Dois rapazes vestindo roupões brancos e chuteiras se aquecem no hall do hotel. Não falam. Apenas emitem grunhidos quando o esforço é demais numa flexão no chão ou em uma barra improvisada. Ganham a rua e a simpatia do mais sisudo dos transeuntes, que não contém o sorriso ao ser surpreendido pelas figuraças. A dupla belga do Okidok2, formada por Xavier Bouvier e Benot Devos, foi responsável por alegrar as ruas da capital mineira no fim de semana passada. Eles fazem parte do excelente time selecionado para se apresentar no 4º Festival Mundial de Circo do Brasil, que ocorre até domingo em Belo Horizonte. Quem abriu, com muito brilho, o primeiro dia de festival, na sexta-feira, foi o Circo Roda Brasil, formada a partir da união dos Parlapatões e Pia Fraus, com o espetáculo Stapafúrdyo. “Com o valor de uma cadeira para ver o Cirque du Soleil, você compra uma fileira inteira aqui”, diz o palhaço de Raul Barretto, sob incessantes aplausos. “E viva o circo brasileiro!”
Dessa “escalação” criteriosa, que contou com a derradeira apresentação de Le Vertige du Papillon, o novo circo cheio de cores e poesia dos belgas Cie. Feria Musica, também faz parte o palhaço americano Avner Eisenberg. Ele vai mostrar hoje, às 21 h, Avner The Eccentric, no Teatro Dom Silvério. Avner ganhou projeção internacional após integrar o elenco do longa A Jóia do Nilo (1985), de Lewis Teague, estrelado por Michael Douglas. “Muitas portas se abriram para mim após a participação no filme. Mas todo o dinheiro que ganhei naquela época já se foi. E é por isso que estou aqui”, brinca, aos risos. Ilustra o fato, logo em seguida, com uma mágica: mostra uma moeda entre os dedos e a faz desaparecer numa fração de segundos. “Passei também a evitar mágicas como esta”, emenda o divertido artista.
O festival de circo, idealizado e coordenado por Fernanda Vidigal, Karla Guerra e Juliana Sevaybricker, ocorre bienalmente desde 2001. “Mas promovemos ações contínuas nos anos de intervalo. Em 2002, por exemplo, trouxemos o Leo Bassi para algumas apresentações por aqui”, conta Fernanda. Em seis anos, ela pôde constatar o imenso salto dado pela classe circense. “Naquela época, muitos desacreditavam do nosso projeto, achando que o circo estava prestes a morrer. É claro que ainda não estamos numa situação ideal, mas já podemos ver a profissionalização e o fortalecimento dos artistas, desenvolvendo cada vez mais novos projetos e participando de editais.” Esta edição do festival conta com o patrocínio da Petrobrás e o investimento de cerca de R$ 1 milhão.
Além de uma dezena de atrações que invade diariamente os palcos e as ruas de Belo Horizonte (mais informações em www.fmcircodobrasil.com.br), a 4ª edição do festival também oferece oficinas de palhaço, com Avner, mastro chinês, acrobacia e báscula (espécie de gangorra, em que os artistas ficam em pé e são alçados para o alto alternadamente); uma mostra de filmes que abordam o universo circense, como Noites de Circo (1953), de Ingmar Bergman, às 20 h de amanhã, no Palácio das Artes; o lançamento dos livros O Elogio da Bobagem - Palhaços no Brasil e no Mundo, de Alice Viveiro de Castro, e Circo-Teatro: Benjamim de Oliveira e a Teatralidade Circense no Brasil, de Ermínia da Silva; um seminário que propõe a discussão do papel das escolas circenses, uma exposição com 20 expressivas fotos de Adi Leite, no Palácio das Artes, e o Cabaré do Festival de Circo, festa que ocorre amanhã na Funarte.
Fábio Francisco Santos Bonfim, de 26 anos, foi um dos participantes da oficina de báscula, ministrada pelo francês Paolo Galinski. Circense há 13 anos, ele sonha um dia ser tão valorizado no Brasil como foi na Europa em 2000, quando realizou uma turnê de quatro meses com o grupo One Thousand Faces, formado por artistas de outros cinco países. “Me senti como um astro do futebol. Saíamos dos teatros e as pessoas vinham pedir autógrafos. Espero que um dia sejamos mais valorizados aqui e que tenhamos incentivo”, diz Bonfim. O aluno formado pela Escola Picolino de Salvador vai apresentar números dentro do Espetáculo de Variedades amanhã, às 16 h, na Praça da Assembléia, e domingo, às 11 h, no Parque Municipal. Juntam-se a ele integrantes da Intrépida Trupe, Acromala, Cie. Pourquoipas? e alunos da Spasso Escola Popular de Circo, entre outros.
