quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Respeitável público!

Um enorme picadeiro fragmentado poderia ser usado como metáfora para definir a cara que Belo Horizonte vai tomar, a partir de sexta-feira próxima até o dia 2 de setembro. Sede do 4º Festival Mundial de Circo do Brasil, a cidade vai ter sua rotina cultural e - por que não? - social alterada pela presença de companhias e artistas circenses de várias partes do país e do mundo, que vão levar ao público daqui atrações e espetáculos que honram uma das mais antigas artes que a humanidade tem conhecimento - pesquisa encampada pelo Ministério da Cultura demarca os primórdios da cultura circense em 4.000 a. C., tendo como base pinturas rupestres descobertas na China em que aparecem acrobatas, contorcionistas e equilibristas.

Não é exagero dizer que a quarta edição do festival vai, de fato, mudar a rotina belo-horizontina. Ao contrário dos três anos anteriores, o evento não vai montar sua lona num só lugar e ali permanecer. Durante dez dias, espetáculos nacionais e internacionais de circo, mostra internacional de números circenses de lona e rua, filmes, exposição fotográfica, seminário e oficinas vão ocupar 19 pontos diferentes da cidade, num projeto de descentralização que é o grande diferencial do Mundial de Circo deste ano. "Nós sentimos a necessidade daquela famosa frase: ir aonde o povo está. Desde a primeira edição do evento, nos focamos em um só lugar, que chamávamos de Cidade do Circo. O público sempre compareceu, mas ainda assim achamos importante poder levar os espetáculos ao maior número possível de lugares e, conseqüentemente, de pessoas. O que queremos é que o circo realmente entre na cidade", diz Fernanda Vidigal, uma das organizadoras do Festival Mundial de Circo.

Nos dez dias de evento, o público belo-horizontino vai poder ter uma visão ampla do que é o circo. "Estamos percebendo, cada vez mais, que o circo retoma força na nossa cultura. E também está se adaptando a novas tecnologias que facilitam todas aquelas artimanhas e maluquices que acontecem no picadeiro, está bebendo em outras fontes artísticas, como sempre bebeu, mas agora com uma outra leitura. Respeitando toda a tradição, que, sem ela, nada disso estaria acontecendo hoje, outro diferencial da edição deste ano é centrar foco na produção contemporânea de circo", adianta Fernanda, creditando parte dessa renovação da linguagem circense ao crescente interesse de se pesquisar, estudar e praticar circo. "Há, atualmente, muitas escolas que estão formando novos artistas e esses estão trazendo uma visão nova para a arte circense. Hoje, dificilmente se vê um espetáculo que não se preocupe com a dramaturgia, com a trilha, com o figurino. O circo é, hoje, pensado como um todo", acrescenta Fernanda.

Nessa perspectiva contemporânea de se desenvolver a lida circense destacam-se algumas partes do mundo. "As três principais escolas de circo do mundo são Canadá, Bélgica e França. São esses países que mais produzem, pensam e renovam o circo", avalia a organizadora. Uma boa amostragem do que esses países fazem poderá ser conferida por meio de espetáculos como "Le Vertige du Papillon", da Cia. Feria Música, e "Intervenção Urbana: Slips Experiences", da Okidok2, ambos de origem belga. Vale destacar, ainda, o Circo Nacional da China, que se debruça sobre a tradição.

Voltando os olhos para a produção nacional, artistas de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, entre outras cidades, vêm mostrar que o Brasil está antenado e preocupado em cultivar a arte circense. E Belo Horizonte, nesse sentido, também tem rendido bons frutos e multiplicadores. "Na programação do evento, há muitos jovens talentos que são daqui que vão apresentar números de altíssima qualidade. Queremos também ser vitrine para a produção circense da cidade", afirma Fernanda, lembrando que dois dos representantes belo-horizontinos, Diogo Dolabella e Luis Sartori do Vale, hoje estão atuando em companhias da Bélgica.

Mas não é só de espetáculo que o 4º Festival Mundial de Circo é feito. Como suporte - e até alicerce - do momento glamouroso que é o encontro dos artistas com o espectador, o evento vai oferecer ao público mostra de filmes, lançamento de livros, oficinas, seminário que pretendem divulgar um outro lado da arte circense, daquele que envolve labuta, dedicação e preparação. "Na exposição fotográfica, produzida pelo fotojornalista Adi Leite, podemos ver congelados momentos e ângulos que não havíamos percebido. Ele fez uma grande viagem pelo interior do Brasil e trouxe imagens que revelam esse outro lado. Também há documentários que mostram o que nós nem imaginamos o que é: o dia-a-dia de uma família mambembe, que vive de montar a lona e não sabe nem onde vai morar na semana seguinte; a educação das crianças dessas famílias", diz Fernanda. "O seminário, as oficinas, todos esses eventos fora os espetáculos são, na verdade, para mostrar o lado que não é o mágico, para ajudar a pensar e aproximar esse universo que é tão distante da nossa realidade", pontua.


FONTE: O Tempo
Por: Liliane Pelegrini

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