rede pública de televisão do País. Hoje, os deputados federais devem votar os destaques da MP para, só então, ela ser votada no Senado e poder vigorar para valer.

Apesar dos trâmites burocráticos ainda não terem sido concluídos, a emissora já opera, precariamente, desde o início de dezembro do ano passado. Atualmente, 18 emissoras regionais que eram vinculadas à TVE captam o sinal da TV Brasil (inclusive a TV Ceará). Por enquanto, a programação é composta, basicamente, pela própria grade da emissora que foi incorporada ao novo canal. No entanto, já está no ar o Repórter Brasil, programa jornalístico diário formatado pela própria EBC.

Na semana passada, o diretor-geral da TV Brasil, Orlando Senna, esteve de passagem por Fortaleza. Em entrevista ao O POVO, ele defendeu a importância da tramitação da MP não apenas para criar a EBC, mas para iniciar uma regulamentação sobre o campo público de TV no Brasil. "Isso resgata 50 anos de atraso no nosso País. Em qualquer outro país do mundo, a TV nasceu pública. Só aqui que ela nasceu privada", afirma ele.

Segundo ele, a TV Brasil permanece em processo de instalação até o fim de março. Daí até julho, o objetivo da emissora é conseguir delinear uma filosofia editorial própria e melhorar os programas herdados da TVE. Enquanto isso, o Conselho Curador, formado por 20 integrantes (dentre os quais, 15 são da sociedade civil), já fez reuniões para traçar objetivos para essa programação. A principal exigência dele, segundo Senna, é a presença da pluralidade em todos os programas para que haja a garantia de que o caráter público não seja soterrado por direcionamentos políticos pelo fato de o financiamento da emissora (R$ 350 milhões segundo o Orçamento de 2008) ser proveniente do governo federal.

De acordo com o diretor-geral, 18 emissoras públicas ligadas à TV Brasil já estão reunidas em um comitê que pretende discutir como deve funcionar o sistema de rede da emissora nacional e como ele pode alcançar, pelo menos, todos os estados da federação. A idéia é que essa rede seja descentralizada e horizontal, favorecendo o intercâmbio de conteúdos regionais e de produção independente de todo o Brasil.

O processo de co-produções e compra de programas seria feito por meio de edital, a exemplo de iniciativas já tomadas pelo Ministério da Cultura quando o próprio Orlando Senna era secretário do Audiovisual, como o Revelando Brasis (no qual moradores de várias partes do País escrevem e dirigem curtas-metragens com histórias de suas regiões) e o DocTV (documentaristas de cada estado são financiados para revelarem facetas de sua região e os produtos originados daí têm exibição garantida na TV). "O que se vê hoje é uma inversão total. Se vê o Nordeste sob o olhar do Sudeste. Nós queremos mostrar a visão de cada comunidade sobre ela mesma", aponta. A TV Brasil contaria com 40% de produção regional, 40% de produção independente e 20% de produção própria.

Apesar do entusiasmo, a construção da TV ainda vai demorar. O próprio ingresso dela em formato digital, previsto para o fim do ano passado, em São Paulo, foi adiado. "Nos próximos três anos, 90% das casas ainda vão receber captar somente o sinal analógico. Não adianta trabalhar um canal digital que ninguém vai ver". Senna avisa logo: não se monta uma TV em um ano. A previsão é de que a emissora só esteja inteiramente formatada em 2010.


FONTE: O Povo

MÚSICA ERUDITA: FESTIVAL DE INVERNO ABRE INSCRIÇÕES

Estão abertas até o dia 20/3 as inscrições para a seleção de bolsistas para o 39º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, que ocorrerá entre os dias 5 e 27 de julho de 2008. Os candidatos, que devem ter entre 12 e 30 anos, podem se inscrever pelo site www.festivalcamposdojordao.org.br. São oferecidas 148 bolsas.

FONTE: Folha de S. Paulo

Patrocínio de quem e para quem?

Lançado no país no final de 2006, o livro Privatização da Cultura: a intervenção corporativa nas artes desde os anos 80, da pesquisadora taiwanesa Chin-Tao Wu, publicado em parceria pela Boitempo e pelo Sesc de São Paulo, traz uma análise pertinente ao momento histórico do financiamento à Cultura no Brasil hoje, seja ele público ou privado. Na obra, Wu declara, veladamente, sua oposição, ao não poupar adjetivos para caracterizar o neoliberalismo das políticas públicas analisadas, e, em muitos casos, sua hipocrisia.

Politizada, a obra critica as gestões conservadoras e neoconservadoras nos Estados Unidos e Inglaterra, iniciadas nas gestões Reagan e Tatcher, no começo da década de 1980, e continuadas mesmo durante a gestão dos Democratas de Clinton e dos Trabalhistas de Blair, para não dizer aprofundadas. Não que a pesquisadora não aponte diferenças, marcantes, entre os dois modelos de gestão, mas ela deixa claro, a partir de uma completa análise dos investimentos públicos, privados e privados com fomento público ou renúncia fiscal, que o papel fundamental do investimento público à cultura, em particular no modelo inglês, foi abandonado nas décadas de 1980 e 1990.