Enquanto o apoio do governo não vem, exemplos como o do professor de báscula e acrobacia, Galinski, proliferam a custo de muito suor - e, claro, amor ao circo: há dez anos ele conseguiu subir uma lona com capacidade para 300 pessoas no Vale do Capão, na Chapada Diamantina, Bahia. “Funciona como um espaço cultural. Atendemos a população da região oferecendo mostra de filmes, cursos de dança, teatro e circo”, conta. Em troca de comida e estadia, amigos circenses que Galinski fez cinco anos antes em Salvador, como o próprio Bonfim, ministram oficinas gratuitas aos moradores do local, que antes não tinham sequer acesso à cultura.
FONTE: Estado de São Paulo
Dessa “escalação” criteriosa, que contou com a derradeira apresentação de Le Vertige du Papillon, o novo circo cheio de cores e poesia dos belgas Cie. Feria Musica, também faz parte o palhaço americano Avner Eisenberg. Ele vai mostrar hoje, às 21 h, Avner The Eccentric, no Teatro Dom Silvério. Avner ganhou projeção internacional após integrar o elenco do longa A Jóia do Nilo (1985), de Lewis Teague, estrelado por Michael Douglas. “Muitas portas se abriram para mim após a participação no filme. Mas todo o dinheiro que ganhei naquela época já se foi. E é por isso que estou aqui”, brinca, aos risos. Ilustra o fato, logo em seguida, com uma mágica: mostra uma moeda entre os dedos e a faz desaparecer numa fração de segundos. “Passei também a evitar mágicas como esta”, emenda o divertido artista.
O festival de circo, idealizado e coordenado por Fernanda Vidigal, Karla Guerra e Juliana Sevaybricker, ocorre bienalmente desde 2001. “Mas promovemos ações contínuas nos anos de intervalo. Em 2002, por exemplo, trouxemos o Leo Bassi para algumas apresentações por aqui”, conta Fernanda. Em seis anos, ela pôde constatar o imenso salto dado pela classe circense. “Naquela época, muitos desacreditavam do nosso projeto, achando que o circo estava prestes a morrer. É claro que ainda não estamos numa situação ideal, mas já podemos ver a profissionalização e o fortalecimento dos artistas, desenvolvendo cada vez mais novos projetos e participando de editais.” Esta edição do festival conta com o patrocínio da Petrobrás e o investimento de cerca de R$ 1 milhão.
Além de uma dezena de atrações que invade diariamente os palcos e as ruas de Belo Horizonte (mais informações em www.fmcircodobrasil.com.br), a 4ª edição do festival também oferece oficinas de palhaço, com Avner, mastro chinês, acrobacia e báscula (espécie de gangorra, em que os artistas ficam em pé e são alçados para o alto alternadamente); uma mostra de filmes que abordam o universo circense, como Noites de Circo (1953), de Ingmar Bergman, às 20 h de amanhã, no Palácio das Artes; o lançamento dos livros O Elogio da Bobagem - Palhaços no Brasil e no Mundo, de Alice Viveiro de Castro, e Circo-Teatro: Benjamim de Oliveira e a Teatralidade Circense no Brasil, de Ermínia da Silva; um seminário que propõe a discussão do papel das escolas circenses, uma exposição com 20 expressivas fotos de Adi Leite, no Palácio das Artes, e o Cabaré do Festival de Circo, festa que ocorre amanhã na Funarte.
Fábio Francisco Santos Bonfim, de 26 anos, foi um dos participantes da oficina de báscula, ministrada pelo francês Paolo Galinski. Circense há 13 anos, ele sonha um dia ser tão valorizado no Brasil como foi na Europa em 2000, quando realizou uma turnê de quatro meses com o grupo One Thousand Faces, formado por artistas de outros cinco países. “Me senti como um astro do futebol. Saíamos dos teatros e as pessoas vinham pedir autógrafos. Espero que um dia sejamos mais valorizados aqui e que tenhamos incentivo”, diz Bonfim. O aluno formado pela Escola Picolino de Salvador vai apresentar números dentro do Espetáculo de Variedades amanhã, às 16 h, na Praça da Assembléia, e domingo, às 11 h, no Parque Municipal. Juntam-se a ele integrantes da Intrépida Trupe, Acromala, Cie. Pourquoipas? e alunos da Spasso Escola Popular de Circo, entre outros.
Enquanto o apoio do governo não vem, exemplos como o do professor de báscula e acrobacia, Galinski, proliferam a custo de muito suor - e, claro, amor ao circo: há dez anos ele conseguiu subir uma lona com capacidade para 300 pessoas no Vale do Capão, na Chapada Diamantina, Bahia. “Funciona como um espaço cultural. Atendemos a população da região oferecendo mostra de filmes, cursos de dança, teatro e circo”, conta. Em troca de comida e estadia, amigos circenses que Galinski fez cinco anos antes em Salvador, como o próprio Bonfim, ministram oficinas gratuitas aos moradores do local, que antes não tinham sequer acesso à cultura.
FONTE: Estado de São Paulo
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