terça-feira, 21 de agosto de 2007

Para sacudir a poeira


Até meados de 2004, o carioca André Garcia podia contar nos dedos de uma mão os sebos que conhecia. Quando se de parou com a extensa bibliografia do curso de mestrado, não imaginava que a pesquisa em lojas antigas acabaria por se tornar um negócio. Criador de um portal que reúne 635 sebos de 19 estados, Garcia, de 29 anos, hoje coordena a venda de mais de 1 milhão de títulos.

Inaugurado em outubro de 2005, o Estante Virtual (www.estantevirtual.com.br), mescla ferramenta de busca e comércio eletrônico. A idéia de concentrar o maior número de sebos em um só lugar surgiu quase sem querer. Formado em administração de empresas, Garcia preparava-se para cursar psicologia social e foi atrás de livros como Mal-estar na Civilização, de Sigmund Freud, e o esgotado As Armadilhas da Exclusão, de Robert Castel.

Entrou em algumas lojas, grifou nomes na lista telefônica. Em vão. Sem tempo para bater de porta em porta, optou por uma pesquisa virtual, igualmente desanimadora. Encontrou apenas seis sebos que faziam vendas on-line e uma série de páginas rudimentares, algumas com endereço e telefone, outras só com e-mail. “Escrever e esperar o retorno era algo pouco prático”, diz. Surgiu assim a idéia do portal.

Garcia passou a fazer contato com sebos e bolar ferramentas de busca. Tímida, a estréia do Estante Virtual contava com 12 livrarias e menos de 5 mil exemplares. No primeiro mês, foram vendidos, em média, dois livros por dia. Em junho deste ano, as compras diárias alcançaram 1,3 mil títulos. Com mais de 80 mil leitores cadastrados, as vendas, até março de 2007, somaram 2 milhões de dólares.

Além de títulos antigos e esgotados, alguns sebos trabalham com edições novas e saldos de editoras grandes, como a Record e a Rocco. É possível encontrar volumes novos de Estorvo, de Chico Buarque, por 15 reais ou O Senhor das Horas, de Autran Dourado, por 12 reais.

Entre os usados, Cem Anos de Solidão ou A Sangue Frio, alguns dos mais procurados no site (lista ao lado), podem ser adquiridos, em média, por 15 reais, sem contar o preço do sedex. Novos, em uma grande livraria, sairiam por volta de 50 reais.

“Já nos apelidaram de google dos sebos”, compara Garcia. Não sem razão. Em um país com um dos índices de leitura mais baixos do mundo (segundo pesquisa da Câmara Brasileira do Livro, realizada em 2001, o brasileiro lê 1,8 livro por ano), os sebos localizados em cidades afastadas dos grandes centros e das megalivrarias limpam a poeira das estantes com a ajuda do site. De acordo com a primeira pesquisa realizada pelo portal, as lojas aumentaram as vendas em cerca de 35%.

Em alguns casos, a média é ultrapassada, como contam os gaúchos Carlos Burigo e Simone Couto, donos do Sebo Café, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Burigo estuda filosofia e conheceu o site quando buscava Fundamentos da Moral, de Schopenhauer, para ele próprio. Encontrou um exemplar em São Paulo. “Nos inscrevemos em seguida. Hoje, de 60% a 70% do negócio é pelo Estante Virtual”, diz Simone. Com 13 mil títulos, o Sebo Café vende cerca de 120 livros por mês.


FONTE: Carta Capital
Por: Ana Luísa Vieira

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