O livro apresenta um histórico econômico e político da influência do "tatcherismo" e do "reaganismo" nas instituições públicas e privadas de arte, em especial a partir do corte de recursos nas agências de fomento e programas federais de apoio às artes, e da mudança nos gestores destas instituições. Principal atenção, porém, é dada para a questão subjetiva do referendamento, pelo Estado, das ferramentas de investimento e de apoio privado à cultura, mesmo no tocante às instituições públicas. Além de referendarem os cheques privados, os governos em questão, como demonstra a pesquisadora, fizeram mais: deram poder político aos membros das corporações, seja facilitando contatos com membros de outras áreas do governo, como o presidente estadunidense ou a primeira-ministra bretã e a família Real, seja criando agências de fomento ao investimento privado.

Wu colocou-se ainda como crítica às políticas de fomento privado às artes através de mecanismos de renúncia fiscal – a exemplo das leis Rouanet e do Audiovisual, no Brasil, embora se debruçando sobre os modelos estadunidense e bretão. Analisando especialmente o modelo de doações e patrocínios dos museus privados nos Estados Unidos, demonstrou cabalmente como que o que ocorria era outra coisa senão a formação de um órgão que não era mantido diretamente pelo poder público, mas se valia de verbas que são, em última análise, públicas, quando não o são também diretamente. Eram portanto instituições, a exemplo do que críticos apontam como a saída para o Masp hoje, privadas, mas com finalidade, e verbas, públicas.

A autora se detém ainda em entender o caráter subjetivo por trás dos motivos dos executivos de financiarem as artes, ou de levarem as artes para suas corporações, entendendo a questão como uma demonstração de poder simbólico, uma forma de utilizar a arte como instrumento de referendá-los enquanto classe, ao mesmo tempo que garantem uma forma melhor aceita de fazer propaganda, ganhando mercado, ao que analisa casos diversos, em especial na Grã-Bretanha. É incisiva sua crítica à ferramenta publicitária de dar o nome de corporações doadoras ou patrocinadoras a eventos ou alas em museus, por tempo determinado ou não, ação realiza às largas no Brasil nos últimos dez ou quinze anos, e em parte dedutível dos impostos, através da Rouanet e da Lei do Audiovisual. Também analisa o caso de instituições, nas corporações, de fomento às artes e à cultura, a exemplo do que fazem hoje empresas como o Banco do Brasil, o Itaú, o Bradesco, a Petrobrás, etc.

Apesar do quadro, em geral pessimista, traçado pela autora, sua perspectiva final é positiva. Em meio a apontamentos acerca do que fora a política cultural nos primeiros anos da atual década, com uma loteria para a área sendo implantada na Grã-Bretanha, PPPs e o expansionismo de museus e galerias, com suas filiais, Wu vê a possibilidade, remota ainda, de um esgotamento do modelo hegemônico, neoliberal, de exploração da Cultura, especialmente no tocante à dependência das instituições culturais dos recursos corporativos, ou à simpatia de curadores e gestores pelos executivos, e vice-versa.

Enquanto isso, no Brasil
A própria apresentação da versão brasileira da obra abre espaço para as comparações entre os modelos de financiamento analisados e o modelo brasileiro.

Feita pelo diretor regional do Sesc de São Paulo, Danilo Santos de Miranda, presença marcante nos espaços de crítica e controle público do financiamento público à cultura no país, em parte por estar à frente de uma instituição de reconhecida importância pública, apesar de ter caráter privado, na área, a apresentação dá especial importância ao papel do Estado no financiamento e regulamentação dos investimentos na área, como elemento essencial para garantir a democracia.

No questionamento do gestor, coube principalmente a atenção à como conciliar, nas políticas públicas, a capacidade de promover ou facilitar o desenvolvimento de potencialidades de expressão e de inovação com a estrutura administrativa normatizadora do envolvimento da sociedade em si, através destas políticas públicas. Questionou-se ainda o verdadeiro significado da "democracia cultural", sob o prisma, recente, da cultura como meio e fim de cidadania.

Miranda criticou ainda as leis de financiamento via renúncia fiscal, como forma de se apropriar do poder simbólico da arte e da cultura, assim como de fazer propaganda, seguindo os interesses corporativos e privados, ao passo que o Estado deixa de ocupar seu espaço, ao que escreveu que "para preencher as grandes lacunas que restaram com a extinção de órgãos estatais de subsídio à cultura, entram em cena os mecanismos de gestão indireta da cultura – indireta porque emanada do Estado – na facilitação da economia comum da cultura, empregando recursos fiscais públicos, mas sem contrapartida de interesse público".

Para melhor entender este papel, porém, é necessário levar em consideração que foram alocados, através de recursos incentivados, R$ 465.670.749,37 em 2007. O orçamento do Ministério da Cultura, para todas as suas ações, inclusive o Programa Cultura Viva e seus editais de fomento, foi de R$ 569 milhões, no mesmo período, para empenho, dos quais R$ 567 milhões foram gastos. Entre estes recursos, R$ 231.496,553,80 vieram dos dez maiores doadores, na grande maioria empresas estatais, como a Petrobras, responsável por metade do valor. Corporações como o Itaú e o Bradesco estão de fora desta listagem, de cerca de 1.300 colaboradores. Os dados são somente de investimentos de pessoas jurídicas.

A lei Rouanet (8319/91) é o principal mecanismo de apoio no país hoje, sendo classificada pelo Minc como um instrumento de Mecenato, com descontos do valor destinado pelo doador descontado no Imposto de Renda, seja ao fazer uma doação (sem promoção do doador, e para projetos sem fins lucrativos, ou de pessoas físicas) ou patrocínio (com publicidade e sem restrições a propostas de pessoas jurídicas com fins lucrativos). Os percentuais de abatimento se encontram na página do MinC.

Tal estrutura tem sido continuamente criticada, em especial por sua utilização para fins publicitários, como as recentes investidas do Banco Bradesco, ao utilizar uma apresentação artística patrocinada (o Cirque du Soleil) em suas propagandas. Das críticas, promessas de mudança. Em declaração recente, noticiada pela Agência Brasil, o ministro Gilberto Gil chamou atenção para a necessidade de reformular a lei, pois hoje é permitido que as empresas invistam apenas em espetáculos e ações de grande visibilidade, em sua maioria, na Região Sudeste e ao longo do litoral, desconsiderando questões como a distribuição proporcional entre as diversas regiões e o compromisso com a produção artística local. Na Câmara, o Projeto de Lei 1139/07 propõe distribuições proporcional à população das diferentes unidades da federação. O levantamento da Câmara dá conta de que 77% dos recursos empenhados foram destinados à região sudeste.

Outro ponto em discussão é a de que o próprio ministério poderia administrar os recursos oriundos de patrocínio e doações. De 1999 até dezembro de 2007 foram empenhados R$ 4.178.470.303,00. A questão é que não se sabe, ainda, o que poderia ser esta nova Rouanet, ou como equilibrar os investimentos públicos, privados e privados através de leis de renúncia fiscal. O departamento que discute a questão no MinC, o de fomento, responsável entre outras coisas pela criação de um "fórum de investimentos privados em cultura", foi procurado, mas não retornou o contato até o fechamento desta reportagem.


Audiovisual público
Com uma série de políticas públicas exclusivas para o setor do audiovisual, a área tem obtido melhoras ano a ano em número de filmes realizados, recursos levantados, público atraído para as salas e repercussão em festivais, dentro e fora do país. O bom resultado, por sua vez, tem trazido para o setor recursos a mais para toda a cadeia produtiva, atenção do governo, que fortaleceu a Ancine, agência reguladora do setor, nos últimos anos, assim como a Secretaria do Audiovisual, do MinC, e tem fortalecido as produtoras, distribuidoras e exibidoras – tanto as nacionais, pequenas em sua maioria, quanto as multinacionais. Apesar de um aumento gradativo dos investimentos privados que buscam retorno, a área conta ainda e principalmente com investimento público direto e indireto (através de instrumentos de renúncia fiscal para doação e patrocínio, da Lei Rouanet ou semelhantes, na Lei do Audiovisual – 8685/93).

Entre os investimentos incentivados em 2007, com desconto possível no imposto de renda, foram dispendidos R$ 129.645.116,86, dos quais somente da Petrobrás, novamente a maior investidora, foram alocados R$ 18.351.090,79, ambos através dos Artigos 1º e 3º da Lei do Audiovisual, Artigos 18 e 25 da Lei Rouanet, Artigo 39 da MP 2228-1 e Funcines, por empresas nacionais ou não. 2007 também inaugurou os empréstimos do BNDES para o setor, inclusive em salas de exibição e para a distribuição.

Para 2008, espera-se ainda os reflexos da regulamentação, via Instrução Normativa 66 da Ancine, dos chamados programas especiais de fomento para a área, custeados por patrocínios realizados por empresas brasileiras através do artigo 1ºA da Lei do Audiovisual, dedutíveis do Imposto de Renda. No investimento público direto, o Decreto 6.299/2007, assinado em 13 de dezembro último, liberou os primeiros R$ 37 milhões para o Fundo Setorial do Audiovisual (Lei 10.437/2006), cujas diretrizes serão determinadas pelo Conselho Superior de Cinema. Espera-se para 2008 a regulamentação do fundo, também via Instruções Normativas da Ancine.


FONTE: Cultura e Mercado
Por
:
Guilherme Jeronymo, para o 100 Canais

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

NOTA DE PESAR

Ipatinga, 21 de fevereiro de 2008.

Foi com pesar que recebemos a notícia do falecimento do músico Herlon Alves.

Parceiro de datas passadas, Herlon foi um dos músicos de fundamental importância por sua atuação de fortalecimento da cena musical em Ipatinga.

Reconhecemos seu talento, sua sensibilidade e dedicação à música. Uma importante peça da engrenagem musical ipatinguense se vai levando consigo parte de uma história construída nesta cidade.

O Fórum da Cultura de Ipatinga está profundamente entristecido com a perda.

Que toda família receba minhas condolências pela perda irreparável desse ente querido.



Michel Ferrabbiamo
Fórum da Cultura de Ipatinga