Não vem da Bahia, muito menos da periferia carioca ou das rodas de pagode paulista o ritmo que começa a embalar boa parte dos jovens de Belo Horizonte. A sonoridade que tem mexido com a cabeça de adolescentes de classe média mineira surgiu na África, trazida pelos escravos e quase se perdeu por aqui ao longo dos séculos devido ao preconceito ou à falta de incentivo. Graças a uma geração de artistas formada por nomes como Maurício Tizumba, Milton Nascimento, Titane, Marina Machado, Tambolelê, Anthonio e Ana Cristina, interessados em ampliar e difundir os sons dos antepassados usados até então nas cerimônias religiosas dos congados, os tambores começaram a conquistar público que, até então, nem sonhava sair por aí dançando ao ritmo afro.
“Tentamos divulgar essa onda do congado para passar ao país a importância da cultura dos negros”, explica o estudante de psicologia Fabiano Menezes. Há quatro anos, o jovem de 21 anos foi levado pela mãe, Danuza Menezes, para participar de oficina de congado. “Me apaixonei logo de cara. Aqui não tem importância cor ou raça, o que interessa é nossa união, que acontece pela energia do batuque.” Assim como ele, legião de jovens tem lotado as apresentações dos artistas em espaços nobres da capital, como o Grande Teatro do Palácio das Artes ou casas noturnas como a Utópica Marcenaria, para entoar canções como Canto de Moçambique (Olelê, tilelê, tileleô...). A música virou espécie de hit da nova geração. Junto à música, veio a dança, formada por passos ritmados inspirados nas rodas dos congadeiros.
O cantor Maurício Tizumba credita à necessidade de retorno às raízes a principal causa da sonoridade que tem conquistado parte dos jovens. “Os ritmos dos tambores de Minas são quase mântricos. Falam dentro de nós e fazem bem à alma. O tambor é a coisa mais primitiva que conheço.” Ao contrário de outros artistas que se inspiram na cultura afro para fazer música, Tizumba nasceu dentro desse universo. No Bairro Aparecida, em Belo Horizonte, aprendeu a valorizar o legado dos antepassados e a força da religiosidade por trás do som dos tambores. Ao levar essa realidade para público mais amplo e fora do contexto original, ele propõe uma troca. “Não só tiro esses cânticos como devolvo outros que invento em forma de homenagens aos congadeiros, em músicas como Grande anganga muquichi, feita para o capitão João Lopes, do Vale do Jatobá.”
Não existe consenso na transposição das influências dos ritmos religiosos para o universo da música popular. “Uso com respeito e acredito na força do Rosário”, defende-se Tizumba. Segundo ele, a intenção não é carnavalizar, e sim valorizar a cultura afro. “O som do tilelê é algo mais introspectivo, voltado para dentro e menos frenético que tambores como o da Bahia. Já a dança que emerge quando tocamos vem de alguns passos do congado que as pessoas observam e repetem”, explica. A percussionista Raquel Coutinho faz questão de separar o movimento urbano inspirado no congado da proposta religiosa. “O movimento tilelê significa alegria, encontro, vibração. É o momento de dançar e se divertir. Daí vem a onda tilelê. Não deve ser visto como modismo”, salienta.
A cantora acha maravilhosa a apropriação da linguagem realizada pelos artistas mineiros e a utilização nos repertórios de MPB. “A sonoridade é encantadora. Percebo não só jovens sendo influenciados, como crianças e adultos. Estão vibrando. Acredito que o tambor tem esta função de mexer com os pés das pessoas.” A estudante de educação física Mariana de Almeida Zani é um exemplo. “Não sei explicar com palavras o que sinto ao ouvir o som ou ao tocar os tambores. Além de achar muito bonita a vibração, ela contagia.” O que começou de forma tímida, a estudante percebe que ampliou horizontes. “Tem crescido bastante o movimento. Esses artistas estão conseguindo levar o tambor para o mundo”, comemora.
FONTE: Estado de Minas
Por: Sérgio Rodrigo Reis
“Tentamos divulgar essa onda do congado para passar ao país a importância da cultura dos negros”, explica o estudante de psicologia Fabiano Menezes. Há quatro anos, o jovem de 21 anos foi levado pela mãe, Danuza Menezes, para participar de oficina de congado. “Me apaixonei logo de cara. Aqui não tem importância cor ou raça, o que interessa é nossa união, que acontece pela energia do batuque.” Assim como ele, legião de jovens tem lotado as apresentações dos artistas em espaços nobres da capital, como o Grande Teatro do Palácio das Artes ou casas noturnas como a Utópica Marcenaria, para entoar canções como Canto de Moçambique (Olelê, tilelê, tileleô...). A música virou espécie de hit da nova geração. Junto à música, veio a dança, formada por passos ritmados inspirados nas rodas dos congadeiros.
O cantor Maurício Tizumba credita à necessidade de retorno às raízes a principal causa da sonoridade que tem conquistado parte dos jovens. “Os ritmos dos tambores de Minas são quase mântricos. Falam dentro de nós e fazem bem à alma. O tambor é a coisa mais primitiva que conheço.” Ao contrário de outros artistas que se inspiram na cultura afro para fazer música, Tizumba nasceu dentro desse universo. No Bairro Aparecida, em Belo Horizonte, aprendeu a valorizar o legado dos antepassados e a força da religiosidade por trás do som dos tambores. Ao levar essa realidade para público mais amplo e fora do contexto original, ele propõe uma troca. “Não só tiro esses cânticos como devolvo outros que invento em forma de homenagens aos congadeiros, em músicas como Grande anganga muquichi, feita para o capitão João Lopes, do Vale do Jatobá.”
Não existe consenso na transposição das influências dos ritmos religiosos para o universo da música popular. “Uso com respeito e acredito na força do Rosário”, defende-se Tizumba. Segundo ele, a intenção não é carnavalizar, e sim valorizar a cultura afro. “O som do tilelê é algo mais introspectivo, voltado para dentro e menos frenético que tambores como o da Bahia. Já a dança que emerge quando tocamos vem de alguns passos do congado que as pessoas observam e repetem”, explica. A percussionista Raquel Coutinho faz questão de separar o movimento urbano inspirado no congado da proposta religiosa. “O movimento tilelê significa alegria, encontro, vibração. É o momento de dançar e se divertir. Daí vem a onda tilelê. Não deve ser visto como modismo”, salienta.
A cantora acha maravilhosa a apropriação da linguagem realizada pelos artistas mineiros e a utilização nos repertórios de MPB. “A sonoridade é encantadora. Percebo não só jovens sendo influenciados, como crianças e adultos. Estão vibrando. Acredito que o tambor tem esta função de mexer com os pés das pessoas.” A estudante de educação física Mariana de Almeida Zani é um exemplo. “Não sei explicar com palavras o que sinto ao ouvir o som ou ao tocar os tambores. Além de achar muito bonita a vibração, ela contagia.” O que começou de forma tímida, a estudante percebe que ampliou horizontes. “Tem crescido bastante o movimento. Esses artistas estão conseguindo levar o tambor para o mundo”, comemora.
FONTE: Estado de Minas
Por: Sérgio Rodrigo Reis
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