quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Nossa aposta: Sara Ramo

Sob intenso foco de curadores brasileiros e estrangeiros, a espanhola radicada em Minas se destaca dentro da nova geração de artistas


Na casa silenciosa onde vive, em Belo Horizonte, a artista Sara Ramo está sob o foco de curadores de diferentes países. Ela acaba de ser apontada como um dos nomes mais promissores da nova geração pela publicação britânica Ice Cream. Considerado um guia das próximas tendências da arte, o livro aponta dez artistas que podem ser decisivos nas próximas décadas. Entre elas, Sara Ramo. Uma escolha nada casual.

Sara é considerada uma das principais representantes de uma nova tendência internacional que começa a chegar ao Brasil: a de artistas "sem-ateliê". Isto é, não existe para eles um espaço de trabalho, como nas gerações passadas. A casa, com a TV, a cozinha, a panela no fogo e o telefone que toca é o lugar para pensar e realizar a arte. Um dos resultados dessa experiência, para esses criadores, é a liberdade de não terem um meio de expressão fixo. Não são pintores, escultores, fotógrafos ou artistas que trabalham com vídeo. Podem ser tudo isso, e ao mesmo tempo. A escolha do formato está submetida à idéia que a obra pede.

Sara é assim. Um exemplo é a instalação O Jardim das Coisas do Sótão, que criou para o Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte, em 2003. O prédio havia sido projetado por Oscar Niemeyer para funcionar como um cassino na década de 1940. Com máquinas de escrever, molduras, ventiladores, holofotes, pedaços de cadeiras e fichas de jogo do antigo cassino, a artista desenhou espaços que remetiam a um jardim. Sara vê a fotografia e o vídeo como bases de sua produção e entre seus ídolos está o brasileiro Hélio Oiticica.
Como videoartista, Sara costuma ser personagem das próprias criações. Entre suas primeiras obras a ganhar projeção, as videoperformances Oceano Possível e Ceia, exibidas em 2003 na exposição bienal Panorama da Arte Brasileira, trazem Sara como única atriz. Na primeira, ela aparece nua e de costas "remando" entre baldes e, em Ceia, subverte ações triviais dentro de uma cozinha. Sua presença (atriz de suas próprias criações) faz dela uma espécie de personagem de seu próprio mundo, no qual seus papéis podem mudar, mas se trata sempre de alguém em meio ao que parecem, de início, cenas e objetos banais.

Sara, aos 32 anos, integra uma geração de artistas que, ao contrário das anteriores, não se vê pressionada a realizar uma arte com "cores brasileiras". Sua imaginação é tão local quanto universal, o que, em seu caso, tem todo o sentido. Ela é uma brasileira nascida em Madri, e uma espanhola que é também uma artista brasileira. E esse jogo entre o nacional e internacional a coloca em sintonia com o que de melhor é produzido hoje, mundialmente, na arte. Assim, ela se aproxima do francês Philippe Parreno, conhecido por ter realizado, ao lado do escocês Douglas Gordon, o documentário Zidane, sobre o jogador francês, além de instalações e filmes.

Filha de uma brasileira e um espanhol, a artista passou boa parte da vida entre Minas e Madrid, até decidir viver em Belo Horizonte em 1998. Ela estudou pintura na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Presentes em exposições e feiras na Europa, América Latina e Estados Unidos, as criações de Sara Ramo poderão ser vistas neste ano em mostras como a Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, de 1º de setembro a 18 de novembro, e a canadense Extra (ordinary) Young Brazilian Contemporary Art. Também em setembro, ela participa da XX Semana del Cine Nacional en La Pampa, na Argentina, onde recentemente esteve em residência artística que resultou no díptico A Aula dos Bichos ou o Jogo dos Sete Erros, revelando materiais retirados do porão da casa onde estava morando. O lar é a arte, e é um universo de oportunidades para Sara Ramo.


FONTE: Bravo!
Por: Maria Lutterbach

